Música e outras coisas
Marilyn Crispell: ainda não foi dessa vez...
Era para a sequência Zorn-Vandermark ter sido completada com mais nomes de ponta do cenário free internacional. A pianista Marilyn Crispell, que acabou de completar 65 anos de idade, chegou a colocar no espaço ‘Upcoming Concerts’ de seu site, para o período março/abril, o seguinte: TBA – São Paulo/Brazil. Mas, em meio a um vacilo fenomenal, a curadoria de um espaço importante de SP achou que não era o melhor momento para isso ocorrer... como se estivéssemos falando apenas de mais algum jazzista qualquer com vontade de tocar no Brasil... Crispell estava pronta para vir ao país, ao lado de Gerry Hemingway, como convidada de Ivo Perelman. Agora é torcer para que no segundo semestre as agendas todas se reajustem e permitam que possamos apreciar o que dificilmente deixará de ser uma experiência sonora primorosa.
O nome de Marilyn Crispell está indissociavelmente ligado ao de Anthony Braxton. Um dos motivos para isso é o fato de a pianista ter feito parte do mítico quarteto que Braxton organizou nos anos 80/90, que contava ainda com Gerry Hemingway (bateria) e Mark Dresser (baixo). Mas o relacionamento dos dois começou ainda antes.
Crispell, nascida na Filadélfia em março de 1947, começou a estudar piano aos sete anos, iniciando um percurso que a levaria até o New England Conservartory, onde se graduou em piano clássico e composição no ano de 1969. Depois de formada, ela decidiu dar um tempo da música –meio para o qual retornaria com novo ímpeto somente lá para 75, quando se fixou em Nova York e passou a frequentar o Creative Music Studio. É nesse tempo que se associa a Braxton, entrando para sua Creative Music Orchestra e fazendo sua estréia em gravações com esse grupo, no ano de 78. A partir da década de 1980, a instrumentista assumiria o papel de líder, percurso demarcado com os lançamentos de ‘Spirit Music’ e ‘Live in Berlin’, captados entre 81/82. Desde então, assinou mais de 50 álbuns, com muito material ao vivo, solos, duos e trios. Dentre suas parcerias, destacam-se encontros com Reggie Workman, Ivo Perelman, Anthony Davis, Evan Parker, Tim Berne, Eddie Prevost, Paul Motian, Irene Schweizer, Gary Peacock, Fred Anderson, Barry Guy, Joelle Leandre e tantos outros.
O lendário quarteto ao lado de Braxton deixou na discografia de Crispell vários títulos fantásticos, a começar com “Quartet (London) 1985”; na sequência, viriam: “Quartet (Birmingham) 1985”; “Quartet (Coventry) 1985”; “Victoriaville (1992)”; “Twelve Compositions: Live at Yoshi's in Oakland” e “Quartet (Santa Cruz) 1993”.
Em meio a esses títulos, um com coloração muito especial: Willisau (Quartet) 1991, formado por um conjunto de quatro discos, sendo dois ao vivo e dois captados em estúdio, todos registros feitos em Willisau, na Suíça, em junho de 91. O álbum saiu na época pela HatART e nunca foi reeditado. Com isso, dentre as poucas ofertas de usados disponíveis por aí, há gente pedidndo US$ 200 pelos cds...
Quem conhece o trabalho desse quarteto, em grande parte estruturado por gravações ao vivo, dificilmente pode deixar de se encantar com os registros de estúdio de 91, que mantêm a espontaneidade e a liberdade dos sons captados no palco, mas trazendo uma qualidade composicional mais aguda. Como podemos ver neste disco 1 do conjunto Willisau, nascido no estúdio, o quarteto Braxton/Crispell/Dresser/Hemingway havia atingido um ponto mágico de cumplicidade e intimidade sonoras, poucas vezes verdadeiramente alcançado na música free/jazzística (o colocaria ao lado de: John Coltrane Quartet; Keith Jarrett (american) Quartet; e David S. Ware Quartet). Esse encantador grupo se afastou em 93. Dentre seus integrantes, quem tem mantido parcerias constantes é Crispell e Hemingway (os dois que deveriam estar no Brasil por esses dias!). Eles lançaram recentemente um disco em duo, Affinities.
*Marilyn Crispell: piano
*Anthony Braxton: alto sax, clarinet, C-flat clarinet, flute, sopranino
*Mark Dresser: bass
*Gerry Hemingway: drums
Recorded on 4/5 June 1991 in Willisau, Switzerland.
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Photo by Claire Stefani
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