Nas Prateleiras...
Música e outras coisas

Nas Prateleiras...


Apanhado mensal de lançamentos recentes imperdíveis da free music.
Ouça, divulgue, compre os discos.



Topus
Hidden Forces
*Bruce’s Fingers

Vem de Sevilha, Espanha, esse novo trio. Formado por clarinete/clarone (Gustavo Domínguez), baixo (Marco Serrato) e bateria (Borja Díaz ), o Hidden Forces revitaliza o formato trio com peças que vão de graus de maior intensidade concentrada (“Custodia de Canaán”) a composições mais contemplativas e envolventes (“Topus”), utilizando a a liberdade improvisativa e a ruidosidade de forma sempre imaginativa, dentro do contexto demandado por cada tema. Curioso notar que Díaz e Serrato vêm do metal, sendo integrantes da banda de doom Orthodox, experiência que não ecoa explicitamente  nessa nova investida.











Rocket Fish
Signs of the Silhouette
*Sots Discos

Signs of the Silhouette é o nome de um projeto desenvolvido pelos portugueses Jorge Nuno (guitarra) e João Paulo (bateria). “Rocket Fish” é o segundo capítulo de uma trilogia que o duo vem trabalhando. Essas criações sonoras foram concebidas para serem apresentadas junto a experiências videográficas, a cargo de Miguel Cravo. Dessa forma, sua intensidade máxima não pode ser absorvida apenas com a escuta do álbum (em vinil). No entanto, a audição direta do disco oferece momentos intrigantes, com a guitarra de Nuno oscilando em diferentes esferas, ora mais pontilhística, ora mais áspera, sempre gestando uma camada etérea envolvente. Em setembro, os caras vem a SP, na Serralheria, mostrar a obra.






      
Solid and Spirit
Peter Brotzmann & Hamid Drake
*Nero’s Neptune  

Peter Brotzmann e Hamid Drake se reencontraram para essa nova sessão de sopro/percussão em abril de 2010, que sai agora em vinil duplo. Difícil decepcionar uma parceria como esta, envolvendo dois dos maiores nomes da free music. Mas talvez fosse possível desejar, de um modo geral, um pouco mais de stamina – apesar de as longas faixas não deixarem de reservar pontos de maior potência. O tema do lado B do disco 1 e o último do lado B do disco 2 concentram os diálogos mais encorpados, com Brotzmann empunhando saxofone. Não faltam também espaços para o B-flat clarinete e o tarogato, sem os quais um concerto do alemão hoje em dia não está completo.





(9) Syllables
Nate Wooley
*Mnóad

Um dos nomes fortes do trompete contemporâneo, Nate Wooley surge com esse altamente experimental trabalho solo. Lidando com explorações amplificadas de seu trompete, Wooley cria uma extensa suíte, em nove partes, nas quais investiga possibilidades extremas de seu instrumento, utilizando técnicas expandidas que realocam a relação corpo-trompete: embocadura, língua, pressão do sopro, ritmo dos dedos, gestuais inabituais, tudo para criar camadas e texturas sonoras que transitem por novas trilhas, que gerem campos inauditos.  






Overground to the Vortex
François Carrier
*Not Two

O saxofonista canadense François Carrier encontrou o baixista britânico John Edwards (que já esteve algumas vezes no país) nessa sessão gravada ao vivo em dezembro de 2011. Carrier mantém seu lírico improviso em alta freqüência, encontrando no dedilhado sem brechas de Edwards o contracampo ideal para suas frases de curto fôlego. Na bateria, Michel Lambert mostra ser o pulso vital da música que o sax alto desenvolve nos últimos anos. O discreto piano de Steve Beresford, que se destaca um pouco mais no segundo tema, completa o quarteto. Carrier (que disponibilizou um bônus track do concerto, abaixo) é um dos mais maduros e envolventes sax alto da cena free.







Zebulon
Peter Evans
*More is More

Esse álbum saiu no fim do primeiro trimestre, mas injustamente ainda não havia aparecido aqui. O trompetista americano Peter Evans, com seu novo trio ao lado de John Hébert (baixo) e Kassa Overall (bateria), concebeu este fantástico Zebulon, registro de muita energia e inventividade implacável. O álbum se resume a quatro longas faixas, captadas ao vivo em março de 2012, que desvelam a amplitude do sopro incandescente de Evans. “Lullaby” reúne as viradas mais impressionantes do trio, com momentos de intensidade arrebatadora do trompete contrastando com a fragmentada bateria de Overall. Para quem prefere ir direto ao ponto, vale começar a audição pela última faixa, “Carnival”, certeira e sem rodeios. Um dos grandes lançamentos do ano.




The Flame Alphabet
Rodrgio Amado Motion Trio
*Not Two


O Motion Trio – Rodrigo Amado, saxofone; Miguel Mira, violoncelo; e Gabriel Ferrandini, bateria – chega a seu terceiro álbum repetindo a parceria certeira com o trombonista americano Jeb Bishop. O diálogo entre os sopros de Amado e Bishop está no centro da obra. Nunca se sobrepondo de maneira conflituosa, trombone e sax tenor traçam linhas que moldam as peças com um lirismo enérgico, evitando melodias de fácil rememoração. Essa parceira já havia sido testada com louvor no disco anterior do Motion Trio, “Burning Live at Jazz ao Centro”. O próximo trabalho do trio trará como convidado Peter Evans.




Honorável Harakiri
*Mansarda Records


Porto Alegre tem se mostrado altamente ativa nos últimos tempos. E o selo Mansarda Records é o difusor central das experiências improvisativas desenvolvidas por lá. Diego Dias (sopros) Marcio Moraes (guitarra) e Michel Munhoz (bateria) mostram com Honorável Harakiri uma face dessa cena, com improvisações de elevada intensidade. O disco pode ser dividido em três seções: as versões para a faixa-título, que reúnem os picos de força (destaque para I e IV); os mais discretos duos; e os dois takes de “Amanhecer em Shibuya”, que trazem os únicos momentos “previamente pensados”.
Atenção à bela capa criada por Munhoz.  





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