Música e outras coisas
historia dos instrumentos Musicais
ÍNDICE
I – OS INSTRUMENTOS: classificação e breve história
1 – Panorama geral
2 – Classificação e histórico
2.1 – Instrumentos de cordas2.1.1 – Instrumentos de cordas friccionadas2.1.1.a – Violino
2.1.1.b – Viola
2.1.1.c – Violoncelo
2.1.1.d – Contrabaixo
2.1.1.e – Viola da gamba
2.1.2 – Instrumentos de cordas dedilhadas2.1.2.a – Alaúde
2.1.2.b – Bandolim
2.1.2.c – Guitarra espanhola / Violão
2.1.2.d – Harpa
2.1.3 – Instrumentos de cordas percutidas2.1.3.a – Cravo
2.1.3.b – Piano
2.2 – Instrumentos de sopro2.2.1 – Flauta transversal
2.2.2 – Flauta doce
2.2.3 – Oboé
2.2.4 – Corne inglês
2.2.5 – Clarinete
2.2.6 – Fagote
2.2.7 – Contrafagote
2.2.8 – Trompete
2.2.9 – Saxofone
2.2.10 – Trompa
2.2.11 – Trombone
2.2.12 – Tuba
2.2.13 – Órgão
2.3 – Instrumentos de percussão2.3.1 – Instrumentos de som determinado2.3.1.a – Tímpano
2.3.1.b – Carrilhão
2.3.1.c – Xilofone
2.3.2 – Instrumentos de som indeterminado2.3.2.a – Triângulo
2.3.2.b – Prato
2.3.2.c – Caixa
2.3.2.d – Bombo
2.3.2.e – Pandeiro
2.3.2.f – Tantã
2.3.2.g – Castanhola
I – OS INSTRUMENTOS: classificação e breve história
1 – Panorama geral
Talvez seja do compositor francês Héctor Berlioz, autor de um famoso “Tratado de orquestração”, a definição de música que conserva toda a sua vigência: “Qualquer corpo sonoro utilizado pelo compositor é um instrumento musical.”
A origem dos instrumentos musicais é remota e controversa e sua evolução acompanha a própria história das civilizações. Não há povo da Antiguidade que não tenha feito uso de instrumentos musicais mais ou menos rudimentares, já que a música é uma linguagem espontânea e inerente ao próprio homem, sendo provável que tenha aparecido antes da linguagem verbal.
Difícil precisar com rigor a época e o lugar em que surgiu o primeiro instrumento. Muitos existiram em mais de uma civilização antiga. Além disso, diversos instrumentos surgiram, praticamente ao mesmo tempo, em lugares distintos. O certo é que seu uso como entretenimento puro e simples é uma conquista recente, que remonta à Idade Moderna.
As culturas primitivas atribuíam a criação dos instrumentos aos deuses, pois acreditavam que a música tinha origem divina. Assim, de acordo com a mitologia grega, a flauta tinha sido inventada por Pan, a cítara por Apolo, a harpa por Narada, o alaúde por Pólux e a lira por Mercúrio.
Os antigos chineses, por sua vez, acreditavam que a gênese dos instrumentos musicais estava na tentativa de imitar os sons da natureza. Quando se trata de uma explicação racional, porém, chega-se à conclusão de que a origem dos instrumentos deve estar intimamente relacionada com a dança, o trabalho e as atividades guerreiras ou os ritos mágico-religiosos. A música seria um importante meio de reforço no desempenho dessas atividades básicas do homem antigo.
Nessas situações, o emprego de material com potencial sonoro, como armas, ferramentas, joias e adornos levou provavelmente à necessidade de “musicá-los”, isto é, desenvolver esse potencial. Essa tese nos fornece as bases para reconstruir sua evolução. A princípio, lançou-se mão de materiais da natureza ou objetos usados para outros fins. Posteriormente, as conquistas da técnica foram sendo gradualmente utilizadas na exploração de novos corpos sonoros.
É muito provável que os instrumentos rítmicos, chamados de percussão, tenham precedido, no tempo, os tonais e melódicos. Embora isso não, possa ser comprovado, por falta de documentos dos povos antigos, pode-se chegar facilmente a essa conclusão, observando-se a música das sociedades primitivas atuais da Oceania e África Central. Nelas, os instrumentos são basicamente rítmicos.
Pesquisas arqueológicas revelaram que, no período Paleolítico, instrumentos de pedra ou osso já eram utilizados como formas rudimentares de chocalhos, apitos, matracas ou mesmo trompas. No Neolítico, surgiram os primeiros tambores e flautas de osso e de bambu, bem como um primitivo instrumento, constituído de uma corda presa a um arco, em cuja extremidade se colocava a boca e, mais tarde, se fixava um objeto côncavo (um pote, por exemplo), que servia como caixa de ressonância. Este foi, sem dúvida, o precursor dos instrumentos de cordas. No 3º milênio antes de Cristo, apareceram as liras, na Suméria e sabe-se também da existência de harpas e alaúdes no Egito.
A criação de instrumentos musicais entre as civilizações da Antiguidade parece ter sido mais significativa na Ásia e no norte da África. Devemos nos lembrar, no entanto, de que não é fácil afirmar com certeza se um instrumento é originário de uma determinada região ou país, na medida em que eles podem ter sido transportados para as mais diferentes áreas, levados pelo homem em suas conquistas e invasões.
Numa visão de conjunto da música dos povos da Antiguidade, sabe-se, através do testemunho deixado por documentos – arte ou escrita -, que os egípcios, assírios, babilônios, hebreus, chineses, gregos e romanos conheceram muitas espécies de instrumentos musicais, como harpa, lira, alaúde, flauta, cítara, trompa, trompete, gaita, órgão, xilofone, além de inúmeros instrumentos de percussão: tambores, pandeiros, sistros, címbalos, castanholas e campainhas. Embora se encontrem, desde a Antiguidade, formas rudimentares de instrumentos de palheta, foi só na Idade Moderna que seu fabrico passou a ser aprimorado.
O crescimento da arte instrumental durante o século XVI, estimulado pela invenção dos tipos móveis de Gutemberg, que tornou possível a divulgação das partituras, provocou grande desenvolvimento na música e, consequentemente, o aparecimento de novos instrumentos e o aperfeiçoamento dos já existentes.
Nessa época, começaram a surgir os primeiros fabricantes, como os Andrea Amati, construtor de violinos em Cremona; Hans Ruckers, fabricante de cravos na Antuérpia; Hans Neuschel e sua manufatura de trombones em Nuremberg; e Jean Hottetere, especialista no fabrico de flautas e oboés. Dois séculos mais tarde, com a Revolução Industrial, a mecanização tornou possível a construção, em larga escala, de todos os tipos de instrumentos, o que barateou os custos e popularizou os instrumentos e a própria execução musical.
2 – Classificação e histórico
A evolução dos instrumentos se processou lenta e gradualmente através dos séculos. Foi na primeira metade do século XIX, com o grande desenvolvimento da música orquestral, sobretudo entre 1810 e 1850, que os instrumentos musicais adquiriram, em sua essência, as formas que ainda hoje apresentam.
Colocada a serviço da música, a tecnologia permitiu o aperfeiçoamento dos instrumentos, possibilitando a execução de qualquer som sugerido pelo compositor. A partir de então, os instrumentos passaram a existir em função da música e não mais o contrário. Não é exagero, portanto, afirmar que os modelos criados por volta de 1850 equiparam a orquestra para a execução da música do século XX, exceção feita aos instrumentos eletroacústicos e aos geradores de frequência.
Existem vários critérios de classificação. Em geral, os instrumentos são ordenados de acordo com o material empregado, o modo de produção do som, de execução, formato, mecanismo, etc… Todos são válidos, mas o que nos parece mais satisfatório é o que considera a maneira de produção do som, em essência, a finalidade da música.
Este critério foi proposto inicialmente pelo filósofo e matemático francês Marin Mersenne, em seu ensaio “Harmonia Universal” (1636/37). De acordo com essa classificação, os instrumentos se agrupam, grosso modo, em 3 grandes categorias: cordas, sopros e percussão. De cada uma delas, só serão abordados aqui os instrumentos que integram a orquestra sinfônica tradicional.
2.1 – Instrumentos de cordas
Os instrumentos de cordas constituem a estrutura da orquestra ocidental moderna. Feitas de aço, latão, tripa ou nylon, as cordas são presas pelas extremidades, geralmente sobre uma superfície de madeira. Obtém-se o som, quando vibradas e, conforme o modo pelo qual se produz esta vibração classificam-se em:
- cordas friccionadas – por meio de um arco (violino, viola, violoncelo e contrabaixo);
- cordas dedilhadas – por meio de um plectro ou pua, ou os próprios dedos do instrumentista (harpa, alaúde e guitarra);
- cordas percutidas – por meio de um martelo (piano) ou por um mecanismo próprio (cravos e espinetas).
Há alguns efeitos que são comuns aos instrumentos de cordas friccionadas, que são:
- pizzicato – quando se beliscam as cordas com os dedos sem usar o arco;
- com legno – isto é com a madeira do arco, roçando ou batendo;
- surdina – uma espécie de grampo ou pente que limita a ressonância, diminuindo ou emudecendo a intensidade do som.
A altura e a frequência do som variam de acordo com a espessura e o comprimento das cordas. A amplitude das vibrações depende da estrutura do instrumento.
2.1.1 – Instrumentos de cordas friccionadas
2.1.1.a – Violino
Violino
Desenvolvido no século XVI pelos italianos Andrea Amati, de Cremona, e Gasparo da Salò, de Brescia, a partir do aperfeiçoamento do primitivo instrumento de 3 cordas, parece, à primeira vista, que, dessa época até os dias de hoje, o violino não sofreu transformações em sua estrutura. No século XVI, eram comuns violinos menores, como os chamados “pochette”, usados pelos mestres de dança e que eram guardados nos bolsos (poches) de suas casacas.
Na verdade, porém, a partir das inovações introduzidas por Antonio Stradivarius, por volta de 1700, o instrumento passou por pequenas, mas significativas mudanças estruturais, para que pudesse atender às necessidades das sucessivas gerações de compositores e intérpretes. No século XIX, o surgimento das grandes salas de concerto e o aparecimento da figura do “virtuose” levaram às alterações que lhe deram a feição definitiva e que redundaram num timbre mais volumoso e brilhante.
De aparência simples, é um instrumento de extraordinária complexidade, composto de quase 70 peças diferentes. Constitui-se basicamente de 4 cordas, afinadas em quintas (mi4, lá3, ré3 e sol2) e que atingem mais de 4 oitavas e meia, uma caixa de ressonância em forma de oito e um braço preso à caixa por um cepo. No interior da caixa, há uma prancheta chamada “cadeira” e um pequeno cilindro vertical denominado “alma”. Ambos têm por finalidade melhorar a sonoridade, além de dar mais solidez à parte superior da caixa de ressonância, o “tampo harmônico”, em cuja parte central encontra-se o “cavalete”, por onde passam as cordas.
O violino, o mais agudo e versátil instrumento de cordas, é indispensável na orquestra sinfônica e no quarteto de câmara.
2.1.1.b – Viola
Viola
Estruturalmente idêntica ao violino, embora de dimensões um pouco maiores, a viola, derivada da chamada “viola de braço”, integra regularmente a orquestra sinfônica e o quarteto de câmara. Seu timbre é ligeiramente mais grave que o do violino (uma quinta abaixo) e suas 4 cordas são, como no violino, afinadas em quintas (dó2, sol2, ré3 e lá3).
Suas origens parecem remontar ao século XVI na Itália. As primeiras violas modernas de que se tem conhecimento foram fabricadas por Andre Amati e Gasparo da Salò e possuíam dimensões um pouco maiores do que as atuais. No século seguinte, Stradivarius e Andrea Guarnerius criaram modelos de tamanho mais reduzido, que se firmaram através dos séculos.
A partir de Haydn e Mozart, a viola ganhou importância como instrumento de câmara e sinfônico. No século XIX, foi valorizada por Berlioz e Richard Strauss, que compuseram solos do instrumento. No século XX, no entanto, é que surgiram as primeiras obras para viola desacompanhada, como as sonatas de Paul Hindemith.
2.1.1.c – Violoncelo
Violoncelo
Construído no século XVI, à maneira do violino e para ser tocado como a viola da gamba, pelos mestres italianos Andres Amati, Gasparo da Salò, Maggini e outros, esse instrumento de timbre grava e aveludado tinha a função de reforçar os baixos da orquestra.
Em seus primórdios, exercia papel secundário, sendo utilizado ora como baixo contínuo, juntamente com o cravo, ora como simples pedal da orquestra. Somente a partir do final do século XVII é que se firmou como instrumento solista, substituindo a “viola da gamba”.
De estrutura semelhante à do violino e à da viola, diferencia-se destes pelo comprimento (1,19 m.), como também pela caixa de ressonância, proporcionalmente mais funda. Possui 4 cordas afinadas uma oitava abaixo das cordas da viola, também em quintas (dó1, sol1, ré2 e lá2), e seu registro médio é de 3 oitavas e meia.
A princípio, o corpo do violoncelo variava de dimensões. O comprimento atual foi fixado no século XVII, por Stradivarius. Assim como o violino e a viola, é indispensável na orquestra sinfônica e no quarteto de cordas.
2.1.1.d – Contrabaixo
Contrabaixo
O mais grave e maior instrumento de cordas e arco, o contrabaixo surgiu também no século XVI, na Itália, modelado a partir do “violone”, instrumento de cordas medieval. No decorrer dos séculos, foram feitas várias experiências no tocante a suas dimensões, estrutura da caixa de ressonância e número de cordas.
O contrabaixo usado atualmente mede 1,82 m. de comprimento e possui 4 cordas afinadas em Quarta (mi, lá, ré e sol). Seu registro médio é de pouco mais de duas oitavas, começando pelo “mi” mais grave da escala. Para solos, utiliza-se, muitas vezes, um instrumento um pouco menor, que apareceu no século XVII. Às vezes, podem ter uma Quinta corda, afinada em Dó superior.
Para sua execução, empregam-se dois tipos de arco: o francês, mais comum, e o Simandl ou Dragonetti, de empunhadura especial, que proporciona maior peso do arco sobre as cordas do instrumento, extraindo delas um som mais forte e homogêneo. Em geral, na música popular e, com menos frequência, na erudita, é executado sem o uso do arco, com as cordas sendo dedilhadas ( “pizzicato” ).
Indispensável na música sinfônica, o contrabaixo tem por função básica reforçar os baixos da orquestra. Raramente funciona como solista.
2.1.1.e – Viola da gamba
Kristina Augustin e sua Viola da Gamba
Surgiu na Península Ibérica em meados do século XV e ganhou toda a Europa. Na Itália, recebeu seu atual nome pois “gamba”, em italiano, significa perna — instrumento que para ser tocado é sustentado entre as pernas.
No século XVI, surgem violas de vários tamanhos como a soprano, tenor e a viola contrabaixo ou violone, constituindo uma verdadeira família. O Consort of Viols — conjunto de violas — foi a formação instrumental mais popular da Renascença. No século XVII, a tendência por uma música com sonoridade mais forte e cantante no registro agudo levou à preferência pelo violino, fazendo com que as violas soprano e tenor perdessem o seu favoritismo. Até o final do século XVIII, a viola da gamba baixo era muito estimada e conheceu um período glorioso nas cortes europeias, principalmente na França, com um repertório extremamente virtuoso. Aos poucos foi perdendo a sua predileção para o violoncelo, até cair em desuso.
Não há registros históricos da chegada da “viola da gamba” ao Brasil. Sabe-se que a bagagem dos nobres, que aqui desembarcaram à época do descobrimento, incluía objetos que lhes permitissem, de certo modo, manter os laços culturais com as cortes europeias. Acompanhando a nobreza desde final do século XV até o final do século XVIII, é provável que a “viola da gamba” estivesse entre eles. Em contato com o clima tropical, muitos desses instrumentos, inclusive a viola, não resistiam às altas temperaturas e à umidade e se deterioravam. Talvez por isso, não haja registro de uma sequência da “viola da gamba” na história da música no Brasil.
Com o movimento de resgate da Música Antiga, os instrumentos utilizados para fazer música entre os séculos X e XVIII voltaram a despertar o interesse do público, entre eles a “viola da gamba”, atualmente bastante requisitada nas salas de concertos. No Brasil, vem sendo muito utilizada na música renascentista e, principalmente, na música de câmara, reforçando a linha do baixo. O rico repertório solista ainda é pouco explorado.
Texto mandado por Kristina Augustin, a mais importante gambista do Brasil.
2.1.2 – Instrumentos de cordas dedilhadas
2.1.2.a – Alaúde
Alaúde
Alaúde, na realidade, é o nome genérico de um instrumento de cordas dedilhadas, integrado por uma caixa de ressonância e um braço, sobre o qual passam as cordas, desde o extremo, onde se encontra a cravelha que serva para as retesar, até o fim da tábua da caixa. O número de cordas foi variando com as épocas e os países e, a partir do século XVI, ficou estabelecido que seriam 5.
2.1.2.b – Bandolim
Bandolim
É um instrumento de cordas dedilhadas e teve sua origem no alaúde ou, mais provavelmente, na mandola. Apareceu no fim do Renascimento e seu uso se generalizou no século XVIII, primeiro na Itália e depois no resto da Europa.
Constitui-se de uma caixa de ressonância com a tábua do fundo abombada e um braço curto com trastes, que termina numa cravelha. Apareceram vários tipos de bandolim, mas o mais difundido é o napolitano que tem 4 cordas duplas, afinadas como no violino.
2.1.2.c – Guitarra espanhola
Guitarra Espanhola / Violão
Também chamada “violão” é um instrumento de cordas dedilhadas, sobre cuja origem não acordam os pesquisadores, embora sua presença e difusão na Espanha tenha a ver com a invasão dos árabes na Península Ibérica.
Consta de uma caixa de ressonância, de um braço com 19 trastes, que termina numa cravelha. Tem seis cordas, tocadas com a ponta dos dedos ou arranhadas com as unhas. À parte de um enorme repertório especialmente escrito para ela, sua enorme difusão deve-se à sua presença constante em obras para pequenos conjuntos e muito especialmente, como instrumento solista em inúmeros concertos.
2.1.2.d – Harpa
Harpa
Um dos instrumentos de corda mais antigos, a harpa já era usada pelos egípcios no século II antes de Cristo, em forma semelhante à atual. Trazida para o Ocidente na Idade Média, foi introduzida no século XV nas cortes reais europeias. Em meados do século XVII, fabricantes tiroleses acrescentaram à harpa um dispositivo mecânico que, acionado pelas mãos do intérprete, elevava a altura das notas em meio-tom.
Por volta de 1720, o alemão G. Hochbruker construiu um modelo com pedais acoplados à base do instrumento, permitindo a alteração das notas em meio ou um tom. O moderno mecanismo com 7 pedais, correspondentes às sete notas, foi criado pelo francês Sébastien Érard e recebeu seus últimos retoques em 1820.
A harpa utilizada nas orquestras sinfônicas atuais contém cerca de 46 cordas presas a uma armação triangular. Seu registro abrange seis oitavas e meia (dó bemol1 a sol bemol6). Usada como instrumento solista por alguns compositores, foi amplamente empregada na orquestra sinfônica por uma gama interessante de compositores.
2.1.3 – Instrumentos de cordas percutidas
2.1.3.a – Cravo
Cravo
O clavicêmbalo ou cravo também pertence a esta epígrafe. Trata-se de um instrumento de teclas, cujas cordas são premidas por puas, mediante um mecanismo que é acionado no teclado pelo intérprete. Cada tecla está unida a uma peça de madeira, chamada martinete, na qual há fixa uma pua, que oprime a corda correspondente, ao ser acionada pela tecla.
O clavicêmbalo italiano aparece nos fins do século XV e estende-se por toda a Europa, com ligeiras variantes. Sua presença habitual na música prolonga-se até depois de entrado o século XVIII, quando é, pouco a pouco, substituído pelo piano.
Com a tendência surgida há alguns anos de se recuperarem os instrumentos originais, voltou a ocupar seu posto de solista nos concertos com orquestra e, desde o princípio do século XX, mereceu a atenção dos compositores para obras concretas.
2.1.3.b – Piano
Piano de armário
Muito utilizado por alguns compositores contemporâneos como instrumento de percussão. O piano (o mais versátil dos instrumentos) e, na verdade, um instrumento de cordas percutidas, munido de um maquinismo e de uma grande caixa de ressonância. O maquinismo é o complexo aparelho que faz vibrar as cordas e se compõe, basicamente, de teclas, escapes, martelos, abafadores e pedais. O som é produzido pela pressão das teclas, que acionam martelos de madeira recobertos com feltro, que, por sua vez, percutem as cordas.
O princípio essencial do mecanismo do piano é a independência do martelo em relação às teclas. Depois de percutir a corda, o martelo afasta-se, para que ela possa vibrar, mesmo que a tecla continue a ser pressionada. Esse dispositivo é denominado “duplo escapa” e permite a repetição de uma mesma nota quantas vezes for necessário. Os abafadores (feltros que recobrem os martelos) servem para impedir a mistura dos sons.
O piano é dotado de dois pedais:
- o direito, mais importante, quando pressionado, permite que as cordas permaneçam vibrando, mesmo que se retirem os dedos que pressionam as teclas;
- o esquerdo, denominado “surdina”, tem por função diminuir o brilho da sonoridade.
Um dos instrumentos de maior alcance (só é excedido pelo órgão), seu registro estende-se por 7 oitavas e um quarto. Indo de lá2 a dó7. Atualmente, existem dois modelos básicos: o piano de armário, com cordas verticais e 85 teclas e o de cauda, com cordas horizontais e 88 teclas.
Piano de cauda
O antecedente do piano é o clavicórdio, que apareceu no século XV, mas a primeira referência ao piano foi publicada em 1711, por motivo de sua apresentação a público por seu inventor Bartolomeu Cristofori, em Florença. Neste mesmo século, foi aperfeiçoado por Silberman e Stein, na Alemanha, que introduziram os pedais e o mecanismo de escape. No século XIX, com o aparecimento das grandes salas de concerto, que exigiam ampliação da sonoridade, o instrumento adquiriu sua forma definitiva.
A literatura propriamente pianística se iniciou com Muzio Clementi, em 1773, com algumas sonatas. Mozart e Beethoven ampliaram as potencialidades do piano, abrindo caminho para os expoentes do Romantismo. No século XIX, atingiu o apogeu de sua popularidade, com Schubert, Schumann, Chopin e Liszt.
Tratado geralmente como instrumento solista, também foi empregado em música de câmara e, mais raramente, integrou a massa orquestral.
2.2 – Instrumentos de sopro
Assim denominados porque, nestes instrumentos, o som é produzido pela emissão de ar dentro de um tubo. A altura do som depende do tamanho e da temperatura do tubo e pode ser regulada pela abertura ou pelo fechamento dos orifícios existentes ao longo do tubo.
Podem ser feitos de madeira ou de metal. Entre os primeiros, temos a flauta e o flautim, tradicionalmente incluídos no grupo das madeiras, embora atualmente sejam fabricados em metal, o oboé, o clarinete, o clarinete-baixo, o corne-inglês, o fagote e o contrafagote.
Entre os metais, incluem-se o trompete, o saxofone, a trompa, o trombone e a tuba. Numa classificação à parte, está o órgão, instrumento de sopro e teclado, com uma estrutura muito complexa.
2.2.1 – Flauta transversal
Flauta transversal
Um dos instrumentos mais antigos, a flauta transversal, utilizada regularmente na moderna orquestra sinfônica, surgiu no século IX, antes de Cristo, provavelmente na Ásia. Introduzida na Europa Ocidental através da cultura bizantina, no século XII depois de Cristo, era geralmente associada à música militar.
Somente na segunda metade do século XVII é que passou a integrar a orquestra.
A moderna flauta transversal nasceu das transformações operadas no antigo instrumento pelo alemão Theobald Boehm, por volta de 1840. Feita em metal, geralmente prata, constitui-se de um tubo cilíndrico de 67 cm. de comprimento por 19 mm. de diâmetro. Divide-se em 3 partes: cabeça ou bocal, corpo e pé.
O bocal tem por função manter rigorosamente o equilíbrio da afinação; o corpo e o pé contêm orifícios e chaves, cuja finalidade é diminuir ou aumentar o comprimento da coluna de ar no interior do tubo. Soprada lateralmente, seu alcance é de 3 oitavas (dó3 a dó6). Tem sido tratada como instrumento solista e como instrumento da orquestra, sendo o mais agudo entre os membros regulares do grupo das madeiras.
Existiram na Antiguidade diversos outros tipos de flauta. No entanto, a única que coexistiu com a flauta transversal foi a flauta doce, soprada pela ponta, muito usada pelos músicos renascentistas e barrocos.
O flautim ou piccolo, versão menor da flauta transversal, cujo tubo tem aproximadamente metade do comprimento da flauta. É o instrumento mais agudo da orquestra, da qual não é, entretanto, um elemento essencial. Alcança quase 3 oitavas (ré4 a dó7).
Há ainda a flauta baixa, que se usa para sons mais graves. Prolonga-se o comprimento do tubo ou em alguns casos, constrói-se com um cotovelo pelo qual o tubo se aproxima, no outro extremo, à posição da boquilha.
2.2.2 – Flauta doce
Flauta doce
Com frequência, é conhecida como flauta de bico, por tradução direta de seu nome francês: flût a bèc. Bastante utilizada em orquestras que utilizam os chamados instrumentos originais, com a recuperação da música do passado, em especial do período barroco.
São construídas de madeira, como no passado, com a sua forma ligeiramente cônica e a sua parte mais estreita para o final. No extremo superior, têm um corte chanfrado reto, pelo qual o intérprete sopra através da boquilha, com o instrumento colocado na posição vertical. O corpo sonoro tem uma série de orifícios que o intérprete pode obturar ou deixar abertos, para encurtar ou alongar o comprimento da coluna de ar.
As flautas doces estão formadas por uma ampla família, conforme o seu tamanho, isto é, conforme o comprimento do tubo sonoro, que vai desde a sopranino, no agudo, até a grave ou baixa, que tem alcance muito amplo.
2.2.3 – Oboé
Oboé
Instrumento antiquíssimo, o tipo utilizado hoje nas orquestras sinfônicas surgiu na França, na segunda metade do século XVII, a partir do desenvolvimento das charamelas medievais e renascentistas. Os primeiros modelos foram fabricados pelos franceses Jean Hotteterre e Michel Philidor, e eram usados pelos músicos da corte de Luís XIV.
A forma do moderno oboé, data do período de Haydn e Mozart, embora tenha sofrido algumas importantes modificações no decorrer dos séculos XVIII e XIX, como, por exemplo, o aumento de sua extensão.
Constitui-se de um tubo cônico e palheta dupla, sendo o som controlado por orifícios e chaves. De timbre anasalado, distingue-se perfeitamente dentro da massa orquestral. Seu alcance é de 2 oitavas e meia, começando no si, uma oitava abaixo do dó médio.
Utilizado sobretudo como integrante da orquestra sinfônica, onde é indispensável, há também considerável literatura para solo do instrumento.
2.2.4 – Corne-inglês
Corne inglês
De estrutura semelhante à do oboé, distingue-se deste pelo tubo mais longo e por um esférico pavilhão em forma de pera. Desenvolveu-se a partir do oboé de caça, no século XVII. A origem do nome é desconhecida.
De timbre suave, soa uma quinta abaixo do oboé e é próprio para melodias tristes e melancólicas. Embora Haydn e Beethoven tenham escrito obras para este instrumento, suas potencialidades só foram amplamente desenvolvidas por Berlioz, Wagner e Dvorák.
O corne-inglês não é utilizado com muita frequência na orquestra sinfônica.
2.2.5 – Clarinete
Clarinete
Surgiu no final do século XVII, a partir do aperfeiçoamento da charamela, levado a cabo por Johann Christopher Denner, conhecido fabricante de flautas de Niremberg. No século seguinte, passou a integrar a orquestra sinfônica. Por volta de 1840, atingiu sua estrutura definitiva, com a introdução do sistema de chaves de Theobald Boehm, que já havia sido aplicado com sucesso na flauta.
Ao logo dos tempos, foram criados clarinetes de dimensões e timbres variados. Há cinco modelos ainda em uso:
- em mi bemol – o soprano da família, também denominado “requinta”;
- em dó – de timbre brilhante;
- em si bemol – o mais usado na atualidade;
- em lá – de pouco uso;
- clarinete-baixo em si bemol – uma oitava abaixo do outro de mesma tonalidade.
Constitui-se de um tubo cilíndrico dividido em 4 partes: pavilhão, corpo inferior, corpo superior e barrilete. Neste está embutida a boquilha, na qual se adapta uma palheta simples.
Mozart foi um dos primeiros compositores a explorar o clarinete como instrumento solista, compondo um concerto e várias peças de câmara. A sua escrita para o clarinete, favorecendo a beleza do registro grave do instrumento e um equilíbrio e fluência em toda a sua ampla tessitura, faz-nos pensar na escrita vocal e não é difícil imaginar tratar-se por vezes de uma voz de soprano. O uso do clarinete obbligato como “dramatis persona” em La Clemenza di Tito encontra-se na linha de uma tradição vienense do início do séc. XVIII, na qual se inscrevem múltiplas óperas, evidenciando uma relação estreita entre a voz e o chalumeau que, tomado como objeto significante, é associado a sentimentos específicos de caráter amoroso ou pastoral.
Criado em 1810, o clarinete-baixo ou clarone também é utilizado na orquestra sinfônica, embora com menor frequência. Distingue-se do clarinete propriamente dito, pelo pavilhão recurvado e pelo diapasão mais grave.
2.2.6 – Fagote
Fagote
Uma pessoa que vá assistir a uma orquestra sinfônica se depara com um grande número de instrumentos diferentes entre si. Mesmo o frequentador mais assíduo tem, por vezes, dificuldades em identificar alguns deles, devido à diversidade de tamanhos, formas e nuances. Um desses instrumentos que chama a atenção (fica muitas vezes escondido no meio da orquestra) é o FAGOTE: um instrumento de forma um tanto exótica, na maioria das vezes vermelho, parecendo-se com um enorme tubo revestido de chaves prateadas.
Refazer a “história genealógica” do fagote é voltar à época do Renascimento e se perder um pouco em documentos imprecisos e desfeitos pela história. À essa época não havia uma música instrumental propriamente dita, mas tão somente instrumentos que, com poucas exceções (fanfarras militares, música de dança e algum folclore) repetiam aquilo que já era cantado pela voz humana. O canto a quatro vozes era então a regra e, para que os instrumentos pudessem atender à tessitura de cada uma das vozes humanas (soprano, contralto, tenor, baixo), eles eram construídos em diferentes tamanhos, constituindo-se assim em “famílias de instrumentos”: instrumentos menores tinham som mais agudo, os maiores, mais grave. Existiam, entre outras, famílias de violas, de flautas, de cornamusas… Até aqui a história do fagote se confunde em parte com a de outros instrumentos.
É bem provável que o fagote tenha tido sua origem em um instrumento grave de uma dessas famílias de instrumentos de palhetas duplas: as bombardas. A bombarda-baixo era de um tamanho quase descomunal, necessitando por vezes de uma pessoa que a segurasse para que outra a pudesse tocar. Como a criatividade humana não conhece fronteiras, o problema logo se resolveu. Assim, a solução encontrada foi a de dobrar ao meio um instrumento que tinha mais de dois metros de comprimento! Este procedimento reduziu por certo suas dimensões, mas teve também como consequência uma alteração da sonoridade, e a bombarda, inicialmente de som áspero e até agressivo, passou a ter um som mais suave, mais “dolce”, a tal ponto que tomou daí o seu novo nome: DULCIANA.
Com o acréscimo de algumas chaves necessárias para que os dedos pudessem operar os orifícios mais distantes e algumas alterações de perfuração e dimensões, este passou a ser o fagote barroco. Existe uma certa crença de que o nome fagote venha do italiano “il fagotto”, o que significa um amontoado de coisas, como por exemplo, um feixe de lenha, numa alusão ao formato que o instrumento assumiu com sua dobra ao meio. Em francês o fagote atende pelo nome de basson (uma alusão ao seu “som de baixo”?). A nomenclatura inglesa é bassoon.
A passagem para o século XIX, uma época acentuadamente progressista, baseando suas pesquisas na acústica, ressaltou a preocupação pela afinação e sonoridade do instrumento, fazendo o fagote passar por uma série de inovações e melhoramentos. É a partir de então que ficam mais diferenciados os sistemas hoje conhecidos como alemão e francês.
O sistema francês se firmou através de construtores como Savary e Triébert, que seguiam uma linha de construção mais conservadora. Atualmente o fagote sistema francês é tido como um instrumento que executa com mais facilidade passagens no agudo e tem como característica um som mais ou menos anasalado. Buffet-Crampon é o nome que, em nossos dias, se tornou praticamente sinônimo do fagote construído no sistema francês.
Na Alemanha, Carl Almenräder (1786-1843), com sua criatividade e muitas inovações, é de fundamental importância no desenvolvimento do fagote sistema alemão. Aliando-se a Johann Adam Heckel (1812-1877), um jovem e talentoso construtor de instrumentos, Carl desenvolveu o fagote, dotando-o de um novo mecanismo, alterando-lhe também as dimensões de perfuração. Esse novo instrumento é a base do fagote moderno alemão, que atualmente também é conhecido como “sistema Heckel”.
Para o ouvinte a diferença de sistemas se faz sentir sobretudo através da sonoridade e do aspecto visual do instrumento; para o fagotista, além destas, existe a grande diferença do mecanismo das chaves, que faz com que o dedilhado usado em um instrumento não seja aplicável a outro.
Independentemente do fagote ser baseado no sistema francês ou alemão, ele se compõe de uma parte construída de metal (bocal) e de quatro partes construídas de madeira (asa, culatra, baixo e campana), que se encaixam uma na outra e que, quando montadas, perfazem um tubo cônico de 235cm, tendo um diâmetro inicial de 4mm. e finalizando em 4 cm.
No tocante às partes de madeira, quando o sistema é alemão, o fagote é quase sempre construído em ácer (em alemão: Ahorn; em inglês: maple wood); quando seu sistema é francês, a madeira usada é tradicionalmente o jacarandá. Como o ácer é uma madeira muito clara, quase branca, o fagote é normalmente tingido com alguma coloração que lembre a nobreza da cor do mogno. O jacarandá, por ser já de natureza mais escuro, não recebe corante e tende automaticamente ao marrom. Mas não é a cor que importa; ela é um acessório meramente estético.
O fagote é o baixo do grupo das madeiras (flauta, oboé, clarineta, fagote) e, dentre esses instrumentos, é aquele que tem a mais ampla tessitura. São três oitavas e meia, abrangendo do sib –1 até o mi 4 (tomando-se como base o dó central = dó 3). Atualmente instrumentos mais apurados, instrumentistas mais ousados e uma literatura mais exigente estão fazendo extrapolar essa tessitura, forçando o fagotista a tocar, em certos casos, até o sol 4. O som do fagote é produzido, tal como na bombarda renascentista, por uma palheta dupla aplicada a um bocal em forma de “S” e feita vibrar pela boca do instrumentista através do sopro.
As exigências de sonoridade da orquestra moderna e o desenvolvimento dos instrumentos fazem com que cada um dos instrumentos das madeiras tenha um ou mais “parentes” próximos: flauta – flautim; oboé – corne inglês; clarineta – clarone. No caso do fagote o parente próximo é o contrafagote, que soa uma oitava abaixo do fagote.
O fagote é de construção bastante complexa, sobretudo em função da dobra do instrumento, onde, em uma só peça, na chamada culatra, existem dois furos: um descendente e outro ascendente unidos por uma válvula em forma de “U”. Por isso, contam-se quase que literalmente nos dedos os fabricantes de fagote pelo mundo afora, estando os principais representantes na Alemanha, França, Estados Unidos e Japão.
O Brasil está modesta mas orgulhosamente representado neste seleto rol de fabricantes com o autor deste pequeno histórico do fagote, que, há cerca de 10 anos, se aventura com sucesso nesse campo, usando para isso madeiras brasileiras.
Texto de Hary Schweiser – único construtor brasileiro deste instrumento.
2.2.7 – Contrafagote
Contrafagote
Este instrumento soa uma oitava abaixo do fagote. Surgiu em 1714, criado por Andreas Eichentopf, em Leipzig, sendo ocasionalmente utilizado pelos compositores clássicos.
O moderno contrafagote segue o desenho idealizado, em 1870, pelo alemão Johann Heckel. De estrutura semelhante ao fagote, seu tubo, no entanto, se curva 4 vezes sobre si mesmo. Distingue-se também por um pavilhão de metal voltado para baixo.
O instrumento alcança 3 oitavas, sendo o si bemol a sua nota mais grave. Nas raras vezes em que aparece como solo dentro da massa orquestral, tem por função criar atmosferas lúgubres ou grotescas.
2.2.8 – Trompete
Trompete
O mais agudo entre os metais, o trompete se originou, provavelmente, no Egito Antigo, no II milênio antes de Cristo, tendo adquirido importância como instrumento musical a partir do século XVII, ao ser introduzido na orquestra.
Sua forma atual data da primeira metade do século XIX, quando os fabricantes alemães Blühmel e Stölzel criaram o sistema de 3 pistões, que tornou o instrumento mais versátil, aumentando seu registro e tornando sua execução menos difícil. Pode ser afinado em ré ou, mais comumente, em si bemol ou dó.
Trompete pocket
Consiste num tubo cilíndrico recurvado sobre si mesmo, em cujas extremidades ficam o pavilhão e o bocal. A qualidade do som pode ser modificada com a surdina, peça de madeira introduzida no pavilhão. Alcança 2 oitavas e meia, começando do fá abaixo do dó médio.
Tem sonoridade brilhante e penetrante. É muito usado pelos compositores em uníssono com as cordas e as madeiras da orquestra, como também em solos.
2.2.9 – Saxofone
Saxofone
Criado em 1840 pelo belga Adolphe Sax, o saxofone é o único entre os sopros de metal que possui palheta. Constitui-se de um tubo cônico com cerca de 24 orifícios controlados por chaves, que permitem a produção dos diferentes sons do registro do instrumento. Esse tubo termina num pavilhão largo, voltado para cima.
Existem 7 tipos:
- sopranino – afinado em mi bemol;
- soprano – afinado em si bemol;
- contralto – afinado em mi bemol;
- tenor – afinado em si bemol;
- barítono – afinado em mi bemol;
- baixo – afinado em si bemol;
- contrabaixo – afinado em mi bemol.
Somente o soprano, contralto, tenor e barítono são usados com frequência, formando o quarteto comum dos grupos instrumentais de dança e jazz.
Introduzido na orquestra sinfônica no final do século XIX, popularizou-se entre os compositores eruditos como Rossini, Berlioz e Meyerbeer, com preferência para o sax contralto. Seu registro alcança 2 oitavas e uma Sexta, começando do si bemol abaixo do dó médio.
Não é membro permanente da orquestra sinfônica, mas seu repertório é vastíssimo, com muitas obras para solo.
2.2.10 – Trompa
Trompa
Surgiu na França, por volta de 1650. Como um desenvolvimento da trompa de caça, que, por sua vez, se originou dos primitivos instrumentos feitos com chifres de animais. Já no final do século XVII foi integrada à orquestra.
Consiste num longo tubo cilíndrico de 2 metros, recurvado sobre si mesmo numa espiral de duas voltas. Na extremidade mais estreita, localiza-se o bocal, em forma de funil, e, na outra, o pavilhão. O som é controlado por 3 válvulas, incorporadas ao instrumento no início do século XIX pelos fabricantes Blühmel e Stölzel (alemães) e Leopold Uhlmann (austríaco). Esse mecanismo permitiu a execução de todos os sons cromáticos da escala.
A trompa emite um som aveludado e suave e sua afinação é em fá ou si bemol. Alcança 2 oitavas e uma Quinta (si3 a fá4). Considerada indispensável na orquestra a partir de 1830, foi utilizada também como solista por inúmeros compositores. Um dos efeitos utilizados na trompa é a “surdina”, que se consegue quando o intérprete coloca a mão ou uma peça de madeira no pavilhão, obtendo um apagamento do som.
2.2.11 – Trombone
Trombone
Surgiu provavelmente na França quinhentista, a partir de modificações introduzidas no trompete. Sua principal característica são as varas corrediças, cuja função é controlar a emissão e a altura do som.
O corpo principal do instrumento, extremamente simples, é formado por dois tubos paralelos, presos um ao outro. Numa extremidade está o bocal e na outra o pavilhão. Atualmente, é construído em 3 tamanhos: tenor, contralto e baixo. O primeiro é o mais utilizado em orquestras sinfônicas e é afinado em si bemol, soando uma oitava abaixo do trompete. No registro baixo, também pode ser afinado em Sol.
Indispensável à orquestra, na qual foi introduzido por Beethoven, foi tratado como solista por muitos outros compositores também.
No século XIX, um outro tipo de trombone, denominado de êmbolos, com 3 válvulas, era muito empregado nas orquestras, mas acabou perdendo seu lugar para o trombone de vara.
2.2.12 – Tuba
Tuba
O mais grave entre os metais, a tuba surgiu por volta de 1835, em Berlim, inventada por Wilhelm Wieprecht e construída por Johann G. Moritz. No entanto, o modelo mais comumente empregado na orquestra foi desenvolvido, por volta de 1845, pelo belga Adolphe Sax.
Consiste num tubo cilíndrico, recurvado sobre si mesmo, e que termina num pavilhão em forma de sino. O som é controlado por válvulas ou pistões, cujo número varia de 3 a 5. De timbre suave e surpreendentemente ágil, apesar de seu grande porte, a tuba foi introduzida na orquestra por volta de 1850. É afinada em fá e alcança 3 oitavas (fá1 a fá3).
Indispensável na orquestra sinfônica, foi por vezes utilizada em solos orquestrais. É muito usada também nas bandas militares.
A “tuba wagneriana”, idealizada por Wagner para a sua tetralogia O anel dos Nibelungos, possui estrutura semelhante à da trompa ( bocal e pavil!ão recurvado). É afinada em si bemol e em fá e sua extensão vai do mi bemol1 ao ré4. Além de Wagner, Bruckner, R. Staruss e Stravinsky utilizaram-na em algumas de suas obras.
2.2.13 – Órgão
Órgão de tubos
O maior e talvez o mais versátil entre todos os instrumentos, o órgão, apesar de incluir-se entre os sopros, distingue-se destes por sua estrutura especial, que reúne tubos, teclados e pedais. Os principais estágios da evolução do primitivo órgão hidráulico grego para o órgão moderno incluem a introdução de teclas, registros e mecanismo de acionamento.
Atualmente, o órgão constitui-se de 3 partes principais:
- tubos – sua característica básica;
- console – que abriga os teclados, geralmente em número de dois, pedais, botões para mudança de timbres e outros acessórios;
- mecanismo de acionamento – são os foles.
Cada tubo corresponde a uma nota e são agrupados em séries, denominadas registros, que produzem sons de alturas variadas. Quanto maior o tubo, mais grave o timbre.
Há 3 tipos de registros, de cuja combinação resulta a imensa variedade de timbres e a grandiosidade sonora, característica do órgão, a saber:
- os de fundo ou flautados – produzem os sons principais de flauta e de gambas;
- os de mistura – enriquecem o som dos registros de fundo;
- os de palheta – conferem a sonoridade brilhante do trompete, clarim, etc…
Entre todos os instrumentos, o órgão é o que possui maior alcance: sete oitavas e meia. Instrumento solista por excelência, o repertório abrange obras de inúmeros compositores. Pode integrar também a massa orquestral.
2.3 – Instrumentos de percussão
São instrumentos basicamente rítmicos. O som é produzido por vibrações transversais numa membrana estendida sobre uma cavidade ressoante ou em corpos sólidos.
Podem ser divididos em dois grupos:
- os de som determinado – aqueles capazes de produzir alturas precisas (as notas musicais);
- os de som indeterminado – de altura indefinida, isto é, ruídos.
Entre os primeiros estão: tímpanos, carrilhão, xilofone, celesta, glockenspiel, marimba e vibrafone. No segundo grupo estão: triângulo, pratos, caixa, bombo e outros menos frequentemente usados na orquestra sinfônica, como o pandeiro, o tantã, as castanholas, o agogô, o chicote, etc…
2.3.1 – Instrumentos de som determinado
2.3.1.a – Tímpanos
Tímpanos
Indispensáveis à orquestra, na qual foram introduzidos em 1670, pelo compositor francês Lully, os tímpanos se originaram dos “naqqara” árabes, por volta do século XII.
Constituem-se de uma caixa de ressonância feita de madeira ou metal, de formato semi-esférico, com cerca de 60 cm. de diâmetro e coberta por uma pele estendida sobre um arco. São percutidos por meio de baquetas denominadas “bilros”, cuja extremidade, arredondada, é revestida de feltro.
Em geral, a orquestra possui de dois a quatro tímpanos, executados por um mesmo instrumentista. São afinados em quartas ou quintas.
2.3.1.b – Carrilhão
Carrilhão
Conjunto de lâminas ou tubos dispostos numa armação e percutidos por uma espécie de martelo, o carrilhão aperfeiçoou-se e difundiu-se no século XVI. A extensão das notas varia muito, não chegando, entretanto, a alcançar mais de 2 oitavas. Possui sons diatônicos e cromáticos.
A percussão também pode ser feita por mecanismo de teclado, recebendo então o nome de celesta. Nesta, as teclas acionam martelos que percutem lâminas metálicas, produzindo um som límpido. Alcança 5 oitavas (dó1 a dó6).
2.3.1.c – Xilofone
Xilofone
Formado por lâminas de madeira de tamanhos variados, dispostas em fileiras horizontais, seu alcance varia de modelo para modelo. Os maiores atingem 4 oitavas, a partir do dó médio. É percutido por meio de 2 baquetas, obtendo-se trinados, trêmulos, arpejos e repetição rápida de uma mesma nota.
Formas variantes do xilofone são o glockenspiel, o vibrafone e a marimba. O glockenspiel constitui-se de lâminas de aço dispostas em duas fileiras horizontais, percutidas por uma baqueta, denominada “maceta”. Alcança duas oitavas e meia (sol3 a dó6 ou sol2 a dó5).
Derivado, provavelmente, do glockenspiel, o vibrafone surgiu por volta de 1920. Possui lâminas de aço vibradas por martelos também de metal. Sob cada lâmina, há um ressonador operado eletricamente, que amplia e confere maior nitidez ao som. Possui timbre doce e aveludado.
A marimba, de origem africana e desenvolvida na América Central, é um instrumento usado sobretudo pelas orquestras típicas populares de alguns países centro-africanos. Integra, por vezes, o aparato percussivo das orquestrações de alguns compositores contemporâneos. Seu timbre é um pouco mais grave que o do xilofone. Alcança 4 oitavas, começando no dó abaixo do dó médio.
2.3.2 – Instrumentos de som indeterminado
2.3.2.a – Triângulo
Triângulo
O menor dos instrumentos de orquestra, consiste numa vareta de ferro dobrada em formato de triângulo. É percutido com uma baqueta também de ferro. Os sons emitidos, sempre agudos, podem ser curtos e isolados ou formar uma cadeia semelhante à do trinado, provocada por batidas rápidas e sucessivas.
Conhecido na Europa no século XIV, só foi empregado na orquestra a partir do século XVIII, por Mozart.
2.3.2.b – Pratos
Pratos
Derivados dos címbalos, discos metálicos usados no Egito Antigo, foram introduzidos na Europa durante a Idade Média. Medem cerca de 50 cm. de diâmetro e são percutidos com uma vareta ou chocados um contra o outro, podendo então produzir uma sonoridade que se sobrepõe a toda a orquestra.
Quando executados pelo mesmo instrumentista que toca os tímpanos, um dos pratos pode ser fixado a um suporte, fazendo-se que o outro caia sobre ele, por meio de um pedal. Os pratos foram introduzidos na orquestra sinfônica no século XVIII, por Cluck. Entre os românticos, o seu uso se popularizou.
2.3.2.c – Caixa
Caixa
Assim como os tímpanos e o bombo, a caixa é um instrumento da família dos tambores. Surgiu no século XV, como um desenvolvimento do tamborim, muito utilizado nos regimentos medievais de infantaria.
De formato cilíndrico, feita de latão ou madeira, é revestida de pele de vitela, geralmente apertada por parafusos que regulam o som. Há dois tamanhos:
- um maior e mais fundo, com sonoridade mais opaca;
- outro, menor, é circundado por cordas metálicas, que lhe dão sonoridade mais viva e brilhante.
Ambos são percutidos com uma ou duas baquetas de madeira ou com uma escova de arame, quando se quer obter algum efeito especial. Instrumento característicos das bandas militares, a caixa passou a integrar efetivamente a orquestra sinfônica, a partir do Romantismo.
2.3.2.d – Bombo
Bombo
Conhecido também como grande tambor, constitui-se de uma caixa circular de madeira ou folha de ferro, coberta na parte superior e inferior por uma pele esticada, apertada nas extremidades por parafusos de pressão.
Distingue-se da caixa pelo tamanho, pois é muito maior, e por ser executado em posição horizontal. É percutido por uma baqueta denominada “maceta”. Característico das bandas militares, foi introduzido na orquestra sinfônica por Mozart, em meados do século XVIII.
2.3.2.e – Pandeiro
Pandeiro
Originário do Oriente Médio, constitui-se de um arco de madeira, com ou sem guizos, tendo uma pele esticada na parte central. É agitado com uma das mãos ou percutido. Muito utilizado na músicas folclórica de alguns países. Também chamado de “pandeireta”.
2.3.2.f – Tantã
Tantã
De origem oriental, constitui-se de um disco metálico, geralmente de bronze, suspenso, que se faz vibrar, batendo-se com uma baqueta ou martelo, sobre as extremidades ou no centro. Produz som forte e de altura indefinida. Foi introduzido na orquestra sinfônica em fins do século XVIII. Sendo mais utilizado pelos compositores contemporâneos, geralmente em momento de clímax ou para sugerir desespero.
2.3.2.g – Castanholas
Castanholas
Também de origem oriental, provavelmente fenícia, as castanholas se disseminaram pela Espanha, transformando-se em instrumento típico do país. Constitui-se de duas peças de madeira, marfim ou ébano, em formato de concha, unidas por uma fita ou cordão, que o instrumentista enrola entre os dedos.
O som é produzido, percutindo-se uma contra a outra. Comum nas orquestrações de compositores espanhóis
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