Música e outras coisas
(10) Mulheres saxofonistas que você tem que conhecer
Enquanto o jazz maistream reserva ainda prioritariamente os papéis de pianista e vocalista às mulheres, nas esferas sonoras mais inventivas derivadas da seara jazzística há muito isso deixou de ser uma constante. E o saxofone, em especial, tem sido um veículo expressivo bastante utilizado por elas. Selecionamos, então, dez vozes obrigatórias, de diversas partes do mundo, que têm dado novo impulso a esse instrumento central do jazz. Quem se interessa pelo que de mais inventivo tem acontecido na música criativa não pode deixar de conhecer essas artistas.
(por Fabricio Vieira)
METTE RASMUSSEN (Dinamarca)
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A saxofonista dinamarquesa, agora radicada na Noruega, vive um momento de conquista de espaço na cena. Tocando desde 2007, Mette Rasmussen ainda não recebeu a atenção e a visibilidade que seu trabalho merece. As recentes parcerias com Chris Corsano e Alan Silva devem ajudar a abrir oportunidades para essa saxofonista alto que tem também trabalhado muito em performances solistas, nas quais demonstra toda sua criatividade improvisativa. Com seu projeto mais ativo, o Trio Riot (dois saxes e bateria), editou há pouco o primeiro disco oficial, pelo selo Efpi Records. Aos poucos, Mette tem excursionado mais por outras praças, além-Escandinávia, já chegou aos EUA e, quem sabe, desperte em breve a atenção de nossos produtores...
VIRGINIA GENTA (Itália)
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A mais furiosa das saxofonistas já nascida, a italiana Virginia Genta começou a tocar cedo, ainda adolescente; em 2003, aos 19 anos, se juntou a seu parceiro David Vanzan para formar o Jooklo Duo, seu principal projeto que já com uma década de vida e um punhado de discos editados. Ms. Genta participa ainda de uma série de outros projetos (Neokarma Jooklo Trio, Golden Jooklo Age...), com os quais já lançou algumas dezenas de títulos. Adepta do esquema DIY, editou muitas gravações “caseiras” em formatos variados (K-7, CDR, vinil) e prensagens limitadas, com capas desenhadas uma a uma por ela. Em um ritmo mais morno de lançamentos no momento, soltou seu último registro, “Live at OCCII”, em abril, uma gravação ao vivo do Jooklo Duo realizada em Amsterdã. Virginia Genta é herdeira direta dos mais vulcânicos saxofonistas (“É a filha perdida de Brotzmann”, já disse um fã), mas também sabe explorar uma faceta mais espiritualizada, em sintonia com certo spiritual jazz dos anos 60/70, em alguns de seus projetos.
ADA RAVE (Argentina)
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Atualmente radicada na Holanda, Ada Rave sedimentou sua trajetória na rica cena de Buenos Aires, onde comandava um quarteto (com o qual lançou em 2011 o intenso disco “La Continuidad”) e produzia sessões semanais dedicadas ao free impro em espaços culturais da cidade. Na Europa desde 2013, Ada tem tido a oportunidade de tocar com músicos com quem nunca havia interagido – em um grupo comandado por nada menos que William Parker, no Doek Festival (Amsterdã), em maio, se encontrou exatamente com Mette Rasmussen... Yedo Gibson e Wilbert de Joode são alguns com quem tem tocado mais nessa temporada europeia. Se revezando entre os saxes tenor e soprano, Ada Rave tem testado nos últimos tempos o formato solista. Com ela agora do outro lado do Atlântico, parece que teremos que esperar ainda mais para vê-la em nossos palcos...
CHRISTINE SEHNAOUI ABDELNOUR (França)
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Nascida em Paris, filha de libaneses, Christine Sehnaoui Abdelnour descobriu o universo da improvisação livre no final dos anos 90, passando então a se dedicar ao sax alto. Pesquisadora sonora inquieta, Christine tem explorado técnicas expandidas para criar uma gama complexa e inusual de sons. Aberta a diálogos com o free jazz, a eletroacústica e o noise, já editou mais de uma dúzia de álbuns, tendo dentre seus colaboradores Andy Moor (The Ex), o português Ernesto Rodrigues, Raymond Strid e o veterano percussionista Sven-Ake Johanson.
Está aí um nome perfeito para o projeto “Informal”, do CCSP...
ELIN LARSSON (Suécia)
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Quando Mats Gustafsson organizou a Fire! Orchestraapresentou a seus ouvintes alguns músicos pouco conhecidos fora da Escandinávia. Dentre esses, estava a saxofonista sueca Elin Larsson. Na estrada há alguns anos, Larsson, de 29 anos, comanda um quinteto de jazz contemporâneo – o “Elin Larsson Group” ou simplesmente “ELG” – relativamente bem divulgado por lá, tendo recebido atenção desde sua estréia em 2009, com o álbum “Live and Alive”. Desde então, saíram mais dois títulos com o ELG, sendo o mais recente “Growing Up”, lançado em 2013. De pegada mais branda e com um discurso mais límpido que as outras saxofonistas citadas aqui, Elin caberia bem no line-up de um desses tantos festivais de jazz que ocorrem pelas redondezas.
JESSICA LURIE (Estados Unidos)
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Na estrada desde a virada dos anos 80/90, Jessica Lurie já participou de uma ampla variedade de projetos, indo dos quartetos de saxofones “Billy Tripton Memorial” e “The Triptons”, a parcerias multimídia com o artista visual Danijel Zezeljh, passando pelo free-funk jazzy trio “Living Daylights”, além de conduzir seu “Jessica Lurie Ensemble”. Originária de Seattle, vive hoje no Brooklyn nova-iorquino e, além do sax, também explora a flauta e, de forma particular, a voz. Improvisação, jazz, free, rock e mesmo elementos folclóricos fazem parte de suas múltiplas investidas. Seu mais recente registro foi com o “Zion80”, grupo que gravou “Adramelech”, um dos novos capítulos do projeto “Book of Angels”, de John Zorn.
MATANA ROBERTS (Estados Unidos)
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Possivelmente a mais conhecida dessa lista dentre os brasileiros (fez duas apresentações recentes no país, em 2013 e 2012), Matana Roberts ganhou novo impulso em sua trajetória com o ambicioso e incrível work in progress “Coin Coin”. Quem ainda não havia conhecido o trabalho de Matana, quer seja no trio “Sticks and Stones”, quer seja por sua ligação com a AACM, dificilmente não passou a se encantar e olhar com atenção cada um de seus próximos passos. Compositora riquíssima, Matana é um dos grandes nomes do sax alto e tem desenvolvido um trabalho que deve render a ela cada vez mais admiração. Seu mais recente registro, “Feldspar”, trio com o guitarrista Sam Shalabi e o baixista Nicolas Caloia, foi editado em março pelo selo canadense Tour de Bras.
INGRID LAUBROCK (Alemanha)
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A alemã Ingrid Laubrock já esteve no país em mais de uma oportunidade – acabou de tocar com o quarteto de Anthony Braxton; antes veio com o grupo Sol 6, em 2011. Aos 44 anos, Ingrid se radicou há tempos em Nova York, onde se divide entre vários projetos, dos quais vale destacar o quinteto “Anti-House” e seu octeto, com quem lançou em abril o disco “Zurich Concert”. Tendo aparecido neste ano em duas das listas da “Critics Pool” da Down Beat, como “rising star” nos saxes soprano e tenor, a instrumentista atravessa um de seus momentos criativos mais intensos.
ALEXANDRA GRIMAL (Egito/França)
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Nascida no Cairo em 1980, Alexandra Grimal se estabeleceu na França, mas desenvolveu-se como instrumentista em outros cantos, tendo estudado no Conservatório de Haia (Holanda) e no departamento de jazz da Academia Sibelius (Finlândia). A instrumentista tem se revezado entre os saxes tenor e soprano e dividido muito de seu foco atual especialmente entre dois grupos que comanda, o quarteto “Dragons” e o septeto “Ñaga”. Aberta ao jazz, ao free e à improvisação, Alexandra é uma voz que também sabe soar contemplativa e mesmo meditativa, intensa sem necessariamente recorrer a arroubos brutos, como bem ilustra o recente álbum que editou ao lado do pianista François Tusques, “Sérénité”.
LAURA TOXVAERD (Dinamarca)
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A também dinamarquesa Laura Toxvaerd tem poucos registros em sua discografia, que teve um de seus primeiros capítulos em 2002, quando participou de uma gravação com o veterano John Tchicai. Centrada no sax alto, conta com apenas três títulos como líder, apesar de já estar com 37 anos, sendo o último “Phone Book”, lançado no final de 2012. Em seu primeiro álbum, “N.1”, Laura trabalhou sozinha com o sax alto, manipulando o som depois por meio da interação com elementos eletrônicos. Além de improvisadora ligada ao avant-garde, de som que sabe ser bastante enérgico, Laura também desenvolve seu lado de compositora, no qual costuma explorar uma particular notação gráfica. Tocando mais com músicos locais, como o pianista Jacob Anderskov (que já veio ao Brasil com Airto Moreira), tem excursionado pouco, o que atrapalha a divulgação de sua obra. Uma pena.
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Photo - Mette Rasmussen by Peter Gannushkin ---------------------
*o autor:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura, tendo se especializado na obra do escritor português António Lobo Antunes. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; também foi correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente escreve sobre literatura e jazz para o Valor Econômico.
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