Pré-show: uma conversa com o "Crash Trio"
Música e outras coisas

Pré-show: uma conversa com o "Crash Trio"


Conversei com o saxofonista Edoardo Marraffa há alguns dias, um pouco antes dele embarcar com seus companheiros de “Crash Trio” para o Brasil. Marraffa comanda os sopros (tenor e sopranino) do trio italiano que se apresentará amanhã no Sesc Santana. O saxofonista começou a tocar em 1987. Na década de 90, fundou e participou de grupos como “Collective Bassesfere”, “Specchio Ensemble” e “Vakki Plakkula Trio”. O Crash Trio é seu projeto mais recente, tendo surgido no começo de 2008. Paralelamente ao “Crash”, o saxofonista tem trabalhado nos últimos anos com nomes conhecidos das cenas européia e americana: John Edwards, Han Bennink, Hamid Drake, William Parker e Tim Berne estão entre esses. Segue o papo com Edoardo Marraffa: 
   
FF - Quando falam do ‘Crash Trio’ logo tentam arrumar rótulos para localizar o som do grupo. Chegaram até a falar de ‘hardcore jazz’. Como encara o som que fazem? São herdeiros do free jazz, da free improvisation europeia?
"Eu penso que nosso som trata-se, antes de mais nada, de improvisação. Não sei ao certo o que significa "free", se não apenas mais um simples rótulo: o mundo não é livre! No entanto, se nosso processo de criação se baseia na improvisação, nossas raízes estão ligadas ao que se chama de ‘free jazz’, mas [também] no rock, no noise, etc."

FF - Ornette Coleman tocará no Brasil poucos dias após o Crash Trio, como parte do mesmo evento. Qual sua relação, como saxofonista, com a música dele?
"ehh, Ornette Coleman... A primeira vez que ouvi “The Shape of Jazz to Come’, aquilo mudou minha vida, eu descobri qual linguagem musical realmente me interessava. Essa foi a primeira porta de entrada à improvisação."

FF - Como alguém dedicado ao sax, de onde vêm suas referências?
"Minhas referências vêm principalmente de gravações. Eu aprecio, de um modo geral, todos os grandes saxofonistas que fizeram a história do jazz, de Ben Webster a Albert Ayler, de Sonny Rollins a Roscoe Mitchell."

FF - E como ouvinte? É um entusiasta do jazz, da free improv europeia...
"Eu gosto de jazz, claro, mas também de Bach e Webern... e Bob Marley. Mas se fosse para destacar algo agora eu citaria o jazz sul africano, o ‘Brotherhood of Breath’ e músicos como Dudu Pukwana, Mongezi Feza e Louis Moholo."


FF - Como encara o free jazz/free improv nos dias atuais? Essa sonoridade permanece viva? "Tudo nasce, se desenvolve e termina. E isso inclui as formas de produção sociais. Em relação ao free improv, tenho observado uma queda no público... Mas, por outro lado, tem havido um crescimento no número de músicos praticando [esse som]. Há muita gente fazendo improvisação, de músicos profissionais a estudantes. E essa pode ser uma chance [para a sobrevivência da free improv]."

FF - É a primeira vez que vem ao Brasil? Tem alguma referência sobre as diferentes expressões musicais feitas por brasileiros? 
"Sim, é a primeira vez e estou muito feliz por ir. Eu não sei muito sobre música brasileira. Estou sempre interessado em música tradicional que tenha raízes africanas. Mas, na realidade, estou aberto a tudo, desde que não se trate de música apenas com finalidades mercadológicas e comerciais."

FF- O quê o público vai encontrar na apresentação do Crash Trio?
"Não faço ideia. Espero que haja um bom público e que curtam a música que faremos."

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Quem ainda não comprou ingressos (ou a grana está curta mesmo...), deve aproveitar a promoção  que o Sesc está fazendo, na qual irá distribuir 25 ingressos para o Crash Trio. Confiram as regras no site do Sesc.

***Crash Trio***
Sesc Santana
Dia 24, às 21h



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