O trio Borbetomagus é uma das principais referências quando a seara noise está em pauta. Nem quando surgiu em NY, no final dos 70, o Borbetomagus podia ser rotulado de free jazz; talvez free noise enquadrasse melhor o som dos caras. Liberdade de improvisação, criação instantânea de sons, ruídos, barulhos, ataques de extremos agudos e graves guturais: se o free jazz já havia se distanciado da estrutura melodia-ritmo-harmonia, que fundamenta o melhor do cancioneiro erudito e popular, o som do Borbetomagus levou aos limites as definições possíveis para explicar o que é e o que não é música. Os saxofonistas Jim Sauter e Don Dietrich, acompanhados pelo guitarrista Donald Miller, criam uma camada ruidosa onde é difícil identificar mesmo um simples tema para ser acompanhado. Vemos (ouvimos) um deslocamento da matéria sonora identificável, que faz parte de nosso programa auditivo, muitas vezes bem treinado, para um campo de pulsação ruidosa onde os ouvidos se tornam receptores do desconhecido, que nem sempre pode ser decodificado de forma satisfatória. Essa experiência extreme noise proporcionada pelos três instrumentos não será considerada música por muita gente bem informada. É fácil dizer que esses músicos não sabem “escrever um tema”: mas acaso Jackson Pollock sabia (ou estava interessado em) desenhar uma árvore? Às vezes é mais complicado apenas ouvir do que também ver o Borbetomagus em ação. Nos discos, acontece de muitas vezes mal podermos identificar de onde vêm os sons. Em um vídeo (ou ao vivo, para os mais afortunados) dá para ter uma ideia mais precisa de sua arte.
O que esse trio oferece ao mundo musical? Ainda estamos interessados em pintura figurativa? E em canções com belas melodias para serem assobiadas? Em entrevista concedida em julho de 97, Jim Sauter tenta definir o som que fazem: "I think of it as a personal expression based on a desire to create something new, innovative and fresh each time we get together to play. That comes from our approaching it as three individuals with an interest in creating a musical art form that’s singular and indentifiable as our own." (A quem ficar interessado, a entrevista completa pode ser lida no site Perfect Sound Forever: http://www.furious.com/perfect/borbetomagus.html)
Experience the Magic traz o Borbetomagus ao vivo no CBGB (New York City 1993). Em duas extensas seções (Bathed in the Blood of the Lamb (33:35) e Grunion Run (25:15)), Sauter, Dietrich e Donald Miller apresentam suas máquinas de distorção sonora. Ouçam antes de dizerem que apenas se trata de barulho. ExM
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