A QUARTA PESSOA DO SINGULAR
Música e outras coisas

A QUARTA PESSOA DO SINGULAR




Oh! tecelão inepto de afazeres obscuros,

Vejo-te a aguar o jardim desertificado de tantas dores,

Observo-te a mourejar por sobre a hiléia amarfanhada,

Admiro a tua pertinácia improdutiva

As plantas moribundas desafiam a tua convicção

Zombam do teu empenho

Insistem em negar-te o viço que tanto anseias...

Passeando por entre as touceiras inertes,

Desafias a inclemência do sol,

A insensibilidade das chuvas,

A pachorra do vento...

Mas teu jardim é infecundo,

Nele brota apenas aquela concórdia intuitiva e resignada,

Desabrocham ali somente guirlandas de espinho,

Anti-flores soturnas e vãs

Me compadeço do teu labor insensato,

Mas não esmoreces e nem refreias o ímpeto,

Continuas a arrochar as cravelhas do alaúde,

Mesmo estando ele sem as cordas,

Continuas a polir os velhos coturnos,

Embora saibas que não há efemérides

Nem diplomas ou medalhas,

Nem apertos de mão,

Comove-me a tua hermenêutica singela,

Apraz-me a tua dignidade burlesca,

Seduz-me o teu discurso calado e sem verbo

Porque no fundo,

Sou como tu e vivo da mesmíssima maneira

Rego um jardim sem flores,

Afino um instrumento que não produz som algum,

Lubrifico as armas para o combate que jamais travarei,

Executo o mesmo ofício de desesperança

Percorro a mesma jornada fragmentária

E o teu caminhar por entre as vastidões inanimadas

Repercute nos passos que são meus

Oh! agricultor da fome,

Oh! menestrel do silêncio,

És a quietude impávida da tarde lustrosa

És o meu reflexo convulsivo,

Pátina esmaecida cujo tônus escorre ainda

Por entre os desvãos imaginários do espelho que me fita.


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Frank Anthony Peter Vincent Monterose Jr. ou, simplesmente, J. R. Monterose, nasceu em Detroit, no dia 19 de janeiro de 1927, mas foi criado em Utica, estado de Nova Iorque, onde tomou as primeira lições musicais aos treze anos. Saxofonista tenor que também utilizava regularmente o soprano, suas primeiras influências foram Coleman Hawkins, Chu Berry e Tex Beneke. Profissionalizou-se no final da década de 40, tocando em diversas orquestras de baile. Uma das vozes mais originais do hard bop, é pouco conhecido do grande público mas extremamente respeitado por seus pares, em virtude do seu sopro ao mesmo vigoroso e altamente melódico.

Juntou-se por algum tempo à orquestra de Buddy Rich entre 1951 e 1952. Posteriormente, integrou as orquestras de Claude Tornhill, Teddy Charles e Eddie Bert. Em 1956 juntou-se a Charles Mingus, com quem gravaria o celebrado “Pithecanthropus Erectus”, e, em seguida, tocou com os Jazz Prophets de Kenny Dorham, tendo participado do fabuloso “Round About Midnight At Cafe Bohemia”. Morou na Europa entre as décadas de 70 e 80 e permaneceu em atividade até a morte, em de 1993. Embora não tenha construído uma discografia vasta, seus álbuns primam pela alta qualidade e seu fraseado remete ao Sonny Rollins do início da década de 50, com quem sempre foi bastante comparado.

Lançou, em 1956, o fabuloso “J. R. Monterose”, pela Blue Note. Acompanham o saxofonista Ira Sullivan (t), Horace Silver (p), Wilbur Ware (b) e Philly Joe Jones (bt). Músico de elaboradas concepções harmônicas, Monterose gravou, em 1956, um dos melhores álbuns de hard bop de todos os tempos. Secundado por um dos pais do estilo, o pianista Horace Silver, e por um dos mais aplicados discípulos de Fats Navarro, Ira Sullivan, além de uma sessão rítmica exuberante, o saxofonista encontra um terreno bastante fértil para expor as suas idéias ousadas, como na fragmentária “Wee Jay”, de sua autoria. O incandescente diálogo entre o líder e Sullivan em “Bobbie Pin” é outro momento memorável. Em “The Third”, de Donald Byrd, Jones executa um extraordinário trabalho com os pratos, enquanto Silver comete um dos solos mais brilhantes do álbum. Indispensável.




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