Música e outras coisas
CORDEL - A TRISTE HISTÓRIA DO PINTO ZÉ
1.
Morava lá nas Queimadas
a Raimunda Buretama
mestiça trabalhadora
e que por ali fez fama
"cevando" sua mandioca
deitando galinha choca
vivendo a vida sem drama
2.
Raimunda sempre dizia
que pra galinha chocar
e sem perder nenhum ovo
teria que acobertar
onze ovos, nada mais
pros pintos nascerem em paz
e em galinhos se tornar
3.
Certo dia, nesse afã
sentindo-se "afuleimada"
e conforme ela dizia
com "a priquita queimada"
sem querer, na conta errou,
doze ovos arrumou
no ninho atrás da latada
4.
Ela tanto conhecia
seu ofício, que gostava
de botar nome nos ovos
que a galinha chocava..
e o ovo Zé sobrou
pois quando ela recontou
do ninho logo o afastava
5.
Mas, a galinha, sabida
uma mãe muito amorosa
empurrou o Zé pra dentro
da quenturinha gostosa
e chocou a dúzia inteira
o Zé foi, na brincadeira,
chocado pela penosa
6.
Cismada com suas contas
Raimunda foi conferir
de novo contou os doze
e de novo fez sair
o Zé de dentro do ninho
foi parar, o coitadinho
na "cesta de consumir"
7.
E quando os pintos nasceram
Raimunda fez um almoço
matou uma galinha gorda
que era só carne, sem osso
e serviu para o marido
aquele ovo escolhido
que foi frito sem sobroço
8.
Foi quando um pintinho saiu
piando com alarido
até encontrar o ovo
no prato lá do marido
Piava de fazer dó
que a Raimunda ficou só
lhe dando o maior "sentido"
9.
A Raimunda ouvindo o pinto
piando sua latomia
começou a chorar tanto
que chega dava agonia
traduziu na mesma hora
isso tudo, sem demora
o que o pinto dizia
10.
O marido da Raimunda
ficou triste como que
quando a mulher lhe falou
o que o pinto quis dizer :
" Zezinho, fala comigo!,
meu irmãozinho, meu amigo,
que saudade de você !"
11.
Esse drama de novela
aconteceu tal e qual
estou contando a vocês
e eu choro de passar mal
quando lembro que o Zé
não foi um pinto qualquer
d'uma tragédia rural
12
Essa história foi contada
a mim, desse mesmo jeito,
pelo amigo José Ramos
Cabra de muito respeito
morador de Imperatriz
E tudo o que ele diz
pode crer: é sem defeito !
Recife, 10.12.12
Fred Monteiro
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