Alex Ward: testando as formas mais intensas da música
2012 está sendo marcado pelo desembarque de variados duos de free improvisation. O melhor é que muitos desses músicos ainda não haviam tocado no país. Já tivemos Ken Vandermark/Christof Kurzmann; Roger Turner/Urs Leimgruber; Rob Mazurek/Chad Taylor; (em julho) Eddie Prévost/John Butcher. Neste fim de semana é a vez dos britânicos Alex Ward e Steve Noble, que tocam no Sesc Belenzinho, em uma produção da Arte e Rumo.
Ward e Noble gravaram juntos pela primeira vez em duo no ano de 1989 –Ward, nascido em 74, ainda era adolescente. O disco de estreia da dupla veio em 91, “Ya boo, reel & rumble”, editado pela Incus Records.
A relação de Ward com a cena começou ainda antes. Em 86, conheceu Derek Bailey (1930-2005) em um workshop; em 87, se uniu ao grande guitarrista em uma performance durante a Company Week, tocando sax alto. Em conversa há pouco com Ward, perguntei a ele sobre o papel de Bailey em sua trajetória:
“[Encontrar] Derek Bailey quando ainda era um adolescente abriu para mim todo um mundo de possibilidades de se relacionar com a música e a improvisação. Esse evento acabou por ter grande relevância na maneira em que a improvisação livre, como forma de fazer música, iria passar a ter para mim. Mas quando eu penso em Derek agora, normalmente é mais sobre a nossa associação continuada ao longo de muitos anos, e minhas colaborações com ele já como um adulto, do que sobre as minhas primeiras reuniões/apresentações com ele. [Na realidade] Eu já estava comprometido com a música como meu principal objetivo de vida antes de entrar em contato com Derek”, contou Ward ao Free Form, Free Jazz.
(Alex Ward e Steve Noble. London, ICA, 17.11.09)
Clarinetista de formação clássica, Ward muito cedo passou a tocar também sax alto (que executa mais raramente hoje em dia). Em 2000, começou a explorar o instrumento que se tornaria seu segundo principal veículo de expressão: a guitarra.
“Vou levar os dois instrumentos [clarinete e guitarra] para o Brasil (...). O repertório do show será totalmente improvisado. Em metade da apresentação tocarei clarinete. Na outra parte, guitarra. Steve vai ficar na bateria o tempo todo”, disse ele.
Quem der uma olhada na discografia de Ward vai encontrar parcerias com muitos dos principais nomes da cena européia (em especial a britânica). Citando nomes fundamentais da free music de seu país (Barry Guy, John Russell, Lol Coxhill etc.), perguntei a ele como que se deram os encontros e as trocas de referências entre ele e essas figuras todas.
“Certamente todos esses músicos [britânicos] incríveis me influenciaram, mas assim como tantos outros de outras tradições e de outros países. Só para dar três exemplos diferentes arbitrariamente escolhidos: Pierre Boulez, Hank Williams e Mark E Smith, apenas para citar alguns dos que me influenciaram tanto quanto muitos outros improvisadores livres.”
A abertura de importantes músicos a gêneros variados – o citado Hank Williams (1923-1953), por exemplo, é um nome referencial do honky tonk e do country – nos lembra o quanto se fechar em igrejinhas pode ser nocivo, pensando como ouvinte mesmo... Essa abertura de Ward também se reflete em sua música. Um projeto seu recente e destacado, o “Dead Days Beyond Help” (ouça abaixo), mostra uma visada mais rocker, tendo por base guitarra e bateria, com Ward também se arriscando (às vezes) nos vocais, além de mostrar sua investida como compositor.
“Atualmente toco em vários grupos dedicados à imprvisação livre, além de meus próprios projetos (Dead Days Beyond Help e Predicate, entre outros), para os quais escrevo ou coescrevo composições. Vou continuar com esses projetos e também buscar novas oportunidades para prosseguir fazendo música, sempre testando suas formas mais intensas”, disse Ward.
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