Música e outras coisas
CADAFALSO DE NEON
As trombetas do Apocalipse não soam mais.
Esquecidas em um canto,
Mofadas,
Manchadas de azeviche e ferrugem
Já não há sopro e nem fogo a dizê-las
Não há sequer Apocalipse,
Apenas cataclismos banais,
Holocaustos orgiásticos,
Contrafação do drama...
Vivi para ver soçobrarem os barcos
Vivi para ver as velas fustigadas pela tempestade outonal,
Mas há holofotes acesos,
Holofotes por demais
A morte anônima e silenciosa não basta,
À ceifadora permissiva,
Não mais servem o recato, o chamado contido,
A frugalidade...
À indesejada das gentes de antanho,
Cabe agora o papel de uma homilia sem verve
Há que ser outra a morte nos tempos de hoje
Há que ser uma morte berrada e sem sílaba
Folgazã, alheia ao irreprimível choro
Anunciada com cardo e alecrim, estribilho e proclamas
Uma morte parida na indignidade da multidão
Uma morte patética e sem recolhimento,
Uma morte estrepitosa e risível,
Uma morte sem verso,
Uma morte sem voz.
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René Urtreger é um pianista, compositor e arranjador francês, fortemente influenciado por Thelonious Monk e, sobretudo, por Bud Powell. O parisiense, nascido em 06 de julho de 1934, começou a ter aulas de piano com inacreditáveis quatro anos e é um dos mais representativos nomes do bebop europeu.
Na adolescência, freqüentou o Conservatório de Paris, mas as audições de Parker, Powell e Monk o encaminharam para o jazz. Começou a tocar profissionalmente em pequenos clubes da capital francesa, em especial no Blue Note e no Sully d’Auteil, onde conheceu o saxofonista Barney Wilen, o guitarrista Sacha Distel e o flautista Bobby Jaspar, que viriam a ser expoentes do jazz francês e se tornariam grandes amigos do pianista.
Embora não seja reconhecido como um pianista essencialmente original, Urtreger possui muita personalidade e é altamente técnico, sendo capaz de executar solos altamente complexos, com uma velocidade surpreendente. Ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, tocou com jazzistas de primeira linha, como Don Byas, J. J. Johnson, Lionel Hampton, Lucky Thompson, Zoot Sims, Miles Davis, Lee Konitz, Stan Getz, Chet Baker, Dexter Gordon, Kenny Clarke, Sonny Rollins, Stéphane Grappelli e Ben Webster.
Desenvolveu uma profícua parceria com os compatriotas Daniel Humair e Pierre Michelot, denominada Trio HUM, que lançou alguns excelentes álbuns entre as décadas de 60 e 90. Apresentações em festivais importantes como o de Antibes e prêmios como o de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras são uma constante em sua consagrada carreira.
Seu disco “René Urtreger joue Bud Powell”, lançado em 1954 pelo selo Gitanes, é um marco em sua carreira e uma dos melhores gravações de bebop realizada por músicos europeus. Muitos críticos desmerecem o trabalho de Urtreger por conta de sua excessiva reverência, que alguns maldosamente chamam de obsessão, para com o ídolo Powell. Sem querer adentrar no mérito, o presente trabalho, gravado quando René contava com apenas vinte anos, é uma excelente amostra de sua habilidade.
Seis composições de Powell, dentre as quais uma antológica versão de “Parisian Thoroughfare” e dois temas originais do líder, “À la Bud” e a encantadora “Mercedes”, fazem deste álbum uma experiência fascinente. A sessão rítmica é discreta e eficientíssima. A lamentar apenas a curta duração do disco, com seus pouco mais de vinte e quatro minutos de virtuosismo e elegância. Acompanham Urtreger o baixista Benoît Quersin e o baterista Jean-Louie Viale.
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