Para não dizerem que não falei de Mr. Shepp (II)...
"Eu não uso o termo jazz. O jazz é uma realidade histórica. Antes da guerra civil, quando os negros ainda eram escravos, não podiam tocar trombones, trompetes e saxofones porque só os brancos o podiam fazer. Depois da guerra, a banda da Marinha dos EUA vendeu um largo número de instrumentos de sopro a um preço muito baixo, e foi aí a primeira vez que os negros puderam tocar esses instrumentos. Em 1917, um grupo chamado The Original Dixieland Jazz Band, composto por brancos, gravou música no estilo jazz e daí o termo. Contudo, eu não uso esse termo porque ele significa simplesmente negros a tocar instrumentos de sopro no estilo blues. O termo jazz não significa mais do que Coca-Cola ou Marlboro. É uma marca comercial."
"A minha audiência sempre foi branca. Penso que essa música a que chamam de avant garde é essencialmente música da classe média burguesa. É frustrante e por essa razão é que regressei aos blues, porque queria chegar a uma audiência negra mais vasta. Penso que essa música [que faço] e sua atitude são essencialmente blues. Tenho orgulho em ser um bluesman."
(entrevista ao extinto jornal português “A Capital”, em 27/07/1997)
“Well, I feel like I'm a bluesman. I started playing the blues when I was a kid. When I first started to play professionally it was with a blues band, with young kids, and it was always something I had an affinity for. My father played the banjo and he sang a lot of blues, so it was something that came to me the way some people play Mozart and Beethoven. When I finally met people like Lee Morgan, who was one of my first mentors, I didn't know much about chords but I already knew the blues, and that's one thing that helped me to get into the circle of musicians as easily as I did. The blues is a very important aspect of this music, and I consider myself basically a blues player."
(All About Jazz, August 23, 2007)
"So we do have a black art music. We have not bothered to treasure that music. As a university teacher, I frequently spoke to my students and said, "Why don't you hold a national conference of black students to discuss African American music?" You don't have to accept the term "jazz." Jazz used to mean fucking, pussy. Sidney Bechet and people like that told you that very clearly.
"Why are we still supporting names that degrade our music, except for the fact that white people like those names? And they associate it with slavery. So at this point if we have no control over our music, fewer African Americans listening to it doesn't surprise me. Many of the young players today certainly don't come from the roots of the community. They come from Juilliard, conservatories. What relation do they have to the black community?"
(entrevista a Ollie Bivens em 24/02/2005)
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As falas de Archie Shepp sobre o blues aclaram bastante os rumos que sua música tomou, dão coerência à sua por vezes criticada trajetória. Seu canto, acima de tudo, é basicamente blues. E para quem pensa que o saxofonista abrandou seu discurso... não é bem por aí. Suas palavras continuam ácidas, focadas na defesa da comunidade e da arte negra. Curioso notar que o fato de seu som ter se tornado mais bluesy do que free fez com que até os acomodados e sonolentos críticos da 'Down Beat' decidissem dar uma folga a Sonny Rollins (premiado até em seus períodos mais medíocres) e conceder a Shepp o prêmio de melhor tenor do ano de 1982...
Esse é um show de 2001 que, apesar de trazer instrumentistas outros, carrega o tom e o sabor do que poderemos apreciar hoje e amanhã no Sesc.
“Archie Shepp Quartet live at 32nd International Jazzweek Burghausen”
1. Hope 2
2. God Bless The Child
3. Mama Rose/ Revolution
4. Every Day’s A New Day
5. Dedication to Bessie Smith´s Blues
6. You Gotta Call Him
live
*Archie Shepp: tenor saxophone, vocals
*Amina Claudine Myers: piano, vocals
*Wayne Dockery: bass
*Ronnie Burrage: drums
Recorded live at Wackerhalle, Burghausen, May 4, 2001.
-------------------- **Vídeo: Archie Shepp (s), Ken Werner (p), Santo di Briano (b), John Betch (d). Início dos anos 1980.
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