Música e outras coisas
Top 10: algumas paradas obrigatórias - 2010
Dificilmente uma lista de ‘melhores’ ou ‘destaques’ escapará de subjetivismo e visões pessoalíssimas. Mas talvez a função basilar dessas seleções temporais e/ou temáticas seja exatamente essa: a de desnudar as impressões de seu autor, nada mais. Esse Top 10 busca somente apontar alguns discos que saíram em 2010 e deveriam ser obrigatoriamente degustados pelos apreciadores da boa música, daquela que tratamos por aqui. Assim, o ideal seria não encará-los como os melhores do ano ou algo do tipo – quer seja em relação aos que ficaram de fora, quer seja hierarquicamente dentro da própria listagem –, mas como grandes trabalhos que apareceram nos últimos 12 meses. Àqueles que deixaram de ouvir algum desses álbuns, ficam as dicas.
1. "Electricity"
Humanization 4tet
Esse é o segundo disco do quarteto encabeçado pelo guitarrista português Luís Lopes, ao lado de Rodrigo Amado e os irmãos americanos Stefan e Aaron González. O álbum tem sabor de coisa nova e não se acanha em buscar referências em fontes diversas –jazz, free, rock– para criar um som atual e intenso: o resultado é sensacional.
2. “Soulstorm”
Ivo Perelman
O album duplo marca o fim da ‘fase com cordas’ do saxofonista. Perelman se une a Daniel Levin (cello) e Torbjörn Zetterberg (baixo) nessa exploração que mescla passagens fluidas com pontuações de força aguda, sempre à sombra da poética clariceana.
3. “The Warrior”
Jooklo Duo
Aqui está a dupla mais feroz da atualidade. Os italianos Virgínia Genta (sax tenor) e David Vanzan (bateria) atingem o ápice da brutalidade nesse single (vinil, 7’’) impressionante. Ms. Genta exibe-se também ao soprano, tratando-o com a mesma robustez. Para ouvir seguidas vezes.
4. “The Horse Jumps/The Ship Is Gone”
The Vandermark 5
Disco duplo de um dos grupos mais criativos desses tempos. A trupe de Ken Vandermark recebe apoio extra, com a adição de Magnus Broo (trumpet) e Havard Wiik (piano), dando um novo colorido ao singular quinteto.
5. “Identical Sunsets”
Paul Dunmall e Chris Corsano
O baterista Chris Corsano, que tem se especializado em tocar duos-parcerias com saxofonistas (Paul Flaherty, Ms. Genta, Joe McPhee), se junta ao britânico Paul Dunmall. O saxofonista mostra que não é um simples herdeiro de Evan Parker, como gostam de apontar.
6. “Onecept”
David S. Ware
Disco que marca o retorno de Ware aos estúdios, após o transplante de rim que sofreu em 2009. Em trio, Ware explora, além do tenor, os poucos usuais saxello e stritch. Se o saxofonista não carrega mais a potência dos anos 90, se mantém firme como um dos maiores músicos vivos.
7. “At Temple University 1966”
John Coltrane
A gravação não é fresca, mas não deixa de se tratar de uma novidade. Esse show captado em 1966 permanecia, surpreendentemente, inédito, tendo sido resgatado dos arquivos de uma rádio. Não é todo ano que nos deparamos com um Trane no ápice da exploração free, ainda com gosto de novo.
8. “Searching for Adam”
Rodrigo Amado
O saxofonista português alcançou nesse “Searching for Adam” um de seus pontos elevados. Alternando-se entre dualidades (abstracionismo/melodia; fúria/contemplação), o álbum se constrói por meio de um discurso fresco e vigoroso. Quarteto de sax, trompete, baixo e bateria.
9. “El Enigma”
Paula Shocron
A pianista Paula Shocron é um dos mais interessantes novos frutos da viva cena jazzística argentina. Ao lado do saxofonista Pablo Puntoriero, criou um disco delicado, com toques ora minimalistas, ora pulsantes, no qual apresenta temas próprios que deslizam por improvisações seguras.
10. “Improvisações”FLACVem das redondezas a vibrante estreia do FLAC. Formado por Flávio Lazzarin (bateria) e André Calixto (sax), o duo foi uma das boas surpresas do ano. “Improvisações” faz parte de diferentes projetos conduzidos por Lazzarin em seu selo, ‘Zumbidor’.
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