MENSAGEM NA GARRAFA
Música e outras coisas

MENSAGEM NA GARRAFA





Vontade inconclusa de pertencimento

De usufruir do incomunicável repouso

De celebrar as intimidades profanas

De vislumbrar os fugazes contornos

De partilhar os hálitos

Vontade inconclusa de remissão

De trocar a esterilidade argilosa da conveniência

Pelo risco prenhe de sentido

Pela plêiade de sensações

Pela tréplica física do gozo

Pela cumplicidade elementar

Vontade inconclusa de atirar os objetos pelo chão

De correr desamarrado pela chuva

De ouvir os cânticos festivos

De rechaçar o tédio insidioso

De espanar a ferrugem da alma

De abolir a convivência enfadonha

Vontade inconclusa...

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O hoje pouco lembrado Leo Parker, nascido no dia 18 de abril de 1925, em Washington – DC, foi um dos mais talentosos baritonistas surgidos nos anos 40. Ao lado de Serge Challoff, Cecil Payne e Sahib Shihab, Parker pertence à primeira geração do bebop. Seu primeiro instrumento foi o sax alto, que aprendeu a tocar na ainda adolescência.

Foi tocando o sax alto que ele fez a sua primeira gravação, acompanhando o lendário Coleman Hawkins, em fevereiro de 1944, na célebre gravação de “Woody ’N You”, de Dizzy Gillespie, e que é considerada um marco na história do jazz moderno. Além de Parker e Hawkins, participaram da sessão Dizzy Gillespie, Don Byas, Clyde Hart, Oscar Pettiford e Max Roach, com arranjos elaborados por Budd Johnson.

Em dezembro daquele ano, Parker trocou o alto pelo barítono, após ser contratado por Billy Eckstine para integrar a sua big band, onde permaneceria até o final do ano seguinte. Na orquestra, ele encontrou algumas almas gêmeas musicais, como Dexter Gordon, Sonny Stitt e Gene Ammons. Os quatro formavam os “Unholy Four”, malucos e talentosos em igual medida e Parker, mais novo dos quatro, era carinhosamente chamado de “The Kid”.

A banda de Eckstine podia ser considerada um verdadeiro Estado-Maior do bebop, pois além dos músicos anteriormente citados, em suas hostes se perfilavam, ainda, luminares como Charlie Parker, Fats Navarro, Dizzy Gillespie e Art Blakey, apenas para nominar alguns. Leo tornou-se amigo de Gillespie e em 1946 fez parte do grupo do trompetista de bochechas colossais.

Em seguida, Parker passaria pela banda de Illinois Jacquet, entre 1947 e 1948, além de participar de gravações sob a liderança de Tadd Dameron, Fats Navarro, Bud Powell, J. J. Johnson, Charlie Rouse, Stan Getz, Teddy Edwards, Trummy Young, Wardell Gray, Kai Winding, Sarah Vaughan, Miles Davis, Gene Ammons e Sir Charles Thompson. Com este último, compôs “Mad Lad”, que chegou a fazer um relativo sucesso e foi lançada em disco pela Apollo Records, em julho de 1947.

Outra composição de Parker, “Settin’ The Pace”, em parceria com Dexter Gordon, se converteria em um pequeno clássico do jazz. Aos 22 anos, em dezembro de 1947, Leo realiza suas primeiras gravações como líder, para a Savoy. O disco de 78 rotações continha duas músicas, “El Sino” e “Wild Leo”, e contou com a participação de Gordon.

No início da década de 50, Parker, assim como vários outros músicos ligados ao bebop, padecia de uma grave dependência química. Durante os próximos anos ele travaria uma intensa guerra contra o vício em heroína, que lhe devastaria a saúde e lhe traria severos prejuízos à promissora carreira. Em 1954 ele se afastou da música, alegando problemas pulmonares e praticamente não gravou, apresentando-se muito esporadicamente em clubes da região de Washington.

Em 1961, o produtor Alfred Lion ofereceu a Parker a chance de sair da obscuridade, contratando-o para lançar um álbum pela Blue Note, “Let Me Tell You ‘Bout It”. O disco foi gravado em sessão única, no dia 09 de setembro, com engenharia de som do mago Rudy Van Gelder e serve como um formidável mostruário das capacidades do saxofonista, cuja formação musical agrega elementos de R&B, blues, soul, gospel e jazz em igual medida.

O acompanhamento ficou a cargo de músicos bem pouco conhecidos, mas com vasta quilometragem em palcos e estúdios: Bill Swindell (tocou com Lionel Hampton, Lucky Millinder e Trummy Young) no saxofone tenor, John Burks (oriundo das bandas de Johnny Hodges, Louis Bellson e Eddie “Cleanhead” Vinson) no trompete, Yusef Salim (com passagens pelos grupos de Mongo Santamaria e Cannonball Adderley) no piano, Stan Conover (trabalhou ao lado de Arnett Cobb, Gene Ammons e Eddie Harris) no contrabaixo e Purnell Rice (esteve na orquestra de Count Basie e nas bandas de Hal Singer e Dakota Staton) na bateria.

O disco é um caleidoscópio de influências, indo desde o bebop feérico de “Glad Lad” (tema de autoria do líder, que brilha em duelos com o não menos intrépido Burns) ao blues taciturno de “Blue Leo”, parceria de Parker com o grande Ike Quebec. Nesta, a sonoridade gutural do líder se impõe de maneira onipresente, como um doloroso e exasperado lamento.

Ainda navegando pelas pantanosas águas do blues e do gospel, o quinteto apresenta a lancinante “Let Me Tell You 'Bout It”, de Robert Lewis. Com um arranjo que evoca as bandas de rua de Nova Orleans e uma cadência marcial, o tema possui a eloqüência de um sermão, sendo que os sopros em uníssono, o contrabaixo fantasmagórico de Conover e a bateria imponente de Rice conferem-lhe uma incontestável dignidade.

O mesmo Robert Lewis assina “VI”, um tema incisivo e vibrante, no qual se pode ouvir com nitidez o som opulento de Parker, a riqueza do seu fraseado e a velocidade com que costura os acordes. O piano nervoso de Salim e as intervenções eletrizantes de Swindell são outros pontos altos desta faixa. “Parker’s Pals é um hard bop pulsante e musculoso, na linha de Horace Silver, e apresenta um ótimo trabalho de Rice com as escovas e atuações de tirar o fôlego de Swindell e do líder, que assina o tema.

O pianista é o autor de “Low Brown”, soul jazz devastador, com uma batida infecciosa e uma levada irresistível. É um tema simples, baseado em poucos acordes, que lembra a estrutura do hit “The Sidewinder”, de Lee Morgan. Os improvisos de Parker são voluptuosos, ricos em idéias e extremamente dinâmicos. As intervenções de Burks, rápidas e inflamadas, também chamam a atenção.

A explosiva “TCTB” é uma composição de Parker e Swindell, baseada nas harmonias de “Sweet Georgia Brown”. O curioso título vem das iniciais de “Taking Care of the Business” e o sexteto faz exatamente isso: toma conta dos negócios com precisão, ousadia e muito swing, com direito a uma esperta citação a “Bebop”, de Dizzy Gillespie. Saxofones barítono e tenor duelam como dois alucinados e acrescentam à receita doses cavalares de histamina.

O cd traz duas faixas-bônus, que não foram incluídas no LP original: a trepidante “The Lion’s Roar”, de Parker e Russell Jacquet, e uma versão estendida de “Low Brown”, com quase nove minutos de duração. Scott Yanow, do site Allmusic, deu ao disco quatro merecidas estrelas e afirma que nesta gravação o saxofonista se encontra “no auge de sua forma e rodeado de músicos inspirados”.

Pouco mais de um mês depois desta sessão, o saxofonista voltaria ao estúdio de Van Gelder para gravar “Rollin’ With Leo”, seu segundo álbum para a Blue Note. Swindell e Burks permanecem, mas a sessão rítmica é outra: Al Lucas no contrabaixo, Johnny Acea no piano e Wilbert Hogan na bateria (Stan Conover e Puenel Rice tocam em duas faixas apenas). A fraca repercussão do disco anterior fez com que a gravadora segurasse o lançamento de “Rollin’ With Leo” por inexplicáveis vinte e cinco anos e somente em 1986 o álbum chegou ao mercado.

Infelizmente, muito tarde para que Parker obtivesse um reconhecimento minimamente proporcional ao seu gigantesco talento. Ele faleceu no dia 11 de fevereiro de 1962, em Nova Iorque, em decorrência de um ataque cardíaco. Tinha apenas 36 anos e, na abalizada opinião do crítico britânico Richard Cook, era “um dos melhores baritonistas do bebop”.

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