Música e outras coisas
D. Carter & S. Mateen - I
As cerca de quatro décadas de produção artística não trouxeram reconhecimento, fora de um restrito circuito, para os saxofonistas
Daniel Carter e
Sabir Mateen. Infinitas atuações como sidemen, grupos próprios, gravações, tours, nada colaborou muito para que esses nomes fossem mais destacados –sem dúvida, estão longe de serem lembrados como Charles Gayle ou Joe McPhee. Mas, apesar de tudo, o positivo é que deixaram suas marcas sonoras por aí, a quem quiser captá-las.
Daniel Carter (1945, Pennsylvania) iniciou seu percurso na NY do início dos anos 70, quando conheceu o então também jovem William Parker e se juntaram à big band do saxofonista Jemeel Moondoc. Parker e Carter voltariam a se reunir nos 90, no “Other Dimensions In Music”. Em sua trajetória, constam associações com Cecil Taylor, Billy Bang, Roy Campbell, Andrew Barker, Thurston Moore, Earl Freeman, Matthew Shipp e Wilber Morris.
Sabir Mateen começou a tocar em sua Filadélfia natal ainda nos 70s. Apenas desembarcou em NY em 1989 -e não teve um início fácil:
“When I came to the city, I had nowhere to live, so basically, my first night in New York, I slept on the ground, right by the Port Authority. Then I eased my way and I was sleeping in, I was basically homeless for a long time. It was difficult to find work because when I came to New York, I was in my, maybe, close to late thirties, so it was difficult to find work here and there. I came to New York, I worked with a world music, reggae band. I was doing things here and there. But I was playing on the street, which I started in LA. I played the street for eight years in Philly, so I had that going and basically my survival was playing on the street. Before I actually started working steadily, basically, I didn't really start working steady until 93 or 94”, contou Mateen ao jornalista Fred Jung.
Depois, aos poucos, encontrou seu espaço e estabeleceu conexões com Sunny Murray, Alan Silva, Butch Morris, Raphe Malik, Mark Whitecage, Marc Edwards, William Hooker, Henry Grimes e Rashid Bakr. William Parker e sua ‘The Little Huey Creative Music Orchestra’ também estiveram na rota.
Foi em meados da década de 90 que os saxofonistas se juntaram em torno do grupo
“Test”. A história do
Test começa nos subterrâneos de New York. Naqueles tempos, o baterista Tom Bruno tocava, regularmente, nas plataformas do metrô da cidade. Por lá, sempre via Daniel Carter, com o sax, também fazendo sua arte. Bruno, então, decidiu conversar com Carter para que montassem um projeto juntos. Nascia o ‘Test’, para o qual também foram convidados Mateen e o jovem baixista Matthew Heyner –com seus vinte e poucos anos, era o caçula do grupo. No final da década, o Test excursionou pelos EUA e gravou três álbuns (em 18 meses, entre 98 e 99).
Nesse “Live/Test”, captado ao vivo em 1998, podemos apreciar o grupo em toda sua amplitude. São apenas duas faixas, nas quais o quarteto alterna momentos de contemplação com picos explosivos. A primeira faixa, ‘Baltimore 2’, desenvolve-se lentamente, com os reedmen iniciando com a flauta, passando a clarinete e trompete para, somente após um solo do baixista, assumirem os saxofones, onde exibem sua potência máxima. As passagens mais pesadas apenas começam após os 17 minutos (lembramos que a faixa conta com 54 minutos!). Portanto, aos ouvintes de pouca paciência para os momentos mais ‘sutis’, recomendo começar a audição por ‘Boston 2’, explosiva em todos os seus 12 minutos.
Carter e Mateen continuam em plena atividade. Mateen excursionou recentemente com Matthew Shipp pela Europa. Carter tem tocado, em duo, com o baterista Andrew Barker. Ambos também tem participado do "Bindu", de Hamid Drake.
1. Baltimore 2 (54:10)
2. Boston 2 (12:30)
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Daniel Carter: alto & tenor saxophones, flute, trumpet
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Sabir Mateen: clarinet, alto & tenor saxophones, flute
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Tom Bruno: drums
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Matthew Heyner: bass
test
‘Unedited concert recordings from TEST's 1998 USA tour’
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