"Black Arthur"
Música e outras coisas

"Black Arthur"


Em maio passado, Arthur Blythe completou 71 anos de idade. Natural de Los Angeles, onde nasceu em 7 de maio de 1940, Blythe é um dos destacados altoistas que se estabeleceram na época do loft jazz dos anos 1970. Depois de viver em San Diego na juventude, retornou a Los Angeles em meados da década de 1960, quando se juntou a seu mentor Horace Tapscott. Foi no grupo do pianista que Blythe, apelidado de "Black Arthur", amadureceu sua música e se preparou para engrenar uma viva carreira como líder e compositor.

Com seu sax alto, o instrumentista apenas assinou seus primeiros álbuns na segunda metade dos anos 70. Desses tempos, destacam-se os geniais “The Grip” (fevereiro de 77) e “Bush Baby” (dezembro de 77), que trazia um inusitado trio de sax, tuba e percussão. Para surpresa de muitos, Blythe acabou assinando com a gigante Columbia/CBS, iniciando uma parceria que durou cerca de uma década (78-87) e gestou alguns belos trabalhos, como “In The Tradition” (79), no qual o músico, ao lado dos grandes Steve McCall e Fred Hopkins, visita temas de Duke Ellington (“In a Sentimental Mood”), Coltrane (“Naima”) e Fats Waller (“Jitterbug Waltz”).

Na virada dos 70/80, Blythe passou a ser tratado como uma das grandes apostas da Columbia no jazz. Todavia, além de seu som não ser dos mais palatáveis para o público massivo, logo surgiria um jovem trompetista que jogaria o saxofonista em segundo plano nos projetos da gravadora: Wynton Marsalis. No caso de Blythe, o crescente descaso da Columbia com sua obra fica patente quando vemos que boa parte do que lançou pelo selo acabou por jamais ser reeditado, ficando sem receber nem uma simples versão em CD. 

Blythe jamais se caracterizou como um instrumentista explosivo, de improvisações fulminantes e sopro desconstrutor. Ligado ao pessoal do free, mas também a jazzistas de outras esferas, Blythe participou de variados projetos, tendo tocado no “Special Edition” de Jack DeJohnette, no World Saxofone Quartet, no grupo de Chico Hamilton e até com Gil Evans. Com Lester Bowie, Don Moye e Chico Freeman formou o grupo ‘The Leaders’ em meados dos anos 80. Dono de um sopro bastante expressivo e passional, Blythe sempre se mostrou aberto às grandes correntes da música negra, como ilustra bem sua discografia, composta por aproximados 20 álbuns. 

I am not just avant-garde. I like to play all types of music as much as I can play, straight-ahead or whatever they call that. I like rhythm and blues. I like music with form, not atonal or aform. I am not only there. Sometimes they put me into a weird bag and want me to be weird, inaccessible. I think I am accessible
(entrevista de Blythe a Fred Jung, em 2003)

Um dos discos esquecidos do saxofonista é Blythe Spirit. Lançado pela Columbia em 1981, o álbum traz Blythe acompanhado de diferentes parceiros. Variando de trio a quinteto, o disco é um interessante testemunho do percurso aberto do músico. Post-bop, avant-garde e mesmo R&B estão em diálogo em meio a temas próprios e alheios (como ‘Strike Up The Band’, de Gershwin). Há até uma curiosa leitura da tradicional “Just A Closer Walk With Thee”, na qual ele é acompanhado por Amina Claudine Myers no órgão. A saborosa “Contemplation”, que abre o trabalho, tem na inusual tuba de Bob Stewart (fiel antigo colaborador de Blythe) um dos pontos de atenção. Outro nome sempre presente na obra do saxofonista é o violoncelista Abdul Wadud, que aqui opera em alta inspiração.



A1. Contemplation (6:54)
A2. Faceless Woman (6:41)
A3. Reverance (6:25)
B1. Strike Up The Band (2:44)
B2. Misty (7:24)
B3. Spirits In The Field (3:29)
B4. Just A Closer Walk With Thee (5:25)  


*Arthur Blythe: sax alto
* Abdul Wadud: cello (tracks: A1 to B1, B3)
* Bob Stewart: tuba (tracks: A1 to B1, B3, B4)
*Kelvvn Bell: guitar (tracks: A1 to B1)
*Bobby Battle: drums (tracks: A1 to B1)
*Steve McCall: drums (B2)
*Fred Hopkins: bass (B2)
*John Hicks: piano (B2)
* Amina Claudine Myers: órgão (B4)

Recorded at CBS Recording Studios, New York, 1981.



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