Quem sabe o recente interesse demonstrado por produtores (e bem recebido por público) pelo formato jazz-piano-solo não acabe por trazer Matthew Shipp para nossos palcos. Na próxima semana tem Keith Jarrett; em 2009 e 2010 (sim, duas vezes seguidas) foi Brad Mehldau. Enquanto não vemos Shipp-solo na área, uma boa saída é apreciar o DVD que o instrumentista lançou no começo deste 2011. Trata-se de Solos, DVD que faz parte de uma série (“The Jazz Sessions”) realizada por uma produtora canadense, que já contemplou figuras como Lee Konitz e Andrew Hill. Entre uma peça e outra é possível ver também o músico comentando sua vida e obra.
Solos é apenas uma das novidades que o pianista colocou nas prateleiras neste primeiro trimestre.
Quem estava ansioso por criações frescas do músico, não tem do que reclamar. Um dos outros lançamentos, que chegou ao mercado em fevereiro, traz Shipp em duas versões: solo e trio (ao lado do baterista Whit Dickey e do baixista Michael Bisio). CD duplo, Art of the Improviser mostra o pianista em 11 temas, quase todos de sua lavra –dentre as poucas exceções, a clássica ellingtoniana ‘Take the a Train’. Whit Dickey foi um antigo companheiro de Shipp no David S. Ware Quartet e não é surpresa a harmonia demonstrada por ambos. Basta ouvi-los em ação em temas como ‘The New Fact’ e ‘Circular Temple’ para entender isso.
Para completar a lista de discos recém-chegados –e atingir a marca veloz de um novo trabalho por mês em 2011–, Mr. Shipp acaba de soltar Cosmic Lieder, um expressivo duo com o saxofonista Darius Jones, uma das caras novas da cena novaiorquina.Cosmic Lieder traz apenas composições/improvisações inéditas, criadas em parceria pelos dois. ‘Motherboxxx’ e ‘Nix Uotan’ demarcam alguns dos picos de intensidade do disco. Não é exagero apontar o formato duo como um dos mais apreciados por Shipp. Uma conferida rápida em sua discografia mostra que o formato sempre o perseguiu, tendo rendido grandes parcerias com Roscoe Mitchell, Joe Morris, William Parker, Ivo Perelman, Guillermo Brown, Mat Maneri, Rob Brown, Sabir Mateen etc.
Aos 50 anos e com algumas dezenas de álbuns lançados como líder ou co-líder, o genial Matthew Shipp merecia ser conhecido de forma mais ampla pelos amantes do piano jazzístico. Não há como se decepicionar.
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