Black Artists’ Group: história revisitada
Música e outras coisas

Black Artists’ Group: história revisitada








Point from wich creation begins: The Black Artists’ Group of St. Louis
*Autor: Benjamin Looker
*344 pags.
*Editora: Missouri Historical Society Press (2004)



O estrangulamento de apoios financeiros acabou por ser fatal para o Black Artists’ Group (BAG) em meados da década de 1970. A dificuldade em se criar um público cativo, que garantisse a sobrevivência do coletivo/cooperativa/centro cultural, também foi fundamental para a dissolução do projeto. Como já foi dito aqui, a vida altamente criativa do BAG se estendeu de 1968 a 1972. Talvez menos lembrado do que mereça, o BAG acabou por protagonizar um recente livro que, ao lado das divulgações permitidas pela internet, permitiram o reavivamento da memória de tão relevante capítulo da música livre. O livro: trata-se de Point from wich creation begins: The Black Artists’ Group of St. Louis, escrito pelo professor Benjamin Looker. Publicado em 2004, o livro apresenta de forma detalhada, em mais de 300 páginas, o percurso do BAG, de sua formação à desintegração. Adendos preciosos, como a discografia do grupo e a listagem das figuras que passaram por lá, complementam o relato, recheado de depoimentos.

A dissolução do BAG guarda alguns capítulos desconhecidos relevantes, mostrados no livro: antes de mais nada, lá para 1971, o coletivo passou a enfrentar desentendimentos éticos e estéticos internos: enquanto um grupo defendia a criação artística como epicentro, outros queriam que a ação político-social se tornasse o foco central. Um dos primeiros a sofrerem o peso disso, naquele 71, foi o saxofonista Julius Hemphill, que ocupava o cargo de presidente do BAG e defendia um discurso politicamente menos radical. Acabou por ser exonerado do cargo e praticamente expulso do grupo que ajudou a criar. Na mesma época, o “Rockfeller Foundation”, importante provedor de recursos para projetos culturais, decidiu retirar seu apoio ao BAG, justificando que o grupo estava mais preocupado “com questões de reforma social” do que com “produção artística”. A falta de público, que assolava até os músicos da mais ativa Nova York –imaginem então St. Louis!–, teve também peso considerável. Nesse ponto, foi Lestar Bowie, filho de St. Louis radicado na AACM de Chicago, quem deu a dica para seus amigos: tentem a sorte na Europa. Isso levou alguns dos nomes centrais da música do BAG (Oliver Lake, Floyd LeFlore, Baikida Carrol, Charles “Bobo” Shaw e Joseph Bowie) a partirem para Paris no outono de 1972, onde ficariam até o ano seguinte. Ao retornarem, acabaram por se reestabeleceram em NY, se integrando a outro pico que brotava: a cena loft, deixando St. Louis no passado.

Para quem deseja conhecer de forma menos ligeira e pontual essa história, Point from wich creation begins: The Black Artists’ Group of St. Louis é um rico documento, merecedor de espaço cativo em qualquer estante de free music.



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