O toque encantatório de Mrs. Coltrane
Música e outras coisas

O toque encantatório de Mrs. Coltrane


Alice Coltrane (1923-2007) é mais conhecida como pianista, instrumento com o qual realizou seus primeiros projetos relevantes, como a participação no grupo do vibrafonista Terry Gibbs. Tendo estudado com Bud Powell, passou a ser mais conhecida após assumir o lugar de McCoy Tyner no grupo de seu marido John Coltrane. Quando se aventurou como líder em 1968, debutando com o belíssimo “Monastic Trio”, trazia uma expressiva novidade em sua trajetória musical: a harpa. Alice não foi a primeira a ligar a harpa ao jazz. Mas foi a responsável por dar uma dimensão espiritual à sonoridade encantatória da harpa.  


Apesar de discreta, a associação entre harpa e jazz é bem antiga: ainda na década de 1930, Adele Girard (1913-1993) chamava a atenção para a inusual associação entre o instrumento e o gênero musical. Um pouco antes até, Casper Reardon (1907-1941), harpista de formação clássica, já havia se aproximado do mundo do jazz, sendo pioneiro nesse encontro. Quem traria realmente tal associação a primeiro plano seria Dorothy Ashby (1932-1986), que deixou variados registros, destacadamente nos anos 60s. A trajetória de Dorothy começa na década de 1950, quando grava com figuras como Roy Haynes, Art Taylor e Jimmy Cobb, dando inédita visibilidade ao instrumento.
Alice Coltrane utilizou a harpa, dividindo espaço com o piano, em todos seus primeiros e principais trabalhos: Monastic Trio (68), Huntington Ashram Monastery (69), Ptah the El Daoud (70) e Journey in Satchidananda (71): pode-se apreciar seu dedilhado à harpa em todos esses álbuns.

Em 1972 (há versões de que o show ocorreu de fato em 1971), Alice reuniu um grupo especial para uma apresentação no Carnegie Hall. Cercada por antigos parceiros de Trane (Archie Shepp, Pharoah, Garrison), executou uma extensa releitura de um clássico traneano de uma década antes: “Africa”. Essa apresentação jamais foi lançada oficialmente e contou com outras faixas, que não aparecem nessa ‘versão pirata’, como “Leo” e “Journey in Satchidananda”. Apesar de estar munida de piano e harpa, como fazia no período, Alice concentra-se em “Africa” no piano. Provavelmente em outros temas, como o citado “Journey in Satchidananda”, tenha se focado na harpa. Destaque para as intensas intervenções de Pharoah e Shepp no começo da música e para os longos solos de baixo.




1. Africa (28:25)

*Alice Coltrane: piano, harp
*Pharoah Sanders: tenor, flute, percussion
*Archie Shepp: tenor, soprano
*Jimmy Garrison: bass
*Cecil Mcbee: bass
*Ed Blackwell, Clifford Jarvis: drums
*Tulsi: tamboura

alice 

Recorded live at in Carnegie Hall, NYC, February 21, 1972 (71?).



loading...

- Coltrane, 1966: Furiosa E Lírica Noite Perdida (e Resgatada) Na Temple University
Quase meio século após sua morte, John Coltrane (1926-1967) ainda parece ser capaz de surpreender os ouvintes. Suas últimas investigações sonoras não são unanimidade até hoje. O recente lançamento de material, em parte inédito, datado de 1966...

- Para Não Dizerem Que Não Falei De Mr. Shepp...
Em apenas seis meses, teremos tido a oportunidade de ter apreciado alguns veteranos que nunca ou pouco haviam pisado por aqui. Depois de Yussef Lateef (fevereiro) e Ornette Coleman (novembro), chegou a vez de Archie Shepp. Um dos mais conhecidos nomes...

- Waiting For Pharoah... (iv)
Com a entrada da década de 80, Pharoah Sanders passou a fazer discos mais contidos, com faixas menos extensas e até mesmo com espaço para baladas. Se nunca decaiu no mau gosto de Gato Barbieri, Pharoah também conteve um pouco o ritmo que marcava seu...

- Waiting For Pharoah... (iii)
Como todo inovador, Pharoah Sanders foi idolatrado por uns e desprezado por outros. Para sua carreira e vida pessoal, provavelmente o mais relevante foi que gênios como John Coltrane e Sun Ra souberam apreciar suas criações. Pharoah pertence àqueles...

- Waiting For Pharoah... (ii)
Pharoah Sanders estava com 24 anos quando começou a tocar com Coltrane. A parceria durou cerca de dois anos, entre 65/67, e pode ser apreciada em 11 discos, todos lançados (antes ou depois da morte de Trane) pela Impulse!. O primeiro registro desse...



Música e outras coisas








.