VOSSA EXCELÊNCIA REVERENDÍSSIMA, O BISPO DO JAZZ
Música e outras coisas

VOSSA EXCELÊNCIA REVERENDÍSSIMA, O BISPO DO JAZZ




Nascido no Harlem no dia 10 de abril de 1927, no Harlem, em uma família extremamente musical, Walter Bishop Jr. é um dos maiores pianistas do bebop – embora também tenha feito interessantes incursões pelo hard bop e pelo soul jazz. O pai, Walter Bishop Sr., era um compositor que gozou de alguma popularidade nas décadas de 20 e 30, tendo sido amigo de Fats Waller, Eubie Blake e Andy Razaf. Sua composição mais conhecida é “Swing, Brother, Swing”, gravada por Billie Holiday, Count Basie e Willie “The Lion” Smith.

Crescendo em um ambiente tão estimulante, era natural que o pequeno Bishop desenvolvesse um enorme interesse pela música. Dentre os amigos de infância, muitos futuros astros, como Kenny Drew, Jackie McLean, Sonny Rollins e Art Taylor. Abandonou os estudos ainda na adolescência, para se tornar músico profissional, unindo-se a uma banda de R&B que tocava em bailes e casas noturnas do Harlem.

Em 1945 entrou para o exército, permanecendo ali por cerca de dois anos. Em 1947, após cumprir o serviço militar, Bishop passa a freqüentar os clubes de Nova Iorque, especialmente o Minton’s, e se encanta, particularmente, com a exuberância de Bud Powell, que toma o lugar de Nat Cole e Art Tatum no rol de influências do jovem pianista. Nessa época, começaram a aparecer os primeiros convites para acompanhar alguns dos principais nomes do jazz que se apresentavam em Nova Iorque.

Bishop tocou com Art Blakey (com quem fez a sua primeira gravação, em 1947), Charlie Parker (seria, de 1950 até 1955, um dos pianistas preferidos de Bird), Gene Ammons, Oscar Pettiford, Eric Dolphy, Stan Getz, Wild Bill Moore, Doc Cheatham, Kai Winding, Milt Jackson, Miles Davis, Lee Konitz, Zoot Sims, Kenny Dorham, Jackie McLean, Hank Mobley, Kenny Clarke, Curtis Fuller, Clark Terry, Blue Mitchell, Junior Cook, Paul Gonsalves, Charlie Rouse, Sonny Rollins, Max Roach, Terry Gibbs, Cecil Payne, Roland Kirk e outros.

Embora sua atuação como acompanhante seja muito bem documentada e seu conceito entre os músicos de jazz seja elevadíssimo, Bishop jamais teve a mesma popularidade que outros pianistas ligados ao bebop ou ao hard bop, como o próprio Bud Powell, Oscar Peterson ou Horace Silver. Em 1963, seu trio dividia o palco do Five Spot Café, em Nova Iorque, com niguém menos que Thelonious Monk e seu quarteto. No ano seguinte, Bishop excursionou com o vibrafonista Terry Gibbs.

Ainda na década de 60 montou talvez o seu trio mais conhecido, com Jimmy Garrison e Granville T. Hogan, e que era atração fixa nas noites de segunda feira do Birdland. No final da década, resolveu se dedicar mais à teoria musical, tendo estudado na Juilliard School Of Music, onde foi aluno de Hall Overton (um pianista e compositor pouco conhecido, mas que trabalhou com Jimmy Raney, Teddy Charles e Stan Getz).

Dentro da sua pequena (mas bastante consistente) discografia como líder, um dos momentos mais interessantes é, certamente, é “The Walter Bishop Jr. Trio”, gravado entre 1962 e 1963 e lançado pela Prestige. Além do pianista, atuam no álbum o baixista Butch Warren (mais conhecido por seu trabalho ao lado de Thelonious Monk) e os bateristas Granville T. Hogan (veterano da banda de Earl Bostic, que no disco atua em apenas quatro faixas) e Jimmy Cobb (integrante regular dos grupos de Miles Davis, nas 12 faixas restantes).

Uma característica comum a todas as faixas é a duração relativamente curta: poucas excedem os três minutos. Há diversas composições do líder, além de diversos standards. “Tell It The Way It Is” (de Bishop e de Addison Amor) e “Things Ain’t”What They Used To Be” (de Duke Ellington) são temas calcados no blues, mas tocados com o swing de quem possui uma inquestionável vocação bop.

A dupla Rodgers e Hart ganha uma versão fabulosa de “Falling In Love With Love”, na qual o destaque absoluto é o piano de Bishop, que evoca as harmonias impossíveis do ídolo Bud Powell e revela o seu lado de improvisador nato. Sensacional a participação de Cobb. A sacolejante “33rd Off 3rd” é outro grande momento, com sua contagiante mistura de blues e R&B.

Dentre os muitos standards, merecem atenção mais detida a musculosa versão de “Summertime” (dos irmãos Gershwin), com uma intensa pegada bluesy mas com muito swing, além de “Love For Sale” e “Easy To Love”, duas das mais belas composições de Cole Porter, que ganham arranjos bastante energéticos (a primeira, com um delicioso tempero latino, acrescido pela batida mágica de Cobb).

O trio faz uma tentativa de exploração da bossa-nova em “Dottie’s Theme” (outro tema de Addison Amor), mas não é lá muito bem sucedido. Melhores performances podem ser ouvidas nas incendiárias “Dinkum”, “Getting Off The Ground” e “Easy Walk”, as duas últimas de autoria do pianista, que recorda, com muita inventividade e alta dose de swing, os tempos em que atuou com Bird.

“The Bishop Moves” é uma interessante incursão pelo hard bop, com as nervosas baquetas de Hogan pulsando alucinadamente e Bishop tingindo de blues esse ótimo tema. A balada “I Thought About You”, de Jimmy Van Heusen e Johnny Mercer, ganha um arranjo reverente, quase confessional, com citações de “Straight, No Chaser”, de Monk.

Completam o set “Take One Of My Pills”, “Theme On A Legend” e a belíssima “Our Romance Is Over”, uma balada sentimental e delicada, executada com a leveza e a melancolia que o título exige. Um grande músico, cuja obra – se não pode ser enquadrada entre as mais originais do jazz – é extremamente honesta e clama por ser reconhecida. Poucos discos são mais que indicados para começarmos a conhecer melhor o talento desse pianista tão talentoso do que este “The Walter Bishop Jr. Trio”.

No começo da década de 70 mudou-se para Los Angeles, onde deu aulas de música em diversas escolas locais. De volta a Nova Iorque, em 1975, integrou a big band de Clark Terry e o Supersax. Também tocou com o velho amigo Blue Mitchell e escreveu um livro sobre a improvisação jazzística, chamado “A Study in Fourths”.

Nos anos 70 flertou com o R&B e o soul jazz. Lançou o elogiado "Soul Village", de 1977, pela Muse Records, ao lado de Randy Brecker e no qual tocava piano Fender Rhodes. Também merece registro a participação no álbum “Child’s Dance” (1973), dos Jazz Messengers, onde dividia o piano com George Cables, Cedar Walton e John Hicks.

Na década de 80, Bishop, que também era poeta e costumava recitar seus poemas nos shows que fazia, foi professor da Hartt Scholl (departamento de música, dança e teatro da Universidade de Hartford). Nesse período, uma das associações mais constantes foi com o saxofonista Bob Mover, ao lado de quem fez diversas turnês, incluindo aclamadas participações em festivais na França e em Israel. Em sua temporada na Europa, é importante destacar a sua participação na Paris Reunion Band, banda formada em 1984, para homenagear Kenny Clarke e sua obra, em uma formação que incluía Nathan Davis, Joe Henderson, Woody Shaw, Nat Adderley, Curtis Fuller, Jimmy Woode e Idris Muhammad.

Walter Bishop Jr. permaneceu em atividade até o final dos anos 90, se apresentando habitualmente no circuito de clubes de Manhattan e participando com regularidade de festivais, como o Charlie Parker Jazz Festival (foi uma das atrações mais aplaudidas da edição de 1995, tocando com a Larry Ridley's Jazz Legacy Ensemble, cuja formação incluía o trompetista Virgil Jones e James Spaulding no sax alto). Ele faleceu, em conseqüência de um ataque cardíaco, no dia 24 de fevereiro de 1998, em Nova Iorque.

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