SAUDAÇÃO A MILES DAVIS
Música e outras coisas

SAUDAÇÃO A MILES DAVIS




São 3 horas da manhã,

Teu sopro inumano, claro e táctil

Ecoa pela sala vazia

Bebo à tua saúde, que já não mais há

Encomendo-te um solo que não me pudeste dar

Rogo-te uma balada que não me quiseste soprar

Embalo-te, então...

As minhas mãos de acalanto são frágeis e pantanosas

E me respondes com outro falsete breve

Evoco-te no meu pensamento emparedado,

E me assombras com outra baforada de lâmina

– What’s Up?

É a voz do teu negro orgulho, indócil, acuado...

– E daí?

Pergunta o semideus de pés de barro,

Antes de sucumbir ao chamado de Dionísio,

Antes de mergulhar nas profundezas de Hades,

Qual um Orfeu tardio e inacabado.

Miles, Miles, onde está a tua lira?



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Horace Parlan nasceu no dia 19 de janeiro de 1931, em Pittsburgh, estado da Pensilvânia. Ainda na infância começou os estudos de piano, mas aos 12 anos teve poliomielite, que acabaria por paralisar parcialmente os movimentos de sua mão direita. Munido de muita coragem e determinação, Parlan teve que desenvolver uma técnica própria, usando com mais intensidade a mão esquerda.

Seu estilo é um hard bop sofisticado, às vezes intimista, mas ele também trafega, com extrema desenvoltura, por entre o tradicionalismo blues e as abstrações sonoras do jazz de vanguarda. Suas maiores influências são Bud Powell, Ahmad Jamal, Red Garland e Horace Silver, a quem sempre foi muito comparado.

Deu os primeiros passos como músico profissional na própria Pittsburgh, acompanhando locais bandas de r&b, no início da década de 50. De 1952 a 1957, morou em Washington, época em que tocou com regularidade com Sonny Stitt. De 1957 a 1959 trabalhou com Charles Mingus, participando de importantes álbuns do contrabaixista, como “Blues And Roots” e “Mingus Ah Um”.

Depois disso, já em Nova Iorque, acompanhou músicos como Lou Donaldson, Stanley Turrentine, Dave Bailey, Dexter Gordon e Booker Ervin, além de ter integrado o quinteto de Johnny Griffin e Eddie Lockjaw Davis (1962/1963). De 1963 a 1966 foi o pianista regular de Roland Kirk e entre os anos 70 e 90 atuou como sideman de jazzistas do quilate de Idrees Sulieman, Al Cohn, Howard McGhee, Benny Carter, Doug Raney e Zoot Sims.

Do final dos anos 50 até meados dos anos 60 produziu alguns ótimos álbuns para a Blue Note, ao lado de feras como Tommy Turrentine, Johnny Coles, Stanley Turrentine, Booker Ervin, Grant Green, Sam Jones, George Tucker, Butch Warren, Al Harewood, Billy Higgins e muitos outros. Lamentavelmente, o reconhecimento do seu trabalho sempre esteve aquém do merecido e muitos desses discos permanecem fora de catálogo.

Em 1973 se mudou para a Europa, fixando residência em Copenhagen. Ali, trabalhou ao lado de outros exilados famosos, como Dexter Gordon, Red Mitchell, Slide Hampton, Clark Terry, Ernie Wilkins, Frank Foster e Archie Shepp, além de haver tocado com grandes nomes do jazz europeu, como Pierre Dorge, Michal Urbaniak e Jesper Lundgaard. Também gravou diversos álbuns como líder, sobretudo para o selo dinamarquês SteepleChase. Às vésperas de completar 80 anos, continua em plena atividade.

Um dos mais talentosos pianistas do hard bop, dono de um toque personalíssimo e de um bom gosto à toda prova, Horace Parlan é também um dos menos festejados. O álbum “Up & Down”, gravado no dia 18 de junho de 1961 e relançado em 2008 pela série RVG Edition, é a prova de quão injusto pode ser o mundo do jazz.

Virtuosismo, solos inebriantes, elegância e muita energia em todas as faixas, fazem deste um dos mais representativos álbuns da carreira do pianista e traçam um panorama revelador do cenário hard bopper do início dos anos 60. Além de Parlan, participam da sessão o saxofonista Booker Ervin, o baixista George Tucker, o baterista Al Harewood e o guitarrista Grant Green, todos em esplendorosa forma.

“The Book’s Beat” abre o disco, com seus riffs poderosos e suas frases intrincadas. Green contribui com a fabulosa “The Other Part Of Town”, uma epopéia sonora de quase 12 minutos de muito swing e técnica. “Light Blue”, do trompetista Tommy Turrentine, é um hard bop pulsante, solidamente fincado no blues, com atuações soberbas de Ervin e, especialmente, de Green. Destaques também para “Up & Down”, tema acelerado e complexo de autoria do líder, e para “Fugee”, composição de Harewood, que revela a intimidade de Parlan com o blues.

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