O ADMIRÁVEL REQUINTE DA SIMPLICIDADE
Música e outras coisas

O ADMIRÁVEL REQUINTE DA SIMPLICIDADE




O pianista, arranjador, compositor e bandleader Theodore Shaw Wilson nasceu no dia 24 de novembro de 1912 em Austin, no Texas. Em 1918 muda-se com a família para Tuskegee, no Alabama. Estudou piano e teoria musical no “Tuskegee Institute”, entidade voltada ao ensino da população afro-americana, que na época era dirigida pelo lendário militante da causa negra Booker T. Washington.

Além do piano, o pequeno Wilson também aprendeu a tocar violino, oboé e clarinete, sempre incentivado pelos pais. Durante os verões, Teddy costumava visitar a cada de uma tia, em Detroit, onde se deliciava ao som da orquestra de Fletcher Henderson e dos “McKinney’s Cotton Pickers”, que teve a oportunidade de assistir ao vivo. Ali também ouvia gravações do tenor italiano Enrico Caruso e de expoentes da música erudita.

Seu primeiro contato com o jazz veio por intermédio de gravações de Louis Armstrong, Bix Beiderbecke e Fats Waller, sendo que este, juntamente com Earl Hines, foi a sua primeira grande influência ao piano. Wilson também estudou música no “Talladega College”, atuando na orquestra daquela instituição de ensino como violinista e pianista. Em 1929, com apenas 17 anos, foi contratado para integrar a orquestra de Lawrence “Speed” Webb, em Detroit.

Ali, tornou-se amigo de outra futura lenda do jazz, o trompetista Roy Eldridge. O pianista permaneceu na banda de Webb até 1931, quando foi contratado para substituir o genial Art Tatum na orquestra de Milton Senior, na cidade de Toledo, Ohio. Tatum já era um dos mais importantes músicos do jazz e tornou-se, além de fonte de inspiração, um grande amigo de Wilson. O pupilo relembra seu convívio com o ídolo: “Art foi o sujeito mais bem dotado para a música que jamais vi na minha vida, algo milagroso, como o atacante que faz um gol em cada ocasião que tem a bola. Dava-me atenção especial e, sempre que eu pedia, ele se detinha e voltava a tocar lentamente cada passagem, para ensinar-me a digitação que havia utilizado”.

Ainda em 1931, nova mudança, desta feita para Chicago, Illinois, onde Wilson assumiria o piano na orquestra de Erskine Tate. Conhecido por sua exigência e por ser um emérito descobridor de talentos, ate empregou em sua orquestra expoentes como Louis Armstrong, Freddie Keppard, Buster Bailey e Omer Simeon entre outros. Em seguida, Wilson passaria por várias outras orquestras de Chicago, destacando-se as de Clarence Moore e Eddie Mallory.

Se havia qualquer dúvida de que seu futuro profissional estaria na música, esta se dissipou depois que Teddy se estabeleceu em Chicago. Mais do que nunca, tudo o que ele queria era tocar – e sempre contou com o apoio dos pais para atingir seus objetivos. Em uma entrevista, ele declarou: “depois de conhecer a música de Detroit e de Chicago, sempre pensei que aqueles que querem ser médicos ou maestros não sabem o que estão perdendo”.

Em 1932 o pianista participou de sua primeira gravação, sob a liderança de Benny Carter (apenas um tema foi gravado na ocasião, “Tell All Your Dreams To Me”). De janeiro a março de 1933 Teddy integrou a banda de Louis Armstrong, juntando-se em seguida, à “Grand Terrace Cafe Orchestra” de Earl Hines. Com Armstrong, o pianista realizou cerca de duas dezenas de gravações, para a RCA Victor. O lendário trompetista foi fundamental para o crescimento de Wilson: “tocar com Armstrong todas as noites era como freqüentar uma verdadeira escola. Ele era um mestre incrível e jamais tocava uma nota que não estivesse carregada de sentido musical”.

Após tocar com o clarinetista Jimmie Noone, Wilson, incentivado pelo produtor John Hammond, decide se mudar para Nova Iorque, em outubro de 1933. Seu primeiro trabalho foi na banda de Benny Carter, com a qual atuou no espetáculo “Chocolate Dandies” e também realizou várias gravações. Ele também fez alguns trabalhos com a cantora Mildred Bailey e com o clarinetista Mezz Mezzrow nesse período.

De acordo com John Hammond, importante produtor e filho de uma rica família (mãe pertencia à família Vanderbilt), a primeira esposa de Wilson, Irene Eadie Wilson (que além de excelente pianista é autora do clássico “Some Other Spring”), foi de fundamental importância na formação pessoal e profissional de Teddy. Graças à esposa, o pianista aprimorou a sua mão esquerda, desenvolveu seu estilo, dando ênfase às mudanças de andamento e à regularidade rítmica, e tornou-se um espectador assíduo de concertos de pianistas eruditos, como o austríaco Rudolf Serkin e o francês Robert Casadesús, de quem Wilson se tornaria amigo pessoal.

No dia 22 de maio de 1934, Teddy realiza a sua primeira gravação de piano-solo. Em setembro do mesmo ano, inicia uma parceria com o vibrafonista Red Norvo, que seria retomada em diversas ocasiões futuramente. Naquele período, o pianista fazia parte da orquestra de Willie Bryant, um trompetista, cantor e bandleader de Nova Orleans, que trabalhou com a lendária Bessie Smith, no musical “Buck And Bubbles”. A banda de Bryant era atração fixa do “Savoy Ballroom” e dela faziam parte luminares como Benny Carter, Ben Webster e Cozy Cole.

Wilson deixou Bryant no início de 1935, para assumir o piano do grupo de gospel “The Charioteers”. Ainda naquele período e novamente por sugestão de John Hammond, ele também montou diversas pequenas orquestras de estúdio, selecionando seus parceiros junto às orquestras de Count Basie, Duke Ellington e Cab Calloway. Os vocais, geralmente, ficavam a cargo da cantora Billie Holiday, daí nascendo a cumplicidade musical entre os dois.

Essas gravações, para selos como Columbia, Vocalion e Brunswick, eram firmemente assentadas no swing e feitas à base de standards, para abastecer as populares jukeboxes. Graças a elas, cantoras da estirpe de Lena Horne, Helen Ward e, obviamente, Bille Holiday, consolidaram seus nomes junto ao público. Os acompanhantes eram de primeiríssima linha, tais como Lester Young, Roy Eldridge, Johnny Hodges, Cozy Cole, Sid Catlett, Charlie Shavers, Red Norvo, Buck Clayton e Ben Webster, apenas para nominar alguns.

Wilson recorda com carinho as gravações históricas que realizou com lady Day: “Essas sessões foram pura delícia e eu jamais havia ouvido quem cantasse como Billie. Ela podia dizer apenas um ‘olá’ ou um ‘bom dia’ e já tínhamos uma experiência musical. Sua maneira de cantar era um reflexo fiel de todas as suas experiências de vida, da sua carga psicológica e da sua personalidade”.

Sobre os músicos participantes suas palavras não eram menos elogiosas: “eles eram a nata das grandes bandas. Quando Duke Ellington estava na cidade, eu chamava Johnny Hodges e Harry Carney. Quando Basie estava por perto, tocávamos com Lester Young e Buck Clayton. Jamais se poderia reunir semelhante conjunto de músicos para tocar em público e o mais incrível é que essas sessões custavam vinte dólares para cada 03 horas de gravação”.

Em novembro de 1935, uma gravação reuniu novamente Wilson e Billie Holiday, desta feita sob a condução de Benny Goodman. O clarinetista, que já conhecia o trabalho de Teddy na orquestra de Mildred Bailey e, inclusive, haviam participado de uma jam session, decide contratar o pianista, em abril de 1936. O trio de Goodman era complementado pelo baterista Gene Krupa e mais tarde converteu-se em um quarteto, com a inclusão do vibrafonista Lionel Hampton.

O trio/quarteto de Goodman teve uma importância capital na história do jazz, não apenas pelo brilhantismo de sua música, mas por ter sido o primeiro combo de jazz a se apresentar com músicos brancos e negros dividindo o mesmo espaço. Essa união ajudou a romper com a segregação vigente no show business, que obrigava brancos e negros a tocar separadamente e o grupo de Benny é até hoje celebrado como um símbolo da integração racial.

Para que se tenha uma idéia da vergonhosa situação da época, basta dizer que em 1937, o quarteto participou do filme “Hollywood Hotel”, dirigido por Busby Berkeley. Ocorre que foram rodadas duas versões da película. Naquela exibida nos cinemas do norte dos Estados Unidos, aparecem Goodman, Lionel Hampton, Teddy Wilson e Gene Krupa. Na versão exibida no sul, racista, Wilson foi substituído pelo pianista branco Jess Stacy.

O pianista esteve presente no célebre concerto de Goodman no Carnegie Hall, no dia 16 de janeiro de 1938. A parceria entre Wilson e o clarinetista perdurou até 1939, quando o pianista desligou-se para montar sua própria orquestra. Mas a amizade e a admiração permaneceriam, tanto que Goodman costumava dizer que Teddy era “o melhor jazzman da música americana”. Pedro Cardoso destaca o papel de Wilson no trio/quarteto, dando-lhe “coesão, fluidez melódica com a base harmônica do piano, simultaneamente segurando o trio e aparando a aspereza e a impulsividade de Gene Krupa”.

A atuação com Goodman deu a Wilson uma enorme visibilidade, além de ter rendido a ele diversos prêmios como melhor pianista, concedidos por revistas especializadas como “Metronome” e “Down Beat”. No final dos anos trinta, o pianista cria a “Teddy Wilson School For Pianists”, em Manhattan. O conteúdo pedagógico era inovador, pois os alunos recebiam discos didáticos não comerciais, com o próprio Wilson ao piano, acompanhados dos respectivos encartes, contendo texto analítico e transcrição dos temas.

Após a sua saída do grupo de Goodman, Wilson montou uma orquestra cujo prefixo era o tema “Jumpin’ On The Blacks And Whites” e que contava com craques como os saxofonistas Ben Webster, Shorty Baker e Rudy Powell, os trompetistas Doc Cheatam e Hal Baker, o trombonista J. C. Higginbotham, o guitarrista Al Casey, seu xará Al Hall no contrabaixo e o baterista J. C. Heard. Thelma Carpenter fazia os vocais e os arranjos do próprio líder, sendo que durante algum tempo a banda foi atração fixa do “The Apollo Theatre”, no Harlem.

Embora gravações como “The Man I Love” (com solo de Ben Webster), “Out Of Nowhere” (com solo de J. C. Higginbotham) e “Little Things That Mean So Much”, tenham tido alguma repercussão, a orquestra não obteve o sucesso comercial esperado e foi desfeita em abril de 1940, sendo que a sua derradeira apresentação ocorreu no “Golden Gate Ballroom”. Wilson então montou um sexteto (Bill Coleman, Jimmy Hamilton, Benny Morton, Al Hall e Big Sid Catlett), que passou a ser atração fixa do clube Café Society, permanecendo ali de junho de 1940 até novembro de 1944.

O mundo vivia o horror da Segunda Guerra e Teddy gravou diversos “V-Discs”, que eram mandados para divertir os soldados norte-americanos na Europa e no Pacífico, acompanhando as cantoras Lena Horne e Helen Ward. No dia 06 de junho de 1945, o pianista reencontra o antigo parceiro Red Norvo e participa das gravações de “Red Norvo And His Selected Sextet”, para o selo “Comet”. Foram apenas quatro temas gravados (“Hallelujah”, “Get Happy”, “Slam, Slam Blues” e “Congo Blues”) e mais alguns takes alternativos desses temas, mas a importância histórica é a presença dos então jovens Charlie Parker e Dizzy Gillespie, que estavam revolucionando o jazz com sua abordagem ousada e inquieta.

Wilson já havia tocado com Parker e Gillespie antes, em um concerto para a “New Jazz Foundation”, realizado no “Town Hall”, em Nova Iorque. Além deles, também estavam presentes a cantora Dinah Wahington, o trompetista “Hot Lips” Page, o saxofonista Georgie Auld, o violinista Stuff Smith, o baixista Slam Stewart, o baterista Cozy Cole e outros. Ainda em 1945, Wilson volta a trabalhar com Benny Goodman e se apresenta novamente no “Town Hall”, desta feita com líder de uma banda que contava com Red Norvo, Bill Coleman, Gene Krupa, Stuff Smith e “Flip” Phillips. O concerto foi gravado e distribuído pela Commodore.

Em 1946 o pianista foi contratado para trabalhar na Orquestra da Rádio CBS, onde ficou até 1955, atuando em programas como o “Peter Lindt Hayes Show” e na série radiofônica “The Crime Photographer”. Ainda naquele ano, começa a lecionar na Juilliard School of Music e na Metropolitan School of Music. Ele também foi músico fixo da gravadora Musicraft, acompanhando grandes nomes do jazz, como Artie Shaw, Mel Tormé, Georgie Auld e, principalmente, Sarah Vaughan.

Nos últimos anos da década de quarenta, Wilson volta a se destacar nas eleições de melhor pianista das revistas Metronome e Esquire. Ele também monta um grupo com músicos mais ligados ao bebop, como o saxofonistya Wardell Gray, o guitarrista Billy Bauer e o baixista Arnold Fishkin. Entre 1949 e 1952, ele atuou como pianista da rádio WNEW.

A década de 50 foi marcada por temporadas na Europa, com destaque para seus concertos na Inglaterra, onde era um dos mais queridos músicos de jazz. Nos Estados Unidos, merece destaque o concerto realizado no dia 25 de março de 1952, onde novamente dividiu o palco com Charlie Parker, desta feita no teatro “Loew’s Valencia”, em Nova Iorque, tendo Eddie Safranski no contrabaixo e Don Lamond na bateria. Em 1955 Wilson participa do longa metragem “The Benny Goodman Story”, tendo Steve Allen no papel principal.

Nessa época, ele assina com a Verve, do produtor Norman Granz, e naquele selo grava, juntamente com seu trio, álbuns bastante elogiados como “For Quiet Lovers”, “I Got Rhythm” e “These Tunes Remind Me of You”. Na Verve, o pianista reencontrou o velho amigo Lester Young, gravando com ele o aclamado “Pres and Teddy”, nos dias 12 e 13 de janeiro de 1956.

Um dos mais estupendos discos de Wilson para a gravadora de Norma Granz é “The Impecable Mr. Wilson”. Acompanhado do contrabaixista Al Lucas e do baterista Jo Jones, o pianista destila todo o seu charme e refinamento, naquele que é considerado um dos momentos culminantes de sua gigantesca discografia. As gravações foram realizadas no dia 13 de setembro de 1956, em Nova Iorque.

A abertura fica por conta de uma acelerada versão de “I Want to Be Happy”, de Irving Caesar e Vincent Youmans. Lucas tem uma pegada robusta e se sai muito bem nos tempos rápidos. Jones é um mestre da percussão, provavelmente o mais moderno dos bateristas do swing, e seu trabalho com as escovas – ele preferia usá-las, ao invés de baquetas, quando atuava com Wilson – é sensacional. O líder tem um domínio rítmico e melódico perfeito e a inclusão de elementos do bebop em sua execução apenas o torna um pianista ainda mais interessante.

Em seguida, dois temas da dupla Andy Razaf & Fats Waller: “Ain't Misbehavin'” e “Honeysuckle Rose”. O andamento mais lento da primeira reforça a influência do blues e revela as qualidades de Wilson como um excepcional executante de baladas. Na segunda, evidencia-se o amplo domínio da técnica do stride piano, com destaque também para as notáveis performances de Jones e Lucas.

O versátil pianista trafega pelas veredas sinuosas do bebop, em “Fine and Dandy” e “I Found a New Baby”, com a autoridade e a desenvoltura de quem compartilhou os palcos com Charlie Parker e seu controle do tempo e dos andamentos é admirável. Sua elegância, traduzida na simplicidade e no parcimonioso dos acordes, dá uma nova dignidade a standards como “Sweet Lorraine”, de Clifford Burwell e Mitchell Parish, e “Laura”, de David Raksin e Johnny Mercer.

Baladas românticas como “It's the Talk of the Town”, de Al Neiburg e Jerry Livingston, e “Time on My Hands” de Mack Gordon e Vincent Youmans, recebem arranjos sofisticados mas que, ao mesmo tempo, não soam pomposos. Os ingredientes usados por Wilson são o bom gosto, o comedimento e a concisão. Sua articulação se baseia em discursos harmônico-melódicos breves, tornando dispensáveis os acordes em profusão ou as exibições gratuitas de virtuosismo.

Mesmo quando precisa se exprimir nos andamentos mais candentes, como é o caso de “Undecided”, de Leo Robin, ou “Who Cares”, de George e Ira Gershwin, ele evita a profusão de notas e a verborragia sonora. A maneira como ele estabelece o diálogo com o contrabaixo e a bateria também é exemplar. Na companhia do pianista, Jones, conhecido por seu dinamismo e impetuosidade, jamais recorre a expedientes gratuitos, como o rufar interminável dos tambores, mantendo sempre uma abordagem percussiva vibrante, mas sem excessos.

Para finalizar, mais um tema dos irmãos Gershwin, “Our Love Is Here to Stay”, outra belíssima interpretação do trio, com uma atuação primorosa do líder. A arte de Wilson sem assemelha a uma iguaria fina, preparada por um chef criativo e desprovido de frescura. Nesse disco, podemos saborear essa culinária refinada e exclusiva, muitas e muitas vezes, sem corrermos o menor risco de ter uma indigestão.

Os anos vindouros continuariam a ser de muito trabalho. Wilson voltou a tocar com Benny Goodman, durante uma excursão à União Soviética, em 1962. Uma das facetas pouco conhecidas do pianista é a sua militância política e seu envolvimento com organizações de esquerda dos Estados Unidos. Esse envolvimento lhe valeu o apelido de “Marxist Mozart”, dado pelo dançarino Howard “Stretch” Johnson, outro artista bastante engajado politicamente. Wilson realizou concertos a fim de arrecadar fundos para o jornal “The New Masses” e contribuiu para a “Russian War Relief”, durante a II Guerra Mundial.

Wilson, juntamente com outros artistas simpáticos à causa da esquerda, como Al Haig, Paul Robeson e Cy Oliver, fez parte do comitê artístico que apoiava a candidatura do advogado Benjamin J. Davis, um dos maiores expoentes da luta pelos direitos civis entre as décadas de 30 e 60. Negro e membro do Partido Comunista, Davis foi eleito para o cargo de vereador de Nova Iorque em 1943, obtendo maciça votação no Harlem. Ele foi bastante perseguido por suas convicções políticas e passou vários anos na prisão. Morreu em 1964, em decorrência de um câncer no pulmão, quando fazia campanha para o senado, concorrendo pelo pequeno “People’s Party”.

Em 1969, o pianista participou do projeto “Jazz At The Philarmonic”, sob a batuta de Norman Granz, apresentando-se ao lado de luminares como Clark Terry, Dizzy Gillespie, Benny Carter, Coleman Hawkins, Zoot Sims e outros. Durante o terço final daquela década, manteve um quarteto com o trompetista Bobby Hackett.

Nos anos 70, Teddy continuou a excursionar pelo mundo, liderando seus trios em freqüentes temporadas pela Europa e Japão. Também participou de festivais de jazz ao redor do planeta, apresentando-se em Tóquio, Montreux, Nice, Chicago, Pescara e muitos mais. Em boa parte de seus concertos dos anos 70, Teddy se apresentava ladeado pelos filhos, o contrabaixista Theodore e o baterista Steven Wilson.

Goodman e Wilson voltariam a tocar juntos na edição de 1973 do Newport Jazz Festival, causando uma verdadeira comoção na platéia. A maturidade fez muito bem ao pianista e algumas de suas melhores gravações foram feitas durante as décadas de 60 e 70 , para o selo britânico Black Lion, como “Stomping At The Savoy” (1967), “Runnin' Wild” (gravado ao vivo no Festival de Montreux de 1973) e “Blues for Thomas Waller” (1974). Ele também gravou para outros selos europeus, como o dinamarquês Storyville e o francês Black & Blue.

O pianista fez alguns trabalhos na área da publicidade, compondo jingles para o rádio e a TV. Em uma bem-humorada entrevista ao jornalista Les Tomkins, ele esclareceu: “Respeitado o limite da razoabilidade, um músico profissional deve se ocupar de música e, mesmo que não goste, deve estar preparado para tocar até em contextos mais comerciais. Já trabalhei em trilhas para comerciais no rádio e na TV. Eles pagam bem e eu tenho um monte de obrigações, inclusive filhos para criar. De qualquer maneira, se me pagarem bem, eu toco até no Pólo Norte”.

Como nos lembra Pedro Cardoso, Wilson “plantou e colheu desde muito jovem todos os possíveis ensinamentos da cultura musical e pianística, tornando-se um executante super-dotado mas sem exuberância, completo mas sem exibicionismos”. Nele é possível encontrar uma síntese dos grandes pianistas que o precederam e que fizeram escola, em especial Art Tatum, Earl Hines e “Fats” Waller e, ainda segundo o Apóstolo do Jazz, “o virtuosismo do fraseado de Teddy este baseado em 02 pilares únicos e sólidos: rigor e simplicidade”. 

Wilson faleceu no dia 31 de julho de 1986, em decorrência de um câncer intestinal, nas dependências do “New Britain Hospital”, em New Britain, estado de Connecticut, onde estava internado há várias semanas. Seu corpo foi enterrado no “Fairview Cemetery” e entre os seus muitos herdeiros musicais é possível apontar os nomes de Mel Powell, Joe Bushkin, Jimmy Rowles, Hank Jones, Dave McKenna, Clyde Hart, Sonny White, Sir Charles Thompson e Ray Bryant, entre muitos outros.

Para o pesquisador Sylvio Lago, Wilson era um mestre da harmonia e “sua arte era caracterizada pelo refinamento do toque, cinzelando cada nota com fraseados delicadamente esculpidos e com equilíbrio das expressões melódica, harmônica e rítmica. As improvisações eram curtas, virtuosísticas, e com gosto pronunciado para a espontaneidade dos andamentos, do fraseado e do controle dinâmico”.


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