Prateleiras incendiadas: coisas boas que chegam
Música e outras coisas

Prateleiras incendiadas: coisas boas que chegam


A virada do semestre foi marcada pelo desembarque de material novo, pulsante e enérgico oferecido por algumas figuras centrais da free music –boa parte deles, curiosamente, com passagens recentes pelo Brasil. Sons para ouvidos finos e inquietos, uma serie incrível que dificultará a eleição do 'Top 10' de 2011 (e isso porque estamos apenas destacando certos pontos luminosos da safra...).



Já recuperado do transplante de rim que enfrentou em 2009, David S. Ware aparece em alto estilo neste Planetary Unknow. Para fazer do álbum um marco, o saxofnista convocou o recluso baterista Muhammad Ali, que deixou a cena ativa ainda na década de 1980. Na reunião genial não podia faltar, claro, William Parker no baixo. O pouco lembrado pianista Cooper Moore completa o quarteto. “Passage Wudang” abre o disco com seus quase 22 minutos. Poderia abrir e fechar que a conta estaria bem paga.   



Delicadeza com arestas: este é mais um belo dueto de sax e piano conduzido por Mr. Archie Shepp, que já explorou o formato em seus extremos ao lado de Dollar Brand, Mal Waldron, Horace Parlan e Siegfried Kessler. Do clássico colemaniano “Lonely Woman” (em versão arrepiante) ao standard “Sophisticated Lady”, Shepp é acompanhado nesta investida pelo pianista alemão Joachim Kühn. A suja balada “Nina” é um dos momentos que por si só valem o disco.




Joe Morris, que vimos em palcos brasileiros empunhando baixo, marca presença nas prateleiras também com sua inigualável guitarra. Morris estampa dois álbuns que chegam ao mercado, dois duos com pianistas distintos. O primeiro lançamento é um encontro da guitarra com o piano do espanhol Agustí Fernandez, com quem realizou seis improvisações, todas chamadas Ambrosia, em outubro de 2010. 

A outra parada com Morris o traz ao lado de Matthew Shipp. Os dois reeditam um encontro que já havia rendido o incrível “Thesis”, em 1997. Neste Broken Partials, encontramos uma extensão das experiências de uma década atrás, mas com uma diferença fundamental: sai a guitarra e entra o baixo. Mesmo que Morris não seja o número 1 do baixo (longe disso), como pode ser considerado à guitarra (ao menos entre os vivos), um encontro entre ele e Shipp não é material para ser ouvido e esquecido.




Outro que chega em lançamento duplo é Mats Gustafsson. Com seu trio Fire!, Mats solta o segundo rebento, Unreleased?, que traz dessa vez um convidado especial: Jim O’Rourke. O resultado é forte, com o quarteto seguindo a linha do primeiro disco, mas adicionando as fagulhas de Jim, que passa por guitarra, sintetizador e harmônica. Quem esteve no Sesc em maio passado sabe o impacto das intervenções do Fire!


A outra novidade do saxofonista sueco revisita um de seus outros incensados projetos, o trio Tarfala, que teve sua primeira aparição no longínquo 1992, ao lado do baixista Barry Guy e do percussionista Raymond Strid. De som bastante distinto do Fire!, dentro de uma linhagem free improv europeia clássica, o Tarfala ainda está em excelente forma. Dúvidas? Ouça este Syzygy, LP duplo com tiragem limitada de 600 cópias.






Para arrebatar qualquer entusiasta e fechar de forma eufórica esta singela lista: Mr. Peter Brötzmann recebeu finalmente a homenagem que o mundo lhe devia: Soldier Of The Road é o nome do documentário assinado pelo diretor Bernard Josse, que visita o saxofonista (e artista plástico) e sua singular música, montando um retrato do mestre alemão que se estende por 93 minutos. Bastidores, turnês, entrevistas com figuras como Evan Parker, Joe McPhee, Han Bennink e Mats Gustafsson formam o filme que tem sua gênese no trabalho do jornalista francês Gerard Rouy, que começou, ainda em 1972, a documentar, por meio de fotos e entrevistas (boa parte do material está no documentário), a trajetória deste já mítico símbolo da música livre.







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