Música e outras coisas
O quase esquecido Jeffrey Schanzer
Nada em livros, quase nada na internet. Missão difícil garimpar informações sobre Jeffrey Schanzer. Pouco falado, muito menos lembrado, esse guitarrista, que deve ter nascido em meados dos anos 1950, estudou com nomes tão distintos e interessantes quanto Morton Feldman e Anthony Davis. E não esqueceu as lições recebidas: sua música deve tanto às experiências avant-garde eruditas quanto às jazzísticas. Neste campo, gravou e tocou com Lester Bowie, Joseph Jarman, Oliver Lake e Wadada Leo Smith. Mesmo assim, permanece um estranho a muitos dos apreciadores dessa seara acústica.
Importante em sua jornada é a longa parceria travada com a pianista e compositora Bernadette Speach, com quem se casou em 1984. Juntos lançaram o disco “Dualities” (1992), que foi celebrado na Jazziz Magazine como “um dos 10 melhores álbuns do ano”. Em março de 1996, o músico teve sua obra mais conhecida gravada: “No More in Thrall”. Escrita originalmente no marco dos 50 anos da libertação do campo de concentração nazista de Buchenwald (onde o próprio pai de Schanzer esteve preso), “No More in Thrall” foi conduzida pelo Sirius String Quartet, contando com a participação do percussionista Kevin Norton. Apesar da atividade constante, não existem muitas gravações de Schanzer –é mais fácil encontrar referências e discos de sua esposa–, o que dificulta até mesmo trilhar sua jornada. Mas o músico ainda permanece em atividade. Em 2007/2008, Schanzer excursionou com Bernadette e o flautista Andrea La Rose em um concerto-tributo a seu antigo amigo Leroy Jenkins (1932-2007).
Nos anos 1980, o guitarrista formou o ‘Jeffrey Schanzer Ensemble’, que contava com o violinista Leroy Jenkins e o reedman Ned Rothenberg. Nas duas décadas seguintes, o grupo se reuniria esporadicamente, muitas vezes com outros membros. Entre peças mais ligadas a certa linhagem improvisativa de ecos eruditos e outras de tom mais free jazzístico, o ‘Jeffrey Schanzer Ensemble’ é um instigante grupo esquecido e fora de catálogo. O primeiro rebento, Vistas, foi concebido em 1987. Jamais reeditado, Vistas mostra Schanzer lidando em alguns temas com sua guitarra preparada (herança do melhor John Cage). “Movement”, que abre o álbum, traz um delicioso diálogo entre detalhes percussivos e o violino de Jenkins –note-se que a sonoridade de Schanzer nesse tema remete à música de gamelão balinesa. Na faixa “Vistas”, pode-se encontrar um pouco da letargia hipnótica de Morton Feldman. Já “Bounce”, que encerra o trabalho, apresenta outra esfera do grupo, estabelecendo relações jazzísticas mais evidentes, sendo dedicada a Thelonious Monk.
A1. Movement (11:50)
A2. No pasaran (9:23)
B1. Vistas (9:44)
B2. Bounce (9:11)
vistas
*Jeffrey Schanzer : guitar, prepared guitar, claves
*Leroy Jenkins : violin
*Ned Rothenberg : alto saxophone, bass clarinet, flute
*Lindsey Horner : bass
*Bobby Previte : drums, marimba
*Bernadette Speach : conductor on ‘Vistas’
Recorded 1987-07-31 at Radio City Studio, New York City.
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