Jazz na Fábrica: festival traz múltiplas opções sonoras
A edição deste ano do "Jazz na Fábrica", festival que ocorre no Sesc Pompeia (São Paulo) de 6 a 30 de agosto, apresenta, como sempre, um amplo leque do jazz e suas fronteiras (free, pós-bop, impro livre, neo bop, fusion, modern criative etc.), com mais de 15 atrações programadas. Dentre as esferas mais ousadas e inventivas, não faltarão boas opções, muitas delas nunca antes vistas por aqui. Abaixo, uma seleção de atrações imperdíveis.
“WILLIAM PARKER Quartet”
O baixista William Parker é, sem dúvida, um dos nomes centrais da música livre e criativa contemporânea. Parker esteve no Brasil em duas oportunidades, mas sempre como sideman: nos anos 80, com Cecil Taylor, e em 2011, com um grupo formado para acompanhar YusefLateef. Mas esta será a primeira vez que Parker traz um de seus projetos ao país, e vem com nada menos que seu incrível quarteto, que conta com o fantástico percussionista Hamid Drake, o sax alto Rob Brown e o trompetista Lewis Barnes. O quarteto gravou seu primeiro álbum, “O’Neal’s Porch”, em maio de 2000 e hoje tem cinco títulos editados – destaque, além do citado, para o belíssimo “Petit Oiseau” (2008). Nesse projeto, podemos apreciar a faceta compositor de Parker: não se trata aqui de improvisação livre, o veio free jazzístico se mostra bastante vivo, com peças, em sua maioria, que se desenvolvem tendo em sua estrutura um tema marcante e uma ritmicidade envolvente, tudo temperado por muitos solos e improvisos. Em conversa com o FreeForm, FreeJazz quando esteve no Brasil em 2011, Parker disse sobre seu quarteto: “A música do quarteto tem algo folk, com uma orientação world music. Estou basicamente tocando nas mesmas bases, especialmente quando ao lado do Hamid Drake, que trabalha a bateria a partir de um conceito rítmico-melódico. Nós dançamos com os ritmos e mudamos os tempos à vontade.” Serão dois concertos: quem puder, assista a ambos!
Quando: 15/8 (sab), às 21h; e 16/8 (dom), às 19h
Onde: Teatro
Quanto: R$ 15 a R$ 50 (inteira)
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“MUHAL RICHARD ABRAMS”
Nos 50 anos de criação da mítica AACM (Association for the Advancement of Creative Musicians), um de seus fundadores vem ao país mostrar um pouco do legado desse que é um dos pilares do free jazz e da música criativa. O pianista Muhal Richard Abrams, de 84 anos, se apresenta em concerto solo, formato com o qual, apesar de ter trabalhado durante toda sua trajetória, não editou muito material. O primeiro exemplar em que se ouve Abrams em piano solo é “Young at Heart/Wise in Time”, disco lançado em 1969. Já o mais recente é “Vision Towards Essence”, editado em 2007. Escutando os dois extremos, podemos entender um pouco da complexidade da música pianística de Abrams, que pode soar única, com seu intrigante viés por vezes etéreo, por vezes agressivo, ressoando as heranças que compõem sua história, a liberdade do free, algo jazzístico swingante e mesmo elementos do erudito contemporâneo, tudo sempre ondulando por entre extensas e envolventes improvisações, sem descartar possbilidades composicionais. Em vários sentidos, um concerto histórico.
Quando: 13/8 (qui), às 21h; e 14/8 (sex), às 21h
Onde: Teatro
Quanto: R$ 15 a R$ 50 (inteira)
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“GARY PEACOCK Trio”
Muito lembrado por sua longa participação no trio de Keith Jarrett, o baixista Gary Peacock tem também uma extensa carreira como líder, em diferentes projetos. Tendo começado a se destacar no início dos anos 1960, se aproximou na época da cena free nascente – ele gravou, por exemplo, o clássico “Spiritual Unity”, com Albert Ayler, em 64. A partir dos anos 70, passou a editar discos sob seu nome, deixando alguns belos exemplares, como “Voices” (1970) e “Shift in the Wind” (1980). Há pouco, lançou pela ECM seu mais recente registro, “Now This”, ao lado de Marc Copland (piano) e Joey Baron (bateria). É com esse trio que Peacock vem se apresentar, trazendo provavelmente o repertório de “Now This” para o núcleo do show.
Quando: 22/8 (sab), às 21h; e 23/8 (dom), às 19h
Onde: Teatro
Quanto: R$ 18 a R$ 60 (inteira)
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“BARCODE QUARTET”
A free improvisation estará representada no Jazz na Fábrica pelo Barcode Quartet. Grupo formado em 2010 por músicos austríacos e britânicos, traz em sua formação violino (Alison Blunt), piano (Elisabeth Harnik), voz (Anette Giesriegl) e percussão (Josef Klammer). Lançaram em 2012 o disco “Your’re It”, pela Slam Productions. Apenas uma apresentação!
Quando: 28/8 (sex), às 21h
Onde: Teatro
Quanto: R$ 12 a R$ 40 (inteira)
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“SOFT MACHINE”
Grupo britânico surgido nos anos 60, o Soft Machine passou por diferentes momentos em sua trajetória, com a mudança de muitos de seus membros até o fim dos anos 70, quando se desfez. O som mais associado à psicodelia e o art rock de seu início não tardou para se abrir ao jazz, desembocando na década de 70 em uma via free fusion, apostando mais na improvisação e no instrumental, com importante destaque para o papel do então saxofonista do grupo, Elton Dean (1945-2006). Esse período maior do Soft Machine ficou registrado em discos como “Third” (70) e “Fourth” (71). O grupo retomou as atividades nos anos 2000 como “Soft Machine Legacy”. O quarterto que se apresentará traz três membros que tocavam na banda em meados dos anos 1970, John Etheridge (guitarra), John Marshall (bateria) e Roy Babbington (baixo); no sax, Theo Travis.
Quando: 13/8 (qui), às 21h30; e 14/8 (sex), às 21h30
Onde: Choperia
Quanto: R$ 15 a R$ 50 (inteira)
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“GRUPO UM”
Formado em meados dos anos 1970, o Grupo Um trazia uma nova forma de encarar o instrumental brasileiro, com muita ousadia e improvisação. O clássico álbum de estreia, “Marcha sobre a Cidade”, de 79, trazia ao lado dos irmãos criadores do grupo – Lelo (teclados) e Zé Eduardo Nazario (percussão) – o baixista Zeca Assumpção, o saxofonista Mauro Senise e o percussionista Carlinhos Gonçalves. Ainda viriam outros dois discos, “Reflexões sobre a Crise do Desejo” (81) e “Flor de Plástico Incinerada” (83), antes de a banda se desfazer. Agora, os irmãos Nazario fazem uma reunião especial para este concerto único no festival. Além deles, estará presente Senise, da formação original, e os convidados Feliz Wagner (clarinete baixo) e Frank Herzberg (baixo).
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