Música e outras coisas
JOGANDO NAS ONZE
Antigamente, no tempo em que os bichos falavam, havia o chamado jogador polivalente, aquele que atuava em diversas posições do campo e cumpria um monte de funções táticas diferentes. Talvez o mais célebre desses jogadores tenha sido Paulo Isidoro, que despontou para o mundo do futebol no Atlético Mineiro, vice-campeão brasileiro de 1977, em um time que tinha craques como Reinaldo, Marcelo e Toninho Cerezo. Isidoro era, em sua origem, um habilidoso ponta-de-lança, mas também atuava como meia armador, ponta direita e, mais raramente, até como cabeça-de-área.
Espécie de xodó de Telê Santana, que o descobriu ainda nas categorias de base do Atlético Mineiro, Isidoro foi um dos integrantes da seleção que encantou o mundo na Copa do Mundo de 1982. Fez poucos jogos, porque disputava posição com craques como Zico, Sócrates e Éder, todos no auge da forma física e técnica. Em sua vitoriosa carreira, passou por times como Santos, onde conquistou o Paulistão de 1984, Guarani e Grêmio, onde sagrou-se campeão brasileiro em 1981.
Bom, se o jazz tem um músico polivalente, o seu nome é James Peter Giuffre. Jimmy, para os íntimos. Duvida? Como intérprete ele dominava toda a família dos saxofones, com especial predileção pelo tenor e o barítono, e mais a flauta e o clarinete. Atuou em grandes orquestras do swing nos anos 40 e foi um dos precursores de pequenos grupos sem piano na década seguinte, uma novidade para a época. Compositor, arranjador e educador musical, ele inscreveu seu nome em praticamente todas as vertentes do jazz.
Compôs e arranjou a célebre “Four Brothers” para a orquestra de Woody Herman, que além de ter feito grande sucesso, ainda serviu para denominar os quatro saxofonistas que atuavam na big band: Zoot Sims, Stan Getz, Herbie Steward e Serge Chaloff. Outra composição sua, “The Train and The River”, também fez bonito nas paradas de sucesso dos anos 50. Figura de proa do chamado West Coast Jazz, Giuffre não hesitou em mergulhar de cabeça nas enigmáticas águas do free jazz e seu álbum “Free Fall” (Columbia, 1962), continua sendo, 50 anos depois de sua gravação, uma referência obrigatória dessa vertente tão polêmica.
Para que se tenha uma idéia da sua importância, basta conhecer a opinião do guitarrista Jim Hall, integrante do trio de Giuffre durante boa parte da segunda metade da década de 50: “Eu provavelmente aprendi mais com ele, em todos os sentidos, do que com qualquer outro músico com quem toquei. Jimmy era um estudioso, um músico extremamente sério e dedicado. E muito generoso. Ele possuía um senso de trio incomum, jamais reservando aos seus parceiros um papel secundário de meros acompanhantes”.
Nascido no dia 26 de abril de 1921, em Dallas, no Texas, Giuffre era filho de uma família de ítalo-americanos e desde cedo mostrou uma aptidão incomum para a música. Seus primeiros passos foram dados na Dallas Technical High School, onde, aos nove anos, iniciou-se nos estudos do clarinete. Aos onze, já participava de concertos e recitais de música erudita na cidade natal. Aos dezessete, já era um virtuose também ao sax tenor, instrumento que habitualmente tocava em bandas e orquestras de baile da região de Dallas.
Na mesma época, começou a freqüentar o curso de música da North Texas State Teachers College, em Denton, onde teve como colegas craques como o contrabaixista Harry Babasin e o guitarrista Herb Ellis, com quem dividia o alojamento. Giuffre era um apaixonado pelas orquestras do swing e tinha especial predileção pela big band de Jimmie Lunceford. Em 1942, em plena II Guerra Mundial, Jimmy, já com o diploma nas mãos, se alistou no exército, mas não chegou a entrar em combate.
Dispensado no final de 1945, ele atuou em algumas orquestras, como as de Boyd Raeburn, Red Norvo (com quem fez suas primeiras gravações, em 1946, numa formação que incluía o notável Dexter Gordon), Jimmy Dorsey e Buddy Rich. Em 1947 ele aportou na orquestra de Woody Herman, como saxofonista, mas foi essencialmente por seu trabalho como arranjador e compositor que ele se tornou conhecido no mundo do jazz. Seus arranjos pouco ortodoxos ajudaram a big band a se firmar como uma das mais peculiares da época, com uma sonoridade moderna e cheia de personalidade.
A convivência estendeu-se até 1949, quando Herman desfez a orquestra. No ano seguinte, Jimmy se muda para Los Angeles, a fim de fazer o mestrado na University of Southern California. Ali, conheceu o maestro e compositor Wesley La Violette, que se tornaria uma de suas principais referências não apenas musicais, mas também intelectuais. Culto, profundo conhecedor da filosofia oriental e autor de diversos livros na área de teoria musical, La Violette era também um respeitado poeta e sob sua orientação o trabalho de Giuffre tornou-se ainda mais ousado.
Durante esse período, o saxofonista ingressa na banda de Shorty Rogers, outro célebre aluno de La Violette, ao mesmo tempo em que passa a tocar com freqüência no Lighthouse Café, Hermosa Beach. O local era uma espécie de quartel-general do West Coast Jazz, e virtualmente todos os grandes nomes do estilo passaram por seu palco. Um dos donos do clube era o baixista Howard Rumsey, cuja banda, o Howard Rumsey's Lighthouse All Stars, congregava portentos como Shorty Rogers, Shelly Manne e o próprio Giuffre, que além do saxofone era responsável pelos arranjos e, eventualmente, por algumas composições. Uma delas, “Big Boy”, feita em parceria com Rogers, chegou a fazer algum sucesso nas paradas de jazz da época.
Em 1955, ainda na condição de membro da banda de Rogers, apropriadamente chamada “Shorty Rogers and His Giants”, Giuffre deu uma nova ênfase em sua busca por novos caminhos musicais. Sua estréia como líder aconteceu naquele ano, com a gravação de “Tangents in Jazz” (Atlantic), cuja atmosfera camerística, aliada à ausência do piano, mereceu muitos elogios por parte da crítica especializada.
Cada vez mais respeitado como compositor e arranjador, ele também se consolidou como um disputado acompanhante, tendo participado de gravações sob a liderança de sumidades como Gerry Mulligan, Maynard Ferguson, Buddy DeFranco, Marty Paich, Shelly Manne (Jimmy participa do audacioso disco “The Three and the Two”, gravado para a Contemporary em 1954), Charles Mingus, Herb Ellis, John Lewis e Teddy Charles, entre outros.
Ele então desfrutava da ótima repercussão de seu disco “The Jimmy Giuffre Clarinet” (Atlantic, 1956), onde interpreta standards e composições próprias, em formações inusitadas, incluindo uma faixa apenas ao clarinete solo. Considerado ousado para a época, o disco incorporava instrumentos pouco utilizados no jazz, como a celeste (a cargo do pianista Jimmy Rowles), o oboé, o fagote e o clarinete baixo. A seu lado, alguns dos mais brilhantes expoentes do jazz californiano, como Shelly Manne, Shorty Rogers, Bob Cooper, Jack Sheldon, Bud Shank e Stan Levey, além do veterano trompetista Harry “Sweets” Edison.
Em 1957, Giuffre já havia deixado os Giants e formou um quarteto com o pianista Jimmy Rowles, o baixista Red Mitchell e o baterista Lawrence Marable. O grupo não durou muito tempo e deixou apenas um registro, o álbum “Ad Lib”, para a Verve, gravado naquele mesmo ano. Logo em seguida, Jimmy monta o seu primeiro trio, uma formação nada usual, que incluía o guitarrista Jim Hall e o contrabaixista Ralph Pena, que futuramente daria lugar a Jim Atlas.
O grupo fez um considerável sucesso no circuito de clubes de Los Angeles e logo estava gravando seus primeiros discos. A sorte deu uma mãozinha e Giuffre foi um dos escolhidos para participar do programa televisivo The Sound of Jazz. Levado ao ar pela rede CBS, o programa enfocava a história e a evolução do jazz, levando aos estúdios veteranos como Count Basie, Coleman Hawkins, Roy Eldridge, Milt Hinton e Rex Stewart e músicos da nova geração, como Bob Brookmeyer, Mal Waldron e Nat Pierce.
Giuffre, acompanhado por Hall e Atlas, executou “The Train and the River”, uma composição de sua autoria em que misturava jazz com folk e uma pitada de blues, e o sucesso foi imediato. O tema passou um longo período entre as mais executadas nas paradas de jazz e chamou a atenção do público para o trabalho daquele jovem compositor, arranjador e que, além do sax tenor, ainda era um ás na clarineta e no sax barítono. Além disso, durante as gravações do programa, Jimmy pôde conhecer pessoalmente e tocar ao lado de ídolos como Pee Wee Russell e Lester Young.
Em 1958, uma nova e ousada reformulação do trio. Sai Atlas e, em seu lugar, entra o trombonista Bob Brookmeyer. Inspirado pela música contemporânea do compositor Aaron Copland, o grupo foi um dos destaques do Newport Jazz Festival daquele ano. Uma frase atribuída a Stan Getz é mais do que adequada para entender as concepções estéticas de Jimmy: “Um músico de jazz deve ter quatro características essenciais: irreverência, bom gosto, coragem e personalidade”. Em Giuffre e seus parceiros, tais características eram abundantes.
Como uma trinca de missionários musicais e inspirados pelos ideais da Geração Beat, Giuffre, Hall e Brookmeyer cruzaram os Estados Unidos, a bordo de um furgão, se apresentando em todos os locais e para todas as platéias dispostas a ouvir aquela sonoridade “repleta de elementos pastorais e enriquecida com inflexões de blues”, na análise do crítico Ted Gioia. Essa formação deixou dois registros, ambos gravados em 1958 para a Atlantic: “Travlin’ Light” e “Western Suite”.
No ano seguinte, Brookmeyer deixa o grupo para se dedicar a outros projetos musicais e Giuffre chama um baixista para se juntar a ele e a Hall em sua nova incursão fonográfica: o excelente Ray Brown, então membro do trio de Oscar Peterson. É exatamente com essa formação que Jimmy grava o fabuloso “The Easy Way”. Nas notas do disco, gravado para a Verve nos dias 06 e 07 de agosto de 1959, o clarinetista (que aqui também toca saxes tenor e barítono), informa que “o clima da sessão estava tão relaxado e as coisas fluíam de maneira tão natural que o nome do disco só poderia ser esse”.
E é exatamente “The Easy Way”, composta pelo líder no intervalo entre as gravações, que abre o álbum, com a sua sofisticada confluência de música erudita, blues, jazz e folk. O clima é reflexivo, remetendo à música de câmera, com o clarinete de Jimmy atingindo timbres inusitados e, por vezes, sombrios. A melodia tem algo de hipnótico, mas não segue um padrão linear. Ao contrário, é oblíqua, dissonante, e o contraponto entre a sonoridade volumosa do contrabaixo e o minimalismo da guitarra de Hall torna a audição uma experiência transcendente.
A originalidade do trio se revela em sua inteireza na estupenda versão de “Mack The Knife”, de Bertold Brecht e Kurt Weill. O arranjo, sofisticado e simples, dá à canção um inédito ingrediente lírico, acentuado pelo sopro despojado de Giuffre. Hall está particularmente inspirado e sua abordagem classuda e ao mesmo tempo econômica é uma prova irrefutável de que é possível atingir a excelência usando poucas notas.
Em “Come Rain Or Come Shine”, de Harold Arlen e Johnny Mercer, a interpretação do trio é etérea, repleta de pausas e intervalos inesperados e recheada de momentos pungentes. Giuffre talvez seja o clarinetista mais lírico do jazz, com uma verve onde técnica apurada e sensibilidade se misturam na mesma medida. Brown conduz a marcação com habitual lucidez, mas deixa de lado a pegada exuberante que é uma de suas principais características, para adotar uma postura contemplativa e sóbria.
Outro tema de Giuffre, “Careful” é um blues intrincado, com harmonias heterodoxas e um clima abstracionista, que encontra algum paralelo com o trabalho do Modern Jazz Quartet. A atuação de Hall talvez seja o maior destaque individual, mas o que chama a atenção é o incrível entrosamento dos três, que se entendem e se comunicam quase telepaticamente. A bordo do sax tenor, o líder exibe a mesma destreza e a mesma capacidade de criar texturas sonoras de rara beleza.
Na faixa mais agitada do disco, “Ray's Time”, o trio adota uma postura descontraída, criando uma verdadeira atmosfera de jam session. Composta por Giuffre em homenagem ao baixista da sessão, é um refinado blues em tempo médio e o líder novamente utiliza o sax tenor. Embora seu andamento seja mais rápido que o da maioria das faixas, não se espere aqui uma abordagem eletrizante ou exibições gratuitas de virtuosismo. O tema se desenvolve com naturalidade, mas sempre de maneira bastante fiel à lógica do cool jazz, uma estética baseada na sobriedade, no bom gosto e na clareza de idéias.
Parceria de Giuffre e Johnny Mercer, “A Dream” é praticamente uma vinheta, com pouco mais de dois minutos, executada ao clarinete, sem outro acompanhamento. Sua estrutura se aproxima bastante do repertório erudito, com ecos de Igor Stravinsky e Bela Bártok, mas também sinaliza em direção ao jazz de vanguarda, estilo que Jimmy abraçaria com fervor e obstinação em um futuro bastante próximo. A fantasmagórica “Montage”, uma inusitada parceria entre o clarinetista, Duke Ellington e Charles Mingus, segue a mesma linha, inclusive no tempo de duração (não chega a dois minutos) e conta com as presenças de Hall e Brown, em performances minimalistas.
Também composto pelo líder, “Off Center” é um tema introspectivo, ondulante, com uma visível influência de Thelonious Monk. Os diálogos entre Hall e Giuffre, novamente ao clarinete, são breves, quase sussurrados, e pontuados de dissonâncias. Brown incorpora elementos do blues em sua abordagem e seu dedilhado imponente e profundo soa como uma espécie de força vital, autêntica e primitiva, incapaz de ser subjugada.
O encerramento fica a cargo de “Time Enough”, mais uma composição do líder. A bordo do sax barítono, Jimmy e seus homens compõem um verdadeiro mosaico de timbres. A cadência rítmica imposta por Brown é notável e os acordes preciosos de Hall, cheio de nuances e alternâncias harmônicas. Um disco que foge aos cânones do mainstream e mostra um artista no auge maduro, mas também inquieto, sempre pronto para trilhar novos caminhos e encarar desafios.
No final dos anos 50, Jimmy seria um dos professores da cultuada Lenox School of Jazz, no Massachussets, onde estudou o profeta do free jazz Ornette Coleman. É possível que a convivência com o aluno Coleman, que mais tarde também seria professor daquela instituição, tenha tido algum impacto nas futuras escolhas de Giuffre. Importante ressaltar que o pianista John Lewis, que também dava aulas em Lenox e além de amigo de Giuffre tinha bastante afinidade musical com o clarinetista, era um grande admirador das concepções musicais de Ornette.
Ainda em 1959, Jimmy participou das gravações de quatro álbuns notáveis: “Cool Heat”, da cantora Anita O’Day, “Lee Konitz Meets Jimmy Giuffre”, do saxofonista Lee Konitz (com participações de Warne Marsh, Ray Brown e Bill Evans), “Sonny Stitt Plays Jimmy Giuffre Arrangements”, do saxofonista Sonny Stitt, e “Herb Ellis Meets Jimmy Giuffre”, do guitarrista Herb Ellis. Lançados pela Verve, os discos têm em comum os arranjos elaborados por Giuffre e foram muito bem recebidos pela crítica.
No ano seguinte, Jimmy montou um novo trio, com o pianista canadense Paul Bley e o jovem contrabaixista Steve Swallow. As investigações harmônicas e melódicas anunciadas em seus trabalhos anteriores ganharam contornos ainda mais radicais e o grupo mergulhou de cabeça jazz experimental. Todavia, os dois primeiros trabalhos do trio, “Fusion” (1961) e “Thesis” (1962), ambos gravados para a Verve, obtiveram pouca repercussão por parte do público e da crítica.
Já o mesmo não aconteceu com o terceiro, “Free Fall”, gravado entre julho e novembro de 1962 e lançado pela Columbia, que embora tenha sido virtualmente ignorado pelo público, foi saudado pelos críticos como uma obra revolucionária. O disco possui uma atmosfera melancólica, introspectiva, muito distante do trabalho mais agressivo de músicos como o próprio Ornette Coleman, Archie Shepp ou Albert Ayler, guardando alguma proximidade com a obra de compositores da vanguarda erudita, em especial com as de Darius Milhaud e Karlheinz Stockhausen.
Todavia, desencantado com a indiferença do público em relação ao seu trabalho, Giuffre desfez o trio no ano seguinte. O crítico Thom Jurek narra como foi melancólica a separação: “O disco trazia uma música extremamente radical e ninguém, literalmente ninguém estava preparado para aquilo. O trio se separou pouco tempo depois, após um concerto em um clube, no qual cada um recebeu um cachê de apenas 35 centavos por um set”.
Em meados daquela década, Jimmy fez uma nova tentativa com um trio nos moldes do anterior, agora com Don Friedman no piano e Barre Phillips no contrabaixo. Novamente, houve algum reconhecimento por parte da crítica mas bem pouca repercussão junto ao público, tanto que esse grupo sequer chegou a gravar, limitando-se a apresentações em clubes.
Foram dez anos sem gravar como líder e durante aquele período Giuffre se concentrou no ofício de arranjador e compositor, embora tenha feito alguns trabalhos com a bandleader Carla Bley. Também enveredou pela educação musical, ministrando aulas de teoria musical, regência e composição em instituições como a New York University, Rutgers University, Manhattanville College, the Creative Music Studio, New School of Social Research e New England Conservatory. Em 1969 lançou um livro, “Jazz phrasing and interpretation: Aspects of jazz performance, analyzed for the player”, pela Associated Music Publishers.
Sua volta aos estúdios ocorreu em 1972, com o álbum “Music for People, Birds, Butterflies and Mosquitos” (Choice). Naquela época Giuffre liderava um novo trio, agora com o baixista Kiyoshi Tokunaga (mais tarde substituído por Bob Nieske) e o baterista Randy Kaye, e havia desenvolvido enorme interesse pela flauta baixo e pelo sax soprano. No final da década, com a adição do tecladista Marc Rossi, além de utilizar em sua banda instrumentos eletrificados, como o sintetizador e o contrabaixo elétrico, Jimmy enveredou pela vertente fusion, lançando alguns discos pelo selo italiano Soul Note.
Nos anos 80, ainda bastante envolvido com a educação musical, Giuffre grava pouco, mesmo como sideman. A maior parte de seu trabalho como compositor é direcionada a trilhas para o teatro, balé e comerciais de TV. Em 1984, recebeu uma merecida homenage, ao ter seu nome inscrito no NARAS Hall of Fame. A grande novidade daquele período foi a sua volta ao formato acústico, com o lançamento de dois álbuns em duo com o pianista francês Andre Jaume: “Eiffel: Live in Paris” (CELP, 1987) e “Momentum” (Hatology, 1988), ambos bastante impregnados da estética free.
Nos anos 90, Jimmy retoma a parceria com Paul Bley e Steve Swallow, lançando o excelente “Fly Away Little Bird” (Sunny Side, 1992), que embora contenha muitos elementos de livre improvisação, não é um trabalho hermético ou pretensioso, com direito a belas versões de standards como “I Can't Get Started”, “All the Things You Are”, “Sweet And Lovely” e “Lover Man”. Além disso, com o relançamento em CD de “Free Fall”, as idéias propostas no disco foram melhor compreendidas e ele finalmente despertou o interesse do público, especialmente das novas gerações de fãs do jazz.
Em 1995 Giuffre foi diagnosticado como portador do Mal de Parkinson, doença degenerativa que compromete gravemente os movimentos, e se afastou, paulatinamente, dos palcos, estúdios e salas de aula. Ele se recolheu à sua casa, em West Stockbridge, na área rural do Massachusetts, sob os cuidados da esposa Juanita Giuffre. Jimmy faleceu no dia 24 de abril de 2008, na cidade de Pittsfield, também em Massachusetts, a poucos dias de completar 87 anos, em conseqüência de uma pneumonia.
Seu legado ainda não foi completamente aquilatado pelos estudiosos, mas é indiscutível que ele tenha escrito algumas das mais belas páginas do grande livro do jazz. Sobre o seu envolvimento com o free jazz e a livre improvisação, as palavras do crítico Ted Gioia exprimem com clareza e um raro senso de oportunidade, o papel que coube a Giuffre no desenvolvimento desse estilo: “Sua caminhada dentro do free jazz se assemelha às jornadas de personagens como Huck Finn ou Phileas Fogg, nas quais as aventuras ao longo do caminho são bem mais interessantes do que o destino final”.
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