Música e outras coisas
A mais bela versão de “Lonely Woman”?
Um dos temas resgatados por Ornette Coleman para formar o repertório de sua atual turnê é a balada “Lonely Woman”, como pôde ser apreciado nos shows desse fim de semana. A faixa apareceu pela primeira vez no álbum “The Shape Of Jazz To Come”, de 1959, e tem renascido em diferentes contextos nessas cinco décadas. Depois de gravá-la no fim dos 50, Coleman apenas voltou a revisitá-la em 1965, quando abandonou seu auto-exílio, reagrupando-se a David Izenzon e Charles Moffett.
Uma das primeiras paradas desse trio, em 65, foi no bar novaiorquino Village Vanguard. Logo depois, surgiu o primeiro grande compromisso deles, que foi a criação da trilha para o filme “Chappaqua”, realizada em junho de 65 e que contou com a presença de Pharoah Sanders. O trabalho teria rendido um dinheiro bom, e o trio decidido passar uma temporada na Europa, onde tocaram em Paris, Londres, Estocolmo e Copenhague (todas esses concertos foram gravados).
Antes de desembarcar na Suécia, em dezembro daquele ano, e fazer as apresentações que geraram o duplo “At The Golden Circle”, o trio parou na Dinamarca. No dia 30 de novembro, subiram ao palco de ‘Tivoli’ (Copenhague) e fizeram um show mais introspectivo que o habitual. Foi dessa apresentação que nasceu talvez a mais bela versão de “Lonely Woman”: solidão e desencanto emanam de cada frase; arrastada, profunda, com Ornette alongando as notas no sax e deixando a faixa correr por mais de 12 minutos (a versão original conta com 5 minutos). É difícil seguir ouvindo o disco sem ficar tentado a retornar para “Lonely Woman”, uma vez mais, e outra: quem disse que Ornette não pode soar cruelmente soturno?
1. Lonely Woman (12:20)
2. Clergyman's Dream (19:03)
3. Sadness (3:55)
4. Falling Star (14:25)
5. Interview (3:10)
*Ornette Coleman: alto, trumpet, violin
*David Izenzon: bass
*Charles Moffett: drums
"Tivolis Koncertsal", Copenhagen, Denmark, November 30, 1965.
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