A HISTÓRIA DOS FESTIVAIS DE JAZZ, por José Domingos Raffaelli
Música e outras coisas

A HISTÓRIA DOS FESTIVAIS DE JAZZ, por José Domingos Raffaelli





A música conhecida como jazz sempre teve um significado indefinido para o público brasileiro. A escassez de informações, divulgação precária, desinteresse da imprensa e raros lançamentos fonográficos entre nós foram durante muitos anos fatores negativos que impediam o público em geral de tomar conhecimento de um gênero musical de aceitação cada vez maior em outros países. Somente a partir de 1974 as coisas começaram a mudar através de uma avalanche cada vez mais crescente de lançamentos de jazz, culminando por ocasião do I Festival de Jazz São Paulo-Montreux realizado em setembro de 1978, movimentando uma centena de músicos e 50 mil espectadores durante oito dias numa maratona sem precedentes.


Nesse festival apresentaram-se Dizzy Gillespie, Benny Carter, University of Texas Big Band, Astor Piazzolla, Jazz at the Philarmonic (com Roy Eldridge, Harry Edison, Milt Jackson, Zoot Sims, Jimmy Rowles, Ray Brown e Mickey Roker), Luiz Eça & Hélio Delmiro, Victor Assis Brasil, Raul de Souza, Frank Rosolino, George Duke, Larry Coryell & Philip Catherine, Stan Getz, Rio Jazz Orquestra, Chick Corea, Ahmad Jamal, John McLaughlin, Márcio Montarroyos e Etta James.

Descobriu-se, então, que havia público para uma realização desse porte. A repercussão do evento proporcionou sua segunda edição em 1980. Em agosto do mesmo ano realizou-se o Rio Jazz Monterey Festival no Rio de Janeiro, apresentando-se Pat Metheny, Weather Report, McCoy Tyner, American-Brazilian All Stars (Clark Terry, Slide Hampton, Victor Assis Brasil, Jeff Gardner, Paulo Russo e Claudio Caribé), Al Jarreau, George Duke & Stanley Clarke, Chaka Khan e outros.




Posteriormente, surgiram no Brasil o Free Jazz Festival (depois intitulado TIM Jazz Festival), o Heineken Concerts, o Chivas Jazz Festival e outros de menor repercussão. De alguns anos a esta parte algumas cidades menores passaram a promover festivais de jazz patrocinados pelas respectivas prefeituras: Búzios, Ouro Preto, Rio das Ostras, Itatiaia, etc.

O início da história dos festivais de jazz remonta a agosto de 1948, quando o primeiro evento foi realizado em Nice, na França, iniciando uma onda de festivais em todo o mundo. Os franceses repetiram a experiência em 1949, em Paris, com enorme sucesso.


Todavia, somente em 1954 os Estados Unidos realizarem seu primeiro festival de jazz em Newport, Rhode Island, apropriadamente denominado Newport Jazz Festival, produzido pelo pianista e empresário George Wein em parceria com o casal de milionários Lorillard, provocando uma onda de entusiasmo nos músicos, críticos e aficionados pela perspectiva de ouvirem os melhores jazzmen do mundo. Modesto no início, com apenas dois dias de música, teve repercussão mundial, com sucesso artístico e financeiro acima da expectativa dos organizadores.

O jazz foi tratado com a dignidade que merece. Newport passou a ser um evento anual de grande porte e a procura de ingressos tornava-se cada vez maior, obrigando seus organizadores a transferi-lo para New York em 1972, mudando seu nome para Newport-New York Jazz Festival. Mais tarde, com patrocinio dos cigarros Kool, sua denominação passou a ser Kool Jazz Festival e, anos depois, com mudança do patrocinador, chamou-se JVC Jazz Festival.


A essa altura, Estados Unidos e Europa eram assaltados pela febre dos festivais, utilizando todos os pretextos para organizá-los, fosse nas grandes cidades (New York, Berlim, Paris ou Londres), nas montanhas (em Aspen, no Colorado), nas estações de veraneio ou pequenas cidades (Helsinki, na Finlândia, Montreux, na Suíça, Haia na Holanda ou Umbria, na Itália, país onde realizam-se 55 festivais de jazz por ano).

Nos anos 60 o jazz atravessou um período difícil devido ao sucesso do rock que conquistou os jovens de todo o mundo e os festivais de jazz sofreram uma defasagem. Na tentativa de atrair os jovens, os organizadores passaram a programar grupos de música pop misturados aos jazzmen para estabilizarem suas receitas, garantindo a continuidade dos eventos.

Nesse período o Japão surgiu como um novo e lucrativo mercado para o jazz, transformando-se no novo Eldorado, atraindo músicos americanos e europeus. Apesar da proliferação dos festivais, o de New York sempre ofereceu uma visão do melhor jazz do mundo, embora, como os demais, incluisse atrações comeciais para atrair maior número de jovens espectadores. A essa altura, George Wein expandiu sua área de atuação conduzindo sozinho um incrível circuito de festivais em inúmeras cidades americanas com eventos em Los Angeles, Boston, Miami, Nova Orleans e Chicago, além de Nice, na França, e Londres, na Inglaterra.

O que começou por idealismo tornou-se um grande negócio com altíssimas inversões de capital e lucros cada vez maiores, cujas receitas sempre alcançaram cifras de milhões de dólares, aumentadas pela venda de camisetas, distintivos, programas e principalmente, publicidade extensa. Os direitos de transmissão pela TV e gravações ao vivo sempre geram substancial retorno de capital, bem como os aluguéis de stands para venda de instrumetos musicais, discos e equipamentos de som. O jazz faz parte de um esquema importante da indústria fonográfica, dos empresários e os festivais com investimentos maciços de milhões de dólares transformaram-se numa fantástica fonte de renda com muitos interesses em jogo.

Os festivais converteram-se em veículos promocionais da maior importância, cuidadosamente planejados para que tudo saia a contento. O interesse das gravadoras consiste primordialmente em colocar seus artistas nos festivais para obterem uma grande promoção na imprensa em torno dos seus nomes. Todavia, com o fim das gravadoras de jazz, esse irtem ficou totalmente defasado.


Há anos foi instituida no famoso Festival de Montreux, Suiça, a chamada Noite Brasileira, projetando internacionalmente artistas brasileiros. Lá se apresentaram, entre muitos outros, Hermeto Pascoal, Elis Regina, Simone, É o Tchan, Baby Consuelo e Elba Ramalho; vale salientar que Elba Ramalho, Simone e É o Tchan foram estrepitosamente vaiados por desagradarem inteiramente ao público e à exigente crítica européia. Com o passar dos tempos, em face do fracasso dos artistas nacionais, a Noite Brasileira foi definitivamente cancelada em Montreux.

A gravadora Pablo, do empresário Norman Granz, em 1975 e 1977 acertou com Claude Nobs, produtor-diretor do Festival de Montreux, apresentações do seu fabuloso elenco de jazz, o mesmo ocorrendo com a gravadora Xanadu em 1978.

A título de curiosidade, sem que qualquer esquema promocional fosse acionado neste caso específico, uma apresentação de Miles Davis no Festival de Newport de 1955 valeu-lhe um régio contrato com a Columbia. Davis não atravesava uma boa fase nos primeiros anos daquela década, mas ao tocar “Round About Midnight” recebeu uma ovação consagradora que transformou-o no grande sucesso artístico do evento, recebendo uma proposta irrecusável da Columbia, sendo contratado no ato.

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Textos do Mestre José Domingos Raffaelli são sempre deliciosos e extremamente enriquecedores. Esse, então, é uma beleza! Para acompanhar a leitura, postei músicas extraídas de discos gravados em alguns dos mais importantes festivais de jazz do planeta. Abaixo, a relação dos discos, com as datas das respectivas gravações e os nomes dos músicos que participaram dos concertos:

01 – “Bill Evans at the Montreux Jazz Festival” – Verve – 15 de junho de 1968. Bill Evans (piano), Eddie Gomez (contrabaixo) e Jack DeJohnette (bateria).

02 – “Swiss Movement” – Atlantic – 22 de junho de 1969. Eddie Harris (sax tenor), Les McCann (piano), Benny Bailey (trompete), Leroy Vinnegar (contrabaixo) e Donald Dean (bateria).

03 – “Miles Davis at Newport – 1958” – Columbia – 03 de julho de 1958. Miles Davis (trompete), John Coltrane (sax tenor), Cannonball Adderley (sax alto), Bill Evans (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e Jimmy Cobb (bateria).

04 – “Together Again: Live at the Montreux Jazz Festival '82” – Pablo – 25 de julho de 1982. The Modern Jazz Quartet: John Lewis (piano), Milt Jackson (vibrafone), Percy Heath (contrabaixo) e Connie Kay (bateria).

05 – “Live in Marciac, 1993” – Groovin’ High (no Brasil, foi lançado pela Biscoito Fino) – 12 de agosto de 1993. Tommy Flanagan e Hank Jones (piano), Hein Van de Geyn (contrabaixo) e Idris Muhammad (bateria).

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