Andanças e devaneios de Thurston Moore (I)
Música e outras coisas

Andanças e devaneios de Thurston Moore (I)


Muito já tratamos neste espaço sobre as andanças e devaneios do guitarrista Thurston Moore (1958, Coral Gables/Florida) além das fronteiras do Sonic Youth, em especial na seara free improv. Moore começou a tocar no fim dos anos 1970, período em que se juntou a seu mais antigo parceiro, Lee Ranaldo, na orquestra de guitarras de Glenn Branca, antes de formaram o Sonic Youth, lá para 81.




O primeiro grande encontro de Moore com o pessoal do free improv ocorreu em junho de 1988. O disco se chamava “Barefoot in the Head” e se tratava de uma parceria com os saxofonistas Jim Sauter e Don Dietrich, do grupo noise Borbetomagus. Depois nasceriam encontros e gigs com Evan Parker, Rashied Ali, William Hooker, Susie Ibarra, Derek Bailey, Cecil Taylor, Milford Graves, Peter Brötzmann, Joey Baron, Wally Shoup, Keiji Haino, Giancarlo Schiaffini, Chris Corsano, Paul Flaherty...

Em novembro de 2003, Moore deu uma entrevista a Fred Jung, na qual ele falou sobre seus primeiros contatos com a free improvisation:


"Improvised music as a genre, I was somewhat unaware of in the Eighties. I started playing music around '76,'77 in New York, when I moved there as a teenager, playing in punk rock bands. (…)It wasn't until I met Kim (Gordon), my wife, who plays in Sonic Youth, and she grew up listening to jazz with her friends on the West Coast, John Coltrane, etc. I became interested in it through her. I started really listening to classic Sixties jazz, to Coltrane and Mingus and to Ornette, and became very immersed in it, especially the New York school of it, and reading Leroi Jones' writings on it. Black Music, I believe the book was. That really opened up my ears to people like Frank Lowe and Rashied Ali and Milford Graves and some of the more expanded playing ideas. The idea of improvisation in jazz was elemental. I never really thought about it. As far as the way I was approaching music myself, the idea of creating compositions with us getting together and playing free and making composition from ideas that were coming out of this free playing, I never thought it as belonging to any school of improvisation. I found out about a club called the Saint and this was a little club on the Lower East Side that was curated and run by John Zorn. (…) They were playing music that seemed to come out of the language of jazz, as far as it being improvised music, but it was something wholly other. It was completely free improvisation.

"At some point, I discovered, just by the fact that there was a record store in Manhattan that sold only jazz records and it was an extension of this record store on St. Mark's Place called Sounds and they opened up a store on 9th Street, which was where they shuffled all their jazz stock and sold it really cheap. I started going there because I was looking just for some more records that were akin to Coltrane and Mingus. Within all these records were a lot of European records by people on independent labels such as Peter Brötzmann, Derek Bailey, Evan Parker, and these were people I knew were sort of part of what was being presented at the Saint. I became curious about it and I picked up a couple of them because they were cheap enough. Nobody bought these records at all. There was no hip cache to them like there is now at all. It was pre-CD too. Especially Derek Bailey, they really made me curious in a way as to who these people were because their music was so open ended and all about these communications that they were dealing with each other and I didn't know how to look at it historically."

Um ponto interessante nessa história é ver também seus parceiros de Sonic Youth circulando no mundo da livre improvisação. Em 1999 ocorreu um episódio bastante expressivo nesse sentido. Ao lado de Moore estavam Lee Ranaldo e Steve Shelley. Aos três Sonics se juntou o saxofonista sueco Mats Gustafsson. Faltou apenas Mrs. Kim Gordon (não à toa, as duas faixas que compõem a gig foram chamadas de “Without Kim”). Gordon se juntaria a eles nos álbuns-projetos-experimentações “Hidros 3” (2000) e “SYR 8: Andre Sider” (2008).

O encontro aconteceu em 12 de abril de 1999. Não tenho informações sobre como se deu a reunião, sobre sua divulgação ou quem comandou o projeto. Essa foi uma das primeiras parcerias entre Moore e Mats, que depois se desdobraria em diversos capítulos/projetos. Este “New York – Ystad” foi registrado em um momento sintomático do Sonic Youth, em que seu núcleo mais pop, marcado por álbuns como 'Goo' e 'Dirty', havia ficado para trás. New York – Ystad está exatamente entre “A Thousand Leaves” (1998) e “NY Ghosts & Flowers” (2000) –este último, em especial, bastante experimental e pouco querido pela ala de fãs mais pop. O título é o mais simples possível, uma ligação entre a NY dos Sonics e a cidade sueca de Ystad. O esquema do trabalho é armado sobre longas improvisações, com lentas evoluções e passagens de força mais marcada. Na primeira faixa, é mais presente esse esquema. A segunda é mais concentrada e arrastada. Esse tipo de trabalho costuma ser mais auditivamente palpável quando presenciado ao vivo, na beira do palco, próximo aos músicos. Apenas ouvi-lo significa perder várias nuances e detalhes interpretativos. Mas, se é o que temos, vamos lá então...







1. Without Kim I (44:27)
 
2. Without Kim II (17:35)


*Thurston Moore: guitar
*Lee Ranaldo: guitar
*Steve Shelley: drums, percussion
*Mats Gustafsson: reeds

Recorded April 12 1999 by Wharton Tiers.
Mixed May 2 2000 by Jim O´Rourke, at the Echo Canyon, NYC.
**Limited edition 100 for Black Box + HC.



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