O JAZZ PASSOU NA JANELA E SÓ MILT HINTON VIU
Música e outras coisas

O JAZZ PASSOU NA JANELA E SÓ MILT HINTON VIU




Milton John Hinton não foi apenas uma testemunha privilegiada da história do jazz.  Foi também um de seus mais valorosos e incansáveis artífices e merece, por certo, o título de decano dos baixistas do jazz. Em seus noventa anos muito bem vividos, conviveu com os maiores dentre os maiores e, para felicidade dos jazzófilos, eternizou boa parte desses momentos sublimes em sua Roleyflex (na verdade, suas câmeras era uma Argus e, posteriormente, uma Leica). Sim, porque além de ser um baixista de primeiríssima linha, ele também construiu uma extraordinária carreira como fotógrafo de jazz, rivalizando em importância com monstros do gabarito de Herman Leonard, William Claxton e Francis Wolff.

Hinton nasceu em Vicksburg, Mississippi, no dia 23 de junho de 1910. Sua avó materna havia sido escrava e seu pai um imigrante africano que chegou aos Estados Unidos trazido por missionários católicos. O pai abandonou a família quando Milt tinha apenas três anos e ele foi criado pela mãe, uma mulher determinada e corajosa, além de ser muito ligada à música. Ela era organista e também a diretora musical do coral da igreja que freqüentava e foi dela que Milt herdou o amor pela música. Em 1921, o garoto mudou-se com a mãe para Chicago e na nova cidade, iniciou-se nos estudos musicais, tendo recebido aulas particulares de violino clássico. Seu sonho era, então, ser violinista e acompanhar os filmes mudos que eram exibidos nos cinemas da cidade.

Durante o colegial, feito na Wendell Phillips Chicago High School, Milt fez parte de uma banda patrocinada pelo jornal Chicago Defender, e ali desenvolveu ainda mais as suas aptidões musicais, dedicando-se ao aprendizado da corneta, da tuba, do violoncelo e, finalmente, do contrabaixo, instrumento que tomou para si com enorme disposição. Em 1927 foi lançado “The Jazz Singer”, estrelado por Al Jolson e considerado o primeiro filme falado da história do cinema. Esse evento decretou o fim do cinema mudo e abalou bastante as convicções do jovem Milt quanto ao futuro dos músicos que tocavam nas sessões de cinema.

Em sua juventude, Milt estudou com o major Clark Smith, figura lendária do cenário musical de Chicago e quando tinha apenas 16 anos, começou a tocar profissionalmente. Terminado o ensino médio, Hinton continuou os estudos musicais no Crane Junior College e se matriculou na Northwestern University, mas não concluiu o curso, por conta de sua atribulada carreira como músico profissional.

Com efeito, desde o início da carreira profissional, Milt era um disputado freelancer, tendo trabalhado, de meados da década de 20 a meados dos anos 30 com Jabbo Smith, Freddie Keppard, Boyd Atkins, Erskine Tate, Eddie South, Fate Marable e Art Tatum. O primeiro emprego relativamente estável foi na orquestra do pianista Tiny Parham, seguido por um breve período com a orquestra do violinista Eddie South, ao lado de quem Milt fez as suas primeiras gravações. Em 1935, Hinton aceitou o convite do baterista Zutty Singleton e se juntou a sua banda, atração fixa do clube Three Deuces.

Em 1936, Milt foi contratado por Cab Calloway e, ao longo dos quinze anos seguintes, seria peça fundamental na orquestra do folclórico bandleader. Em seu novo emprego, o baixista pôde atuar com grandes nomes, como Danny Barker, Chu Berry, Doc Cheatham, Cozy Cole, Chu Barry, Quentin Jackson, Illinois Jacquet, Jonah Jones, Johnny Hodges, John Lewis, Ike Quebec e Ben Webster, entre outros. Hinton desenvolveu uma fraterna amizade com um jovem trompetista chamado Dizzy Gillespie, cujas idéias musicais bastante avançadas eram muito criticadas por Calloway, que costumava dizer que Dizzy fazia “música de chinês”.

Ao mesmo tempo, Hinton iniciava a sua estupenda carreira como acompanhante, participando de gravações ao lado de Benny Carter, Benny Goodman, Lionel Hampton, Coleman Hawkins, Billie Holiday, Ethel Waters, Lester Young e Teddy Wilson. Boa parte dessas gravações atualmente gozam do status de verdadeiros clássicos do jazz. Até 1939, quando Jimmy Blanton despontou na orquestra de Duke Ellington com a sua forma revolucionária de tocar, Milt era considerado, por crítica e público, o maior contrabaixista de jazz em atividade.

Em 1951, Calloway desfez a sua orquestra, por conta do ambiente francamente hostil às big bands e Milt se viu obrigado a procurar emprego. De qualquer forma, ele sempre teve pelo ex-patrão muito respeito e carinho. Hinton declarou em uma entrevista que “Calloway foi o meu pai musical. Ele era extremamente generoso comigo e me deu muitas oportunidades para que eu me desenvolvesse profissionalmente. Ele era como um sopro de ar fresco”.

O baixista não ficou desempregado por muito tempo e logo integrou-se à banda do pianista Joe Bushkin, onde estavam o trompetista Buck Clayton e o baterista Jo Jones. Em 1953, Milt tocaria por um breve período na orquestra de Count Basie e faria parte dos Louis Armstrong's All-Stars. No início do ano seguinte, ele montou seu próprio grupo, para atuar como atração fixa do clube Basin Street West e, naquele mesmo ano, acompanhou Billie Holiday em sua apresentação no Festival de Newport.

Ainda em 1954, foi contratado pela CBS, graças a uma indicação do comediante e apresentador Jackie Gleason, para atuar na orquestra da gravadora, o que lhe permitiu ter uma certa estabilidade financeira. Os dois ficaram amigos durante as gravações do álbum de Gleason, “Music for Lovers Only”, gravado para a Capitol em 1952. Milt foi o primeiro negro a fazer parte de uma orquestra de programas televisivos, atuando em programas de sucesso como o Jackie Gleason Show e o Dick Cavett Show. Seu pioneirismo abriu caminho para que outros músicos negros, como Clark Terry, Snooky Young, Jerome Richardson e Hank Jones, pudessem ingressar nesse importante mercado de trabalho.

Residindo em Nova Iorque, Milt jamais perdeu a condição de requisitado freelancer. Para que se tenha uma idéia, ele atuou em, virtualmente, todos os contextos imagináveis, tocando em jingles de publicidade, trilhas sonoras de filmes, orquestras de rádio e de televisão e, principalmente, em gravações de jazz. Nesse ponto, The Judge parece ser imbatível, pois suas atuações como sideman chegam facilmente à casa dos milhares.

Mais que isso, é possível empreender, ao seu lado, um verdadeiro passeio pela história do jazz, já que ele emprestou seu talento a gravações de dixieland, swing, bebop, hard bop, West Coast e até mesmo a obras esteticamente mais ligadas ao free jazz. Esteve ao lado de músicos das mais diversas gerações, sendo, provavelmente, o único músico no mundo a ter tocado com um pioneiro como o cornetista Freddie Keppard e com um instrumentista contemporâneo como Brandford Marsalis.

Conforme lecionam Gary Giddins e Scott DeVeaux, Hinton era “um músico adorável, cujos swing robusto e excelente entonação refletiam a sua personalidade genial” . Ainda de acordo com os renomados críticos Milt “possuía uma erudição harmônica instintiva que o tornavam absolutamente capaz de fazer a transição do swing para o bebop. Ele expandiu as fronteiras do contrabaixo utilizando as mais avançadas harmonias e do ponto de vista rítmico o seu acompanhamento sincopado era recheado de ilustrações melódicas bastante inventivas”.

A relação de artistas com quem atuou é quilométrica: Quincy Jones, Dexter Gordon, Billy Bauer, Buddy DeFranco, Buck Clayton, Ruby Braff, Mel Powell, Neal Hefti, Paul Quinichette, Helen Merrill, Clifford Brown, Gil Evans, Al Cohn, Kai Winding, Mabel Mercer, Paul Barbarin, Joe Newman, Osie Johnson, Chris Connor, Ray Bryant, Betty Carter, Tony Scott, Jimmy Giuffre, Jack Teagarden, Zoot Sims, Mundell Lowe, Jackie Paris, Dinah Washington, J.J. Johnson, Johnny Hartman, Donald Byrd, Tony Bennett, Bud Freeman, John Coltrane, Johnny Mathis, Marilyn Moore, Bobby Hackett, Gigi Gryce, Ernestine Anderson, Herb Ellis, Michel Legrand, Urbie Green, Hank Jones, Eubie Blake, Gerry Mulligan, Edmond Hall, Ruth Brown, Bobby Short, Charlie Barnet, George Russell, Dinah Washington, Jimmy Cleveland, Hal McKusick, Jimmy Smith, Kenny Burrell, Wes Montgomery, Freddie Redd, Henry “Red” Allen, Pee Wee Russell,  Curtis Fuller, Oliver Nelson, Ike Quebec, Gary Burton, Clark Terry, Stan Getz, Erroll Garner, Buddy Tate, Freddie Green, Red Norvo, Joe Venuti, Elvin Jones, Paul Desmond, Roland Kirk, Mahalia Jackson, Miles Davis, Paul Gonsalves, Sonny Stitt e uma infinidade de outros grandes artistas.

Apaixonado por fotografias desde a década de 30, Milt e a câmera eram inseparáveis e por ser um dos músicos mais demandados de todos os tempos, ele pôde testemunhar – e registrar – alguns dos momentos mais importantes da história do jazz. Quando Art Kane fez a famosa foto “A Great Day In Harlem”, em 1958, Milt era um dos 57 músicos ali retratados. Mais que isso, ele estava munido de sua máquina fotográfica e sua esposa, Mona Hinton, carregava uma pequena filmadora de 8mm. Os dois captaram os momentos que antecederam a foto histórica e, futuramente, seus trabalhos serviriam de base para o premiado documentário “A Great Day In Harlem”, dirigido por Jean Bach e indicado ao Oscar da Categoria.
Milt também trabalhou em projetos ousados, como o álbum “Weary Blues” (Verve, 1958), sob a liderança de Charles Mingus, no qual o poeta e ativista negro Langston Hughes recita poemas de sua autoria. O baixista participou de centenas de concertos e festivais pelo mundo, como os de Nice, Odessa e Chicago, e excursionou com ídolos extremamente populares, como Louis Armstrong e Bing Crosby. Ele também tocou com grandes nomes do blues, como John Lee Hooker e Jay McShann, e com astros da música pop, como Bobby Darin, Aretha Franklin, Paul Anka, Sam Cooke, Betty Midler, Neil Sedaka, LaVern Baker, Barbra Streisand, Paul McCartney e muitos mais.
Hinton costumava atribuir boa parte do seu sucesso como acompanhante à sonoridade diferenciada do seu contrabaixo, um Gofriller Double Bass que ele descobriu por acaso durante uma viagem à Itália. O instrumento estava abandonado na adega de um clube e em péssimo estado de conservação. Milt recuperou o instrumento e passou a usá-lo em suas apresentações e gravações. Em 1968, ele fez parte do New York Bass Violin Choir, um quinteto de contrabaixistas liderado por Bill Lee e que incluía também os talentos de Ron Carter, Sam Jones e Michael Fleming. Nos anos 70, ele montou um trio bastante respeitado, juntamente com o pianista Hank Jones e o baterista Grady Tate.
Milt desenvolveu uma alentada carreira como educador musical, dando aulas no Hunter College e no Baruch College. Seu envolvimento com a educação impeliu-o a criar a Milton J. Hinton Scholarship, um fundo destinado a financiar os estudos de jovens contrabaixistas. Também foi um destacado membro da National Association of Jazz Educators, da International Society of Bassists e da National Endowment for the Arts, que em 1993 o distinguiu com o título de Jazz Master. Seu nome foi incluído no Big Band and Jazz Hall of Fame em 1996.
Ao longo da vida, Milt colecionou as mais diversas honrarias, como os títulos de Doutor Honoris Causae por instituições como William Paterson College, Skidmore College, Hamilton College, DePaul University, Trinity College, Berklee College of Music, Fairfield University, e City University of New York. Recebeu prêmios como o Eubie Award, dado pela National Academy of Recording Arts and Sciences, o Living Treasure Award, concedido pelo prestigioso Smithsonian Institution, e o Artist Achievement Award, concedido pelo governo do Mississippi.

Apelidado de “The Judge” (O Juiz), Hinton se notabilizou pelo absoluto respeito à pontualidade e, invariavelmente, era o primeiro músico a chegar às sessões de gravação. Durante os anos 90, ele formou um supergrupo com o clarinetista Buddy DeFranco, o vibrafonista Terry Gibbs e o guitarrista Herb Ellis, dedicado a interpretar apenas músicas do repertório de Benny Goodman. Em 1991, tocou na trilha Sonora do filme “Jungle Fever”, dirigido por Spike Lee.

As fotografias que Milt tirou ao longo de quase 70 anos de carreira formam um catálogo de cerca de 35.000 imagens e constituem um dos mais preciosos documentos sobre a história do jazz e de seus protagonistas. Muitas de suas fotos foram usadas para ilustrar periódicos importantes, como a Down Beat e a Jazz Times, e o acervo tem sido objeto de mostras e exposições. Muitas delas podem ser vistas nos livros que publicou: “Bass Lines: The Stories And Photographs Of Milt Hinton” (Temple University Press, 1988) e “Over Time: The Jazz Photographs of Milt Hinton” (Pomegranate Press, 1991).

Em 1985, durante as comemorações do seu aniversário de 75 anos, Hinton foi agraciado com o bem-humorado título de “Baixista Residente Oficial” do Michael's Pub, seu clube preferido em Nova Iorque. Em 1990, quando completou 80 anos, a rádio WRTI-FM, da Filadélfia, produziu uma série de 28 programas nos quais Milt relata episódios de sua vida e de sua carreira. Os programas foram retransmitidos por mais de 150 rádios públicas dos Estados Unidos e ganharam o Gabriel Award daquele ano.

No dia 14 de janeiro de 1994 Milt entrou nas dependências do mítico estúdio do bruxo Rudy Van Gelder, em Nova Jérsei, para gravar o excelente “The Trio”, para a gravadora Chiaroscuro. A seu lado, o ótimo pianista britânico Derek Smith e o não menos talentoso baterista Bobby Rosengarden. O repertório primoroso, que passeia pelos primórdios do jazz, passa por uma boa quantidade de standards e chega até a bossa nova, é um dos atrativos do disco.

Gravada por Billie Holiday, “No Greater Love”, de Isham Jones e Marty Symes, abre o álbum com graça e sofisticação. O arranjo privilegia o lado dançante da canção e mostra o delicioso balanço do pianista inglês, cujo dedilhado fluido e desenvolto revela um aplicado discípulo de Oscar Peterson. As intervenções do líder, solando ou fazendo o acompanhamento, possuem aquela sabedoria de quem conhece os atalhos do caminho – nada de notas desperdiçadas, nada de virtuosismos aeróbicos, apenas jazz de excepcional qualidade, com muito swing e criatividade.

O acento bluesy de “Sweet Lorraine” fica bastante nítido na interpretação do trio. Smith possui bastante intimidade com a dinâmica do blues, com o uso dos acordes em bloco e com a elaboração de harmonias elegantes. Hinton usa os registros mais graves do contrabaixo com sabedoria e a profundidade de sua execução ganha maior realce ao se contrapor à percussão leve e descontraída de Rosengarden.

O spiritual “Just a Closer Walk with Thee” é uma composição tradicional e remete à aurora do jazz, quando ainda o estilo ainda estava sendo gestado, graças ao amálgama entre o blues, o gospel, o ragtime, o gospel e outras formas musicais anteriores. A interpretação do grupo é apaixonada e a levada imposta pelo trio evoca aquela espécie de força vital que apenas as músicas profundamente assentadas na tradição possuem.

O “Brazilian Medley” (que traz “Manhã de Carnaval”, “Garota de Ipanema” e “Samba de Orfeu”) e o “Ellington Medley” (onde se pode ouvir “Don't Get Around Much Anymore”, “What Am I Here for?” e “Caravan”) são executados com raro bom gosto e sensibilidade. A expertise dos três é posta a serviço de interpretações sóbrias, nas quais a preocupação com os aspectos melódicos é o mais importante. No medley de canções brasileiras, é bastante interessante ouvir-se o belo trabalho de Rosengarden, que não tenta soar como um percussionista brasileiro e nem faz aquela marcação abolerada que bateristas gringos costumam cometer. Ao contrário, sua abordagem é a de um verdadeiro músico de jazz, como se estivesse prestando seus respeitos a uma forma de expressão musical diferente da sua, mas que não lhe é desconhecida ou exótica.

“Bluesette” é a composição mais conhecida do genial Toots Thielemans e a versão feita pelo trio é bastante fiel ao original, com muito balanço, apesar do discreto andamento de valsa que, em tese, poderia criar algumas amarras para harmonias mais arrojadas. Interessante perceber como o trabalho do gaitista belga tem bastante semelhança com a imortal “Take Five”, de Paul Desmond. O solo de Hinton inscreve-se entre os mais belos do disco e a comunicação telepática entre os três instrumentistas é de empolgar.

A irreverência é a característica mais evidente na interpretação dada a “Fascinating Rhythm”, de George e Ira Gershwin. Com um trabalho assombroso do líder, que explora todos os caminhos do contrabaixo, tanto do ponto de vista rítmico quanto harmônico, cabe aos dois outros parceiros fazer intervenções breves e bastante sucintas. Em “Cute”, de Neal Hefti, a abordagem envereda pela seara bop, com um resultado dos mais entusiásticos, sobretudo por conta da pegada vigorosa de Smith, com inflexões à Bud Powell.

“Shiny Stockings”, de Frank Foster, recebe um arranjo vivaz, reflexo, provavelmente, da alegria que os três sentem ao tocar juntos. Smith improvisa com autoridade e energia, naquela que é uma das faixas mais calorosas do disco. A sonoridade de Hinton, redonda e dolente, possui uma veia extremamente dançável, que contagia e orienta a execução do piano e da bateria. Mesmo no solo, e o que ele apresenta aqui é um primor de técnica, jamais perde essa característica. Todas as loas também à percussão incisiva e vibrante de Rosengarden.

“Someday My Prince Will Come”, de Frank Churchill e Larry Morey, começa lentamente, apenas com o piano melífluo de Smith. À entrada dos demais instrumentos, o tema vai acelerando, sem perder a elegância. Impossível não lembrar das estupendas interpretações de Bill Evans à frente de seus mais variados trios e a versão de Hinton e seus comandados não perde em fluidez, sofisticação e inventividade.

A animação remanesce em “Love For Sale”, pérola de Cole Porter que é a última música do disco. Este encerra com “Jazzspeak”, um descontraído bate-papo onde os três falam sobre jazz, improvisação e sobre os diversos aspectos da carreira musical, enquanto Derek, ao fundo, improvisa um blues. Depois deste disco, o baixista ainda se manteria bastante ativo, pelos quatro anos seguintes, excursionando e gravando com bastante regularidade.

Em 1995 participou do show em comemoração aos 80 anos do também lendário Flip Philips, juntamente com outras feras das mais diversas gerações, como Carl Fontana, Scott Hamilton, Randy Sandke, Howard Alden, Buddy DeFranco, Dick Hyman, Billy Bauer, Derek Smith, Herb Ellis, Jake Hanna e Phil Woods. Esse concerto foi gravado e posteriormente lançado em cd pela gravadora Arbors.

Milt faleceu no dia 19 de dezembro de 2000, nas dependências do Mary Immaculate Hospital, em Queens, Nova Iorque. Tinha noventa anos e há algum tempo já estava bastante doente. Em 2002, David G. Berger e Maxson Holly produziram e dirigiram o documentário “Keeping Time: The Life, Music & Photographs of Milt Hinton”, uma bela homenagem ao lendário contrabaixista. O filme fez a sua estréia no London Film Festival, ganhou o prêmio de Melhor Documentário no Tribeca Film Festival de 2003, na eleição do público.

O legado de Hinton é a quintessência da sabedoria e do desprendimento. Em um mundo recheado de egoísmo e vaidade, suas palavras soam como um bálsamo: “O contrabaixo é um instrumento que existe para servir outro. A palavra base, de onde ele deriva, significa suporte, fundação. Se você constrói um prédio, as fundações devem ser firmes. Da mesma forma, o contrabaixista deve identificar o acorde certo para dar suporte aos demais instrumentos e só depois deve se preocupar com as suas próprias notas. Tocar contrabaixo é um exercício de humildade e você deve ficar contente em estar desempenhando um papel importantíssimo, pois ali na retaguarda é você que está dando o suporte necessário aos demais músicos da banda”.

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