FAMÍLIA QUE TOCA, COMPÕE, ARRANJA, PRODUZ UNIDA...
Música e outras coisas

FAMÍLIA QUE TOCA, COMPÕE, ARRANJA, PRODUZ UNIDA...





Se há uma família que enobrece e dignifica o jazz, essa é a família Marsalis. É claro que não se pode esquecer dos irmãos Powell (Richie e Bud), Montgomery (Wes, Monk e Buddy) ou Adderley (Cannonball e Nat), além de muitos outros exemplos. Mas a família Marsalis é especial, porque ali pontificam, além do pianista Ellis, o trompetista Wynton, o saxofonista Branford, o trombonista Delfeayo e, mais recentemente, o baterista Jason.

Todos mestres em seus respectivos instrumentos. Todos, além de exímios músicos, compõem, produzem e arranjam seus próprios discos e de outros grandes nomes do jazz atual. Ironicamente, o patriarca da família, o grande Ellis, somente ganhou uma certa notoriedade depois do estouro do seu filho mais velho, Wynton, a partir de meados dos anos 80. Até hoje Ellis se mantém como um respeitado professor em Nova Orleans e, além dos filhos, alguns dos seus destacados alunos no New Orleans Center for Creative Arts foram o pianista Harry Connick Jr. e o trompetista Nicholas Payton.

O membro mais célebre da família, Wynton, ainda é muito criticado por seu apego à tradição e por seu suposto academicismo excessivo. Bobagem! Os amantes do jazz têm para com Wynton uma dívida impagável, afinal ele é o Santo Guerreiro que lutou contra – e venceu – o Dragão da Maldade Fusion e trouxe o jazz de volta ao bom caminho. Quem acha que ele não sabe improvisar ou que possui somente técnica e nenhum feeling, recomendo a audição do box “Live at the Village Vanguard”. São 7 cd’s espetaculares e que atualmente podem ser encontrados a preços bastante razoáveis, onde técnica e swing se aliam em uma série memorável de concertos.

Voltando ao Ellis, sua produção discográfica é bissexta, mas de uma qualidade assombrosa, inclusive com um excelente tributo a Thelonious Monk, chamado “An Open Letter To Thelonious”. Contudo, gostaria de falar de um disco em especial, intitulado “Twelve’s It”, cujo destaque é, além do piano do Marsalis sênior, a bateria do caçula Jason. O rapaz honra a tradição da família e confirma o velho ditado popular “quem sai aos seus não degenera”. Além disso, assina a produção do disco, gravado entre março de 1996 e janeiro de 1998.

O piano de Ellis é refinado, econômico, fluido, sem pirotecnias ou exibições gratuitas de velocidade – um verdadeiro deleite para os ouvidos. Seu estilo lembra (eu disse lembra, não imita) Bill Evans – um toque delicado, mas com personalidade. Artífice da sutileza, se fosse um jogador de futebol, Ellis estaria mais para o elegante Ademir da Guia que para o intempestivo Robinho. O disco traz gravações ao vivo e em estúdio e boa parte do repertório é do próprio Ellis. A exceção fica por conta dos standards “I’ve Grown Accustomed to her Face” (Lerner/Lowe), “The Surrey With the Fringe on Top” (Rodgers/Hammerstein) e “The Party’s Over” (Comden/Greene/Styne), todas tocadas de maneira irrepreensível. Fazendo o discreto e eficiente acompanhamento, estão os baixistas Roland Guerin – nas faixas ao vivo – e Bill Hunttington – nas faixas em estúdio.

Na primeira faixa, que dá nome ao disco, o pianista logo diz a que veio. Cria um belíssimo clima no início e, à medida em que os outros instrumentos vão se agregando, a atmosfera idílica vai cativando o ouvinte até o fim da melodia. São 5min13s de puro enlevo. Outro destaque é a bela “Homecoming”, uma delicada balada com leve tintura de blues, onde o talento do baterista se revela em toda a sua extensão. “Zee Blues” é bebop da melhor qualidade, sintetizando o entrosamento entre piano, contrabaixo e bateria presente em todas as faixas. Um disco para ouvir a dois, de preferência com o auxílio luxuoso de uma boa garrafa de vinho.




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