Música e Psicomotricidade
Música e outras coisas

Música e Psicomotricidade



fonte: http://www.domain.adm.br/dem/licenciatura/monografia/joanagomes.pdf

INTRODUÇÃO
 A psicomotricidade trata do desenvolvimento humano no que se refere ao corpo em
movimento. A psicomotricidade nos fornece instrumentos que nos permite acompanhar as
fases do desenvolvimento infantil e, quando necessário, interferir diretamente através de
estímulos sensoriais e exercícios corporais com o objetivo de promover um melhor
desempenho da criança frente ao seu mundo interno e externo.
 A música é a arte dos sons que possui diversas propriedades capazes de estimular o
desenvolvimento infantil, não só interferindo na percepção auditiva, mas também no
movimento do corpo, na fala e no pensamento lógico e estético.
 Considerando que o saber da psicomotricidade muito tem contribuído para o melhor
desempenho da criança na fase escolar, seja por meio de pesquisa ou do trabalho direto com
as crianças na escola e que o aprendizado musical oferece diversas possibilidades de
interferência e estimulo na educação infantil, pretendo, por meio desta pesquisa, reunir
conceitos destas duas áreas distintas e aplicar conhecimentos e práticas da psicomotricidade
no ensino de música.
O objetivo deste trabalho é refletir sobre alguns aspectos da educação musical e sua
relação com a psicomotricidade, levando em consideração: (1) a definição e as bases
teóricas da psicomotricidade e suas implicações com desenvolvimento infantil; (2) o
aprendizado musical e a psicomotricidade, dando ênfase a questão da expressividade
infantil como ponto comum entre estas duas áreas de conhecimento.
 Escolhi este tema para pesquisa por acreditar que  a prática psicomotora pode
contribuir muito para a educação musical principalmente na educação infantil. O estudo da
psicomotricidade reúne conceitos importantes para a compreensão do processo de ensinoaprendizagem da criança na primeira infância. Esta  pesquisa parte de uma preocupação
pessoal a cerca dos objetivos da educação musical e sua aplicação na escola.
 A metodologia usada para elaboração deste trabalho é a pesquisa bibliográfica.
Este estudo está organizado da seguinte forma: no Capítulo 1 são apresentadas as
bases teóricas da psicomotricidade e questões relacionadas ao desenvolvimento infantil. No
Capítulo 2 são abordadas as questões do aprendizado musical relacionado com a
psicomotricidade dando ênfase a questão da expressividade infantil como ponto comum 5
entre estas duas áreas de conhecimento. No Capítulo 3 são apresentadas primeiramente
algumas considerações sobre a educação infantil e uma análise da educação musical e da
psicomotricidade neste segmento.  6
CAPÍTULO 1: NO QUE SE BASEIA A PSICOMOTRICIDADE
1.1- Histórico do conceito de psicomotricidade
A palavra psicomotricidade tem sido usada para nomear três objetos
qualitativamente distintos - um conjunto de conhecimentos (ciência), uma função ou
processo do sistema nervoso e uma prática terapêutica.
A premissa básica da psicomotricidade é a integração mente-corpo,
especificamente, a integração entre processos mentais e motricidade. A psicomotricidade
propõe, portanto, uma forma de perceber o homem como um todo onde mente e corpo
funcionam juntos não podendo ser compreendidos um sem o outro.
Especificamente, a psicomotricidade é a unidade psiquê-corpo no que se refere ao
movimento – ação motora voluntária – do ser humano  inserido no ambiente físico e
relacional. Segundo Fonseca (2004),
a ação ou motricidade humanas só podem ser concebidas em psicomotricidade
quando o componente motor se inter-relaciona dinamicamente com o componente
emocional e com o componente cognitivo, na medida em que  é essa interação
neuropsicomotora que lhe fornece a característica intrínseca e única da sua
totalidade adaptativa e evolutiva (Fonseca, 2004, p. 33).
Hoje, a psicomotricidade, enquanto saber, está inserida principalmente nos cursos
de psicologia, educação física e pedagogia, tendo já sido organizada como cursos de
graduação e pós-graduação. Enquanto prática, a psicomotricidade é utilizada como terapia
na reabilitação (ou habilitação) de pessoas com deficiências físicas ou mentais -
provenientes de patologias neurológicas ou psíquicas - e também como recurso educativo
nas escolas, seja por meio das aulas de educação física ou de atividades desenvolvidas
pelos professores principalmente no segmento da educação infantil.
Como disciplina, a psicomotricidade além de aprimorar e desenvolver a
compreensão dos processos mente-corpo no que se refere á motricidade, busca desenvolver
técnicas de intervenção (e prevenção) que permitam  não só corrigir falhas no
desenvolvimento psicomotor, mas também estimular e  facilitar esse desenvolvimento
assegurando um maior aproveitamento das suas potencialidades. Para Fonseca,
a psicomotricidade, como objeto de estudo, subentende as relações entre a
organização neurocerebral, a organização cognitiva e a organização expressiva da 7
ação, isto é, compreende a ação (aqui entendida como praxia, motricidade ou como
movimento intencional) como um todo, sendo impossível de se imaginar a sua
execução (output) separada de sua planificação (input/ integração/elaboração).
(Fonseca, 2004, p.33)
 
A psicomotricidade pode ser vista pelo seu caráter interdisciplinar uma vez que diz
respeito ao ser humano e sua forma de agir no mundo. Diz respeito à capacidade do ser
humano de se transformar mediante o conhecimento e se aprimorar sempre em função dos
estímulos do ambiente e da motivação interna ao sujeito.
A partir desse ponto de vista, aprofundar o conceito de psicomotricidade nos levará
necessariamente a analisar a relação existente entre ‘psique’ e ‘soma’ e a estudar o
termo ‘maturação’ de um ponto de vista global. Dessa maneira, poderá ser abordada
a maturação biológica, a maturação sensório-motora, a afetiva e a cognitiva
(Sánchez, 2003, p. 17).
 
1.2- Maturação e desenvolvimento
O bebê humano se desenvolve a partir das experiências vividas no mundo exterior
(ao bebê), experiências essas que são internalizadas, gerando também a construção do seu
mundo interior. Nos primeiros dois anos de vida, essas experiências são,
fundamentalmente, experiências sensoriais intermediadas e geradas pelas ações motoras (é
o período sensório-motor. Piaget (1999) comenta que,
o período que vai do nascimento até a aquisição da linguagem é marcado por
extraordinário desenvolvimento mental. Muitas vezes mal se suspeitou da
importância desse período; e isto porque ele não é acompanhado de palavras
que se permitam seguir, passo a passo, o progresso  da inteligência e dos
sentimentos, como mais tarde. Mas na verdade, é decisivo para todo o curso
da evolução psíquica: representa a conquista, através da percepção e dos
movimentos, de todo universo prático que cerca a criança (p. 17).
É o movimento, inicialmente caótico, que permite ao bebê viver experiências
sensoriais geradas pela interação com o mundo exterior. Essas experiências levam a novos
registros neurológicos que transformam o organismo  (desenvolvimento) capacitando-o a
viver novas experiências que geram novos registros que levam a uma nova transformação e
assim por diante. Como está previsto no RECNEI
1
,
essas ações exploratórias permitem que o bebê descubra os limites e a unidade do
próprio corpo, conquistas importantes no plano da consciência corporal. As ações
em que procura descobrir o efeito de seus gestos sobre os objetos propiciam a
                                               
1
 Referencial curricular nacional para a educação infantil 8
coordenação sensóriomotora, a partir de quando seus atos se tornam instrumentos
para atingir fins situados no mundo exterior (BRASIL/MEC, 1998, p.21).
Exemplo: em um movimento caótico (ou reflexo) o bebê move o braço levando sua
mão para o seu campo visual. Seu sistema nervoso registra toda essa experiência –
sensorial/proprioceptiva (o que vem de fora e o que vem de dentro) - as contrações
necessárias aos movimentos, o movimento em si, a experiência visual, o afeto mobilizado
pela vivência. Imagine essa experiência se repetindo espontaneamente algumas vezes até
que o organismo/bebê começa a tentar reproduzir esse caminho registrado. O sucesso gera
então um novo registro tipo causa/efeito, associando a experiência motora com a
experiência visual/afetiva, isto é, o bebê passa a  poder prever o resultado de uma ação
motora, adquire a capacidade de efetuar movimentos  intencionais, voluntários. Piaget
afirma que
no recém-nascido, a vida mental se reduz ao exercício de aparelhos reflexos, isto é,
às coordenações sensoriais e motoras de fundo hereditário, que correspondem a
tendências instintivas, como a nutrição. A esse respeito nos limitamos a observar
que estes reflexos, enquanto estão ligados às condutas que desempenharão um papel
no desenvolvimento psíquico ulterior, não têm nada desta passividade mecânica que
lhes atribui, mas manifestam desde o começo uma atividade verdadeira que atesta,
precisamente, a existência de uma assimilação senso-motora precoce. (...) Mas estes
diversos exercícios, reflexos que são o prenuncio da assimilação mental, vão
rapidamente se tornar mais complexos por integração nos hábitos e percepções
organizados, constituindo o ponto de partida de novas condutas, adquiridas com
ajuda da experiência (Piaget, 1999, p.18).
Quando o bebê nasce seu cérebro ainda não está totalmente pronto como o de um
adulto. A maturação do cérebro depende tanto da nutrição quanto dos estímulos sensoriais
para acontecer.  Apesar das células neurais já existirem em quantidade suficiente, os
circuitos provenientes das experiências sensoriais do bebê ainda estão em construção. Os
circuitos vão se estabelecendo conforme são utilizados e reutilizados em todas as atividades
do corpo desde os movimentos involuntários e voluntários aos sentimentos e emoções.
Uma forma concreta de perceber o desenvolvimento do cérebro é pelo processo de
mielinização. Quando o bebê nasce apenas o tronco cerebral e partes relacionadas com as
funções vitais (respiração circulação e digestão) estão envolvidos pela bainha de mielina. É
possível ver através da ressonância magnética como  gradualmente o cérebro vai se
“mielinizando” conforme a criança vai crescendo. A bainha de mielina é uma espécie de
proteção dos circuitos neurais. Quando um neurônio se comunica com outro formando um 9
novo circuito, inicia-se o processo de mielinização que vai proteger este circuito e favorecer
uma maior rapidez e eficiência na comunicação dos neurônios (sinapses). Quando o bebê
nasce, a partir dos estímulos sensoriais tanto a nível externo (ambiente) como interno
(sensações de prazer e desprazer) o cérebro começa a registrar estas experiências.
(...) a velocidade dos impulsos nervosos se faz através do revestimento da bainha de
mielina encontrada nas fibras nervosas (...). Esta bainha possui a função não só de
condução como também de isolante. (...) Fonseca e Mendes (1987, p. 118),
estudando a mielinização das fibras nervosas, afirmam que “a criança nasce e chega
ao mundo coma a sua mielinização por fazer, isto é, como o seu sistema nervoso
por (e para) acabar. Melhor ainda, dizemos nós, com o seu sistema nervoso por (e
para) aprender!” (Oliveira, 2007, p.18).
Mais adiante Oliveira nos mostra o quanto à mielinização é importante como é
possível medir o desenvolvimento da criança pelo grau de mielinização do cérebro. A
autora também acrescenta que “o período mais crítico para a mielinização e o
desenvolvimento neuronal se dá entre o 6
o
 mês de gestação até mais ou menos os seis anos
de idade da criança” (Oliveira, 2007, p.19).
 A partir dos reflexos e estímulos sensoriais, como o exemplo descrito
anteriormente, o bebê começa a ter controle sobre seus movimentos. Ele poderá seguir
objetos acompanhando-os com os olhos e também se voltar para a direção de algum som
que lhe chame a atenção. Por volta do primeiro mês já se espera que o bebê possa sustentar
a própria cabeça. Com três meses ele começa a tentar segurar um objeto que esteja ao seu
alcance voluntariamente. Este será um longo caminho de aprendizado e o bebê
incansavelmente se exercita na tentativa de controlar seus movimentos. O progresso do
bebê é gradual e possível de ser acompanhado.
Cada fase da vida do ser humano, principalmente nos primeiros anos, deve respeitar
o processo de maturação do organismo. Isto é, nós temos uma programação genética para
se desenvolver fisicamente e cada etapa desse desenvolvimento tem o seu tempo. É claro
que este tempo é relativo a cada individuo, mas de  uma forma geral existem algumas
regras. Por exemplo: um bebê não senta antes de sustentar a própria cabeça, ou não anda
antes de conseguir sentar. Cada conquista do bebê em desenvolvimento respeita o tempo de
maturação do organismo. Entretanto, uma das descobertas a respeito do desenvolvimento
humano é que o processo de maturação do organismo não é suficiente para o seu 10
desenvolvimento. Sobre esta nova perspectiva explica Vigotski (1998) em resposta a uma
teoria que comparava o desenvolvimento humano com a botânica:
O fato, no entanto, é que a maturação  per se é um fato secundário no
desenvolvimento das formas típicas e mais complexas do comportamento humano.
O desenvolvimento desses comportamentos caracteriza-se por transformações
complexas, qualitativas, de uma forma de comportamento em outra (ou como Hegel
diria, uma transformação de quantidade em qualidade). A noção corrente de
maturação como um processo passivo não pode descrever, de forma adequada, os
fenômenos complexos (Vigotski, 1998, p.26).
Podemos entender assim que a maturação se faz necessária. Entretanto, não é
suficiente para o completo desenvolvimento humano.  Damásio (1996) explica que os
setores que ele denomina de “evolutivamente antigos” do cérebro regulam mecanismos
homeostáticos necessários a sobrevivência. Para ele o conjunto inato de circuitos desses
setores cerebrais além de garantirem a sobrevivência também “intervêm no
desenvolvimento e na atividade adulta das estruturas evolutivamente modernas do
cérebro”.
2
 Ou seja, o próprio desenvolvimento do individuo estaria condicionado
geneticamente mesmo que dependente do ambiente para acontecer. Melhor dizendo, os
circuitos inatos (que já nascemos com ele) possíveis de serem compreendidos através do
genoma humano
3
também são responsáveis pelo desenvolvimento dos outros setores do
cérebro que Damásio (1996) chama de “evolutivamente moderno”. Ele explica que
o equivalente das especificidades que os genes ajudam a estabelecer nos circuitos
do tronco cerebral ou do hipotálamo chegam ao resto do cérebro muito tempo
depois do nascimento, durante o desenvolvimento do  indivíduo na infância, na
meninice e na adolescência, e à medida que esse individuo interage com o ambiente
físico e com outros indivíduos. È de todo provável, pelo menos no que diz respeito
aos setores cerebrais evolutivamente modernos, que o genoma ajude a estabelecer
não um arranjo preciso, mas um arranjo geral de sistemas e circuitos. E como é que
o arranjo preciso se estabelece? Estabelece-se sob  a influencia de circunstâncias
ambientais que são complementadas e restringidas pela influencia dos circuitos
estabelecidos de forma inata e precisa, relacionados com a regulação biológica
(p.138, grifos do original).
Conclui-se, então, que a maturação do organismo e o desenvolvimento humano são
a condição inicial para a aprendizagem. O processo de maturação depende unicamente dos
                                               
2
DAMÁSIO, Antônio. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. Trad. Dora Vicente e
Georgina Segurado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P. 138.
3
 “(...) o total da soma dos genes existentes nos cromossomos (...)” in: DAMÁSIO, 1996, op. cit. (P. 137)11
genes e o desenvolvimento depende, além da maturação, dos estímulos ambientais. Desta
forma, desenvolvimento e aprendizagem estão intimamente ligados. Não há
desenvolvimento sem aprendizagem e nem aprendizagem que não promova um
desenvolvimento. Isto acontece em todos os âmbitos, em uma relação mente e corpo,
promovendo as cognições necessárias à sobrevivência do individuo e sua evolução.
1.3- Corpo, mente, emoção e sentimento
 As primeiras experiências do ser humano, ainda na  fase intra-uterina, são as
sensações corporais, sensações essas que são geradas tanto pelo próprio organismo quanto
pelos estímulos provenientes do ambiente, isto é, externos ao organismo. A partir dessas
sensações que são registradas pelo cérebro, gradualmente vai sendo construída uma
representação desse corpo no cérebro que, dialeticamente, compõe a referência básica para
o que é experienciado como mente.
 Recorrendo a Damásio, veremos que
o corpo, tal como é representado no cérebro, pode constituir o quadro de referência
indispensável para os processos neurais que experienciamos como sendo a mente.
O nosso próprio organismo, e não uma realidade externa absoluta, é utilizado como
referência de base para as interpretações que fazemos do mundo que nos rodeia e
para a construção do permanente sentido de subjetividade que é parte essencial de
nossas experiências. De acordo com essa perspectiva, os nossos mais refinados
pensamentos e as nossas melhores ações, as nossas maiores alegrias e as nossas
mais profundas magoas usam o corpo como instrumento de aferição (Damásio,
1996, p. 16).
A premissa da unidade psicossomática, da unidade mente-corpo, adotada pela
psicomotricidade, proporciona a possibilidade de uma compreensão mais clara dos
fenômenos, das experiências vividas pelo ser humano. Um bom exemplo disso é a relação
dinâmica entre emoção e sentimento. Segundo Damásio (1996) as emoções são fenômenos
biofísicos enquanto os sentimentos se configuram como a percepção e nomeação dessas
experiências corporais. Por exemplo, a raiva é uma emoção claramente associada a físicas
específicas, o sangue flui para a periferia, gerando sensações de calor, força e movimento,
enquanto o medo é a emoção associada às sensações de frio (o sangue flui para o interior),
palidez, congelamento e paralisação. Damásio descreve: 12
(...) o amor, o ódio e a angustia, as qualidades de bondade e crueldade, a solução
planificada de um problema cientifico ou a criação de um novo artefato, todos eles
têm por base os acontecimentos neurais que ocorrem dentro de um cérebro, desde
que este cérebro tenha estado e esteja nesse momento interagindo com o seu corpo.
A alma respira através do corpo, e sofrimento, quer comece no corpo ou numa
imagem mental, acontece na carne (Damásio, 1996, p.18).
É justamente em conseqüência da característica biofísica das emoções que podemos
identificar no outro as transformações corporais que, a partir da percepção – sentimentos –
das experiências análogas que vivenciamos, nos permite atribuir ao outro um determinado
estado emocional. Em outras palavras, a ação conjunta, mente-corpo em particular promove
a possibilidade da comunicação, da expressão entre as pessoas. Voltando a Damásio, isso
ocorre pois,
nessa perspectiva, emoções e sentimentos são os sensores para o encontro, ou falta
dele, entre natureza e as circunstâncias. E por natureza refiro-me tanto á natureza
que herdamos enquanto conjunto de adaptações geneticamente estabelecidas, como
à natureza que adquirimos por via do desenvolvimento individual através de
interações com o nosso ambiente social, quer de forma consciente e voluntária, quer
de forma inconsciente e involuntária. Os sentimentos junto com as emoções que os
originam, não são um luxo. Servem de guias internos e ajudam-nos a comunicar aos
outros sinais que também os podem guiar. E os sentimentos não são nem
intangíveis nem ilusórios. Ao contrario da opinião  cientifica tradicional, são
precisamente tão cognitivos como qualquer outra percepção (Damásio, 1996, p15).
Considerando as emoções e os sentimentos como cognições, podemos entender o
desenvolvimento da criança, tanto a nível intelectual quanto emocional, como resultado do
processo de aprendizagem. A criança experiencia com o corpo as sensações, os
movimentos, as emoções e os sentimentos e o entendimento que faz de tudo isso.  13
CAPÍTULO 2: PSICOMOTRICIDADE E MÚSICA
2.1- Sensibilidade estética e aprendizado
 A música toca o nosso corpo por meio da audição. É a partir da audição que
podemos reagir perante a música. A audição é o sentido que capta os sons exteriores que
serão interpretados pelo cérebro. A resposta que o  cérebro dá ao som percebido provoca
uma reação corporal. Esta reação, consciente ou não, reflete o sentido (significado) que foi
dado pelo cérebro ao som percebido. Este sentido varia de acordo com as experiências
vividas pelo sujeito. É preciso que o mesmo som seja captado várias vezes e lhe seja
atribuído um significado para que o cérebro recupere esta informação toda vez que tal som
for percebido.
 Por exemplo: um bebê se assusta com o som de um avião que entra (o som) pela
janela de sua casa.  O som desconhecido do avião provoca uma reação em seu corpo que a
mãe identifica como um susto. A mãe pega o bebê oferecendo-lhe proteção e lhe diz: ─ não
se assuste, é só um avião. Se possível a mãe mostra o avião para o bebê, mas talvez ele
ainda seja muito pequeno para acompanhar um avião no céu. A partir desse evento o bebê
estará atento a todo som igual ou parecido com o do avião. Talvez não lhe seja possível ver
o avião no céu, mas ele já associa tal som à palavra avião e a segurança da mãe que lhe
conforta e suporta seu medo. Depois de repetidas experiências como esta o bebê já não
mais se assustará com o som do avião. Este será agora um som familiar e assim que a
maturidade lhe permitir será ele o primeiro a apontar para o céu e dizer: ─ Avião!
 Podemos assim considerar que a interpretação dos sons como música é algo
aprendido. Será música para a criança toda seqüência de sons que lhe for apresentada como
música. Será apenas som ou barulho tudo o que não for compreendido ou distinguido como
música. O aprendizado está diretamente relacionado  com a experiência. A partir da
repetição de experiências “músicas ouvidas”, o cérebro poderá interpretar como música
toda seqüência de sons que se assemelhe a primeira  que foi registrada e nomeada como
música. Ou seja, em algum momento, a criança desenvolve a capacidade de identificar
novas seqüências de sons como sendo música. A criança poderá sozinha, se utilizar das
informações antes apreendidas e distinguir como música toda seqüência de sons 14
semelhantes à primeira. No entanto, falar de seqüência de sons pode ser um tanto vago, pois
o registro das experiências vividas que permitirá à criança identificar como música o que
ouve, certamente não pode ser feito apenas a partir do fato de serem “sons organizados em
uma seqüência”. Isto é, a criança faz uso de diversos recursos para distinguir a música dos
demais sons, como por exemplo: o timbre, o ritmo, se tem palavras ou não, etc. Quanto
maior for a exposição da criança aos mais variados tipos de música mais ela será capaz de
identificar a música no ambiente. Se o ambiente musical da criança é restrito a poucos
gêneros musicais, mais restrita fica sua possibilidade de reconhecer música. Por outro lado,
não é suficiente que a criança seja exposta a um ambiente musical intenso ou eclético. Todo
aprendizado depende de condições específicas para acontecer. Identificar a música entre os
demais sons do ambiente é apenas o primeiro passo para apreender a música em seu sentido
estético. Segundo Fonseca (2003), qualquer atividade humana requer uma complexa
ordenação e integração de sensações que vão constituir uma matriz biológica da qual,
provavelmente, emana o sentido estético que pode estar na origem das primeiras expressões
artísticas do ser humano.
A sensibilidade estética assim entendida nasce do corpo humano, de suas víceras,
de sua pele, de seus músculos, de seus sentidos olfativo-gustativos, auditivos,
visuais, tátil-cinestésicos, verdadeiros mediadores de imagens e de representações
somatognósicas (Fonseca, 1997), que podem ser expressos e materializados por
sequências gestuais (macro e micromotoras), tateantes ou minuciosas, permanentes
ou fugazes, que se encontram nas obras de arte e nas múltiplas manifestações
artísticas. (Fonseca, 2003, p.156).
 
 Fonseca (2003, apud Damásio, 1999, p. 156) acredita que a sensibilidade estética
está diretamente ligada àquilo que diferencia o homem dos outros animais, proporcionada
pela imaginação.
O ser humano faz planos, inventa, descobre e resolve problemas porque ultrapassa a
simples recepção de estímulos sensoriais e a simples expressão de respostas
motoras imediatas, exatamente porque está dotado de uma sensibilidade estética
que dá sentido e significação às sensações, integrando-as e codificando-as
emocional e afetivamente, para subseqüente e intencionalmente mobilizar sua
imaginação para dar expressão aos seus talentos sensoriais e motores conjugados e
intrincados.  (Fonseca, 2003 p.156, grifos do original).
Segundo Kant,
para distinguir se algo é belo ou não, referimos a  representação, não pelo
entendimento ao objeto em vista do conhecimento, mas pela faculdade da
imaginação (talvez ligada ao entendimento) ao sujeito e ao seu sentimento de prazer 15
e desprazer. O juízo de gosto não é, pois, nenhum juízo de conhecimento, por
conseguinte não é lógico e sim estético, pelo qual  se entende aquilo cujo
fundamento de determinação não pode ser senão subjetivo. Toda referência das
representações, mesmo a das sensações, pode, porém, ser objetiva (e ela significa
então o real de uma representação empírica); somente não pode sê-lo a referência
ao sentimento de prazer e desprazer, pelo qual é designado absolutamente nada no
objeto, mas no qual o sujeito sente-se a si próprio do modo como ele é afetado pela
sensação (Kant, 2005, p.48).
É importante perceber no texto de Kant, que este sentimento de prazer e desprazer
destituído de conhecimento e lógica são percebidos de maneira subjetiva, em conformidade
a fim, é como se simplesmente não fosse possível não sentir. Parte da intuição de que tal
sentimento se faz necessário e é universal, simplesmente acontece, e que prescinde do
conhecimento por não haver leis que possam se aplicadas a ele, isto é não há certo ou
errado. E Kant também acrescenta que o juízo estético é o ponto de partida para o
conhecimento:
Um juízo de experiência singular (...) acontece com aquele que sente prazer na
simples reflexão sobre a forma de um objeto sem considerar um conceito, ao exigir
o acordo universal, ainda que este juízo seja empírico e singular. A razão é que o
fundamento para este prazer se encontra na condição universal, ainda que subjetiva,
dos juízos reflexivos, na concordância conforme fins de um objeto (seja produto da
natureza ou da arte) com a relação das faculdades do conhecimento entre si, as
quais são exigidas para todo o conhecimento empírico (da faculdade da imaginação
e do entendimento) (Kant, 2005, p. 35).
Seja por meio da filosofia ou da psicologia, podemos dizer que há um consenso
quanto ao fato do processo de aprendizagem (ou construção do conhecimento) depender da
sensibilidade, da imaginação e da afetividade enquanto busca do prazer. Considerando o
prazer tanto no sentido de agradável como no sentido de satisfação ou realização
necessária. Por meio da sensibilidade estética a criança, já desde bebê, desfruta dos
sentimentos de prazer e desprazer que a despertam para a busca do conhecimento. É
possível perceber no bebê, por exemplo, a preferência por determinados brinquedos.
Alguns objetos lhe interessam outros não. Alguns sons lhe chamam a atenção outros não.
Algumas músicas o agradam outras não.  O que faz com que o bebê busque algo de novo
para experimentar? A criança que não é sensibilizada por algo não experimenta novas
sensações. Sem esta sensibilidade a criança não é seduzida e conseqüentemente não busca
conhecer. Mas a criança depende dessa sensibilidade entendida como estética, por que vem
através dos sentidos, e que se transforma em ação,  ou na busca da experiência. A 16
experiência promove o aprendizado de algo novo. A criança precisa desse aprendizado para
crescer, se desenvolver e se tornar cada vez mais independente. Ela tem uma “necessidade”
a priori, algo que a sensibiliza e ao mesmo tempo impulsiona levando a uma ação, à busca
do poder conhecer. E o que é o conhecimento? Para Damásio,
o conhecimento adquirido baseia-se em representações dispositivas
4
 (...). Algumas
dessas representações dispositivas contêm registros sobre o conhecimento
imagético que podemos evocar e que é utilizado para o movimento, o raciocínio, o
planejamento e a criatividade; e outras contêm registros de regras e de estratégias
com as quais manipulamos essas imagens. A aquisição do conhecimento novo é
conseguida pela modificação continua dessas representações dispositivas (Damásio,
1996, p. 133).
Para Damásio o conhecimento chega à mente sob a forma de imagens. Ele considera
dois tipos de imagens formadas na mente: as imagens perceptivas e as imagens evocadas.
As imagens perceptivas são recebidas através dos sentidos. As imagens evocadas seriam as
lembranças de imagens captadas no passado, mas também podem constituir “a memória de
um futuro possível”, como por exemplo, quando planejamos alguma coisa e já imaginamos,
ou melhor, formamos imagens daquilo o que pretendemos fazer (Damásio, 1996, p. 124).
Considerando que tudo que percebemos por meio dos sentidos se transforma em
uma imagem no cérebro, o aprendizado de música seria uma ampliação constante do
“repertório” de imagens musicais. Mas será que essas imagens associadas ao conhecimento
de música seriam apenas aquelas percebidas pela audição? Considerando que Damásio faz
referência
ao termo  imagens como padrões mentais com uma estrutura construída  com os
sinais provenientes de cada uma das modalidades sensoriais – visual, auditiva,
olfativa, gustatória e sômato-sensitiva. (...) A palavra imagem não se refere apenas a
imagem “visual”, e também não há nada de estático nas imagens. A palavra
também se refere a imagens sonoras, como as causadas pela música e pelo vento, e
às imagens sômato-sensitivas (...). As imagens de todas as modalidades “retratam”
processos e entidades de todos os tipos, concretos e abstratos. As imagens também
“retratam” as propriedades físicas das entidades e, às vezes imprecisamente, às
vezes não, as relações espaciais e temporais entre  entidades, bem como as ações
destas (Damásio, 2000, p. 402, grifos do original).
 Podemos então considerar que o conhecimento de música implica não somente a
distinção do som enquanto música, mas uma gama de imagens percebidas, conscientes ou
                                               
4
“As representações dispositivas constituem o nosso  depósito integral de saber e incluem tanto o
conhecimento inato como o adquirido por meio da experiência” in: DAMÁSIO, 1996, op. cit. (p. 132).17
não, e interpretadas como sendo música, podendo estar também incluída nesta percepção:
gestos, movimentos, expressões, emoções, sentimentos, dor, calor, prazer, enfim, uma série
de sensações que serão captadas pela mente junto com o som. Damásio também explica que
“nem todas as imagens que o cérebro constrói se tornam conscientes”. Para ele “há imagens
demais sendo geradas e competição demais para a janela da mente, relativamente pequena,
na qual as imagens podem ser tornar conscientes” (Damásio, 2000, p. 404). É como se não
pudéssemos acompanhar tudo o que estamos percebendo em um ambiente, em um
determinado momento. Mas o fato de não estarmos conscientes na hora não quer dizer que
o cérebro não tenha apreendido tal imagem. Um bom exemplo desse fenômeno está na
própria aula de música. É comum que um aluno de piano, por exemplo, que tem aulas
regulares com um mesmo professor, acabe reproduzindo na sua performance musical gestos
muito parecidos com o do professor sem que este tenha jamais chamado a atenção para isto
e mesmo o aluno esteja consciente de estar imitando o gestual do professor.
O entendimento e a percepção que a criança tem da música pode não ser consciente
num primeiro momento, mas está registrado de alguma forma no cérebro da criança pronto
para ser resgatado enquanto conhecimento a qualquer momento. Quero dizer que o
aprendizado de música acontece de forma dinâmica e não sistemática. Conceitos e efeitos
vão sendo percebidos pela criança, que aos poucos vai fazendo as conexões necessárias
para a formação do seu conhecimento musical. Os instrumentos necessários para a criança
se expressar musicalmente, ou seja, expressar a sua percepção e entendimento da música,
vão sendo adquiridos aos poucos da mesma forma como a criança desenvolve a linguagem.
Como Vigotski demonstra em uma pesquisa realizada por ele mesmo a partir da análise de
Stern sobre experimentos de Binet, a criança com dois anos de idade ao descrever com
palavras um conjunto de figuras atenta apenas para objetos isolados, já as crianças maiores
são capazes de descrever “ações e indicam relações complexas entra as figuras” (Vigotski,
1998, p. 42). Entretanto, se é pedido à criança que descreva utilizando mímica, “a criança
com dois anos de idade, que, de acordo com o esquema de Stern, ainda está na fase do
desenvolvimento da percepção de “objetos” isolados, percebe os aspectos dinâmicos da
figura e os reproduz com facilidade por mímica” (Vigotski, 1998, p. 42). Vigotski conclui
que “o que Stern entendeu ser uma característica das habilidades perceptuais da criança
provou ser, na verdade, um produto das limitações do desenvolvimento de sua linguagem18
ou, em outras palavras, um aspecto de sua percepção verbalizada” (Vigotski, 1998, p. 42-
43, grifos do original).
Com a música pode acontecer da mesma forma. A criança pode ter uma percepção
da música e até mesmo uma concepção estética antes mesmo de conseguir comunicar ao
outro o que sente ou percebe. Pelo menos comunicar utilizando a linguagem musical, pois
como Vigotski constatou a criança pequena tem a capacidade de se expressar através da
mímica comunicando aquilo que ainda não é capaz de comunicar verbalmente.
2.2 Expressividade e comunicação
 Para compreender a forma como a criança se relaciona com a música é importante
antes compreender como ela se relaciona com o mundo de uma forma geral. Isto é,
compreender as particularidades da criança quanto ao seu pensamento, comportamento e
expressão.
 A psicomotricidade a partir das experiências da terapia psicomotora percebeu que a
“expressividade do corpo” entendida como “a possibilidade de comunicação através de atos
necessariamente compreendidos e decodificados como simbólicos” era de grande importância e
passou a ser seu foco principal (Cabral, 2001, p.19). A psicomotricidade sustenta
a noção básica de que o corpo é mensageiro de idéias que ultrapassam o
comunicável através da linguagem verbal, pois o movimento, as tensões, gestos e
mímicas veiculam algo que se manifesta em nível de ícones e índices que não se
consegue nomear com precisão e que só pode ser verbalizado em linguagem poética
e metafórica (Cabral, 2001, p.19).
Considerar o aspecto da psicomotricidade na educação seria incorporar na função do
educador uma forma de perceber o aluno como um todo por meio de suas ações diante do
ambiente físico e social. Isto é, reconhecer na criança a sua forma de se relacionar com o
meio e poder avaliar o seu desenvolvimento a partir das referências que os estudos da
psicologia infantil nos oferecem.
Na criança, a sensório-motricidade se constitui na principal via de expressão de seu
mundo interno. (...) Essa forma de expressão permanece durante toda a vida,
embora de forma diferente, devido ao complexo e amplo desenvolvimento das
capacidades de cada pessoa. Por isso, a psicomotricidade se centra em conhecer a
criança a partir de sua atividade motora e desenvolve uma prática pedagógica
direcionada a descobrir a infra-estrutura simbólica que tem toda a ação espontânea
(Sánchez, 2003, p. 17). 19
Piaget (1999) constata fatores importantes sobre a  criança nas fases denominadas
por ele de sensório-motor e pré-operacional. Na fase sensório-motora a criança ainda não
tem domínio da linguagem, ficando a comunicação por parte dela, restrita às suas reações
por meio de movimentos ou expressões corporais (como chorar ou rir, agarrar ou largar,
partir ou voltar, apontar, etc.). Na primeira infância a criança vai aos poucos dominando a
linguagem e sendo capaz de transmitir seu pensamento, mas nesta fase seu pensamento
ainda está se construindo pelo próprio contato com a linguagem e o meio social em que a
criança está inserida. Aos poucos a criança vai associando palavras às sensações e
percepções que ela tem do ambiente e de si mesma. É um processo que se dá pelo meio
social, isto é, pela relação com as pessoas com quem convive. Piaget percebe que,
em função destas modificações gerais da ação, assiste-se durante a primeira infância
a uma transformação da inteligência que, de apenas senso-motora ou prática que é
no inicio, se prolonga doravante como pensamento propriamente dito sob a dupla
influência da linguagem e da socialização. A linguagem permitindo ao sujeito
contar suas ações, fornece de uma só vez a capacidade de reconstituir o passado,
portanto, de evocá-lo na ausência de objetos sobre os quais se referiram as condutas
anteriores, de antecipar as ações futuras, ainda não executadas, e até substituí-las, às
vezes, pela palavra isolada, sem nunca realizá-las (Piaget, 1999, p. 27).
 Mais adiante Piaget acrescenta que nesta fase dos  dois aos sete anos de idade
“encontram-se todas as transições entre duas formas extremas de pensamento,
representadas em cada uma das etapas percorridas durante esse período, sendo que a
segunda domina pouco a pouco a primeira” (Piaget, 1999, p. 29). Ou seja, a aquisição da
linguagem vai aos poucos transformando o pensamento. Poderíamos interpretar assim que
esta transformação com a aquisição da linguagem não anula a forma de percepção e
expressão da fase anterior. Piaget complementa dizendo que,
no outro extremo, encontra-se a forma de pensamento mais adaptada ao real que a
criança conhece, e que se pode chamar de pensamento intuitivo. É, em certo
sentido, a experiência e a coordenação senso-motoras, mas reconstituídas e
antecipadas, graças à representação. (...), pois a  intuição é, sob certo aspecto, a
lógica da primeira infância. Entre estes dois tipos extremos se encontra uma forma
de pensamento simplesmente verbal, séria em oposição ao jogo, porém mais
distante do real do que a própria intuição: é o pensamento corrente da criança de
dois a sete anos. É muito interessante constatar o  quanto ele prolonga os
mecanismos de assimilação e a construção do real, próprias ao período pré-verbal
(Piaget, 1999, p. 29).  20
Desta forma é realmente muito importante perceber a criança pequena quanto a sua
expressividade não somente pela comunicação verbal, mas também por uma expressividade
sensório-motora que comunica, considerando pensamento e expressividade enquanto uma
forma de comunicar, transferindo o que é interno (pensamento) ao que é externo
(expressão) ao sujeito. Já Vigotski aponta outra questão a cerca da comunicação da criança
nesta fase da aquisição da linguagem. Para ele,
a fala da criança é tão importante quanto a ação para atingir um objetivo. As
crianças não ficam simplesmente falando o que elas estão fazendo; sua fala e ação
fazem parte de uma mesma função psicológica complexa, dirigida para a solução do
problema em questão (Vigotski, 1998, p. 34).
O autor conclui em seguida que “as crianças resolvem suas tarefas práticas com a
ajuda da fala, assim como dos olhos e das mãos”. Ou seja, para Vigotski (1998), não há
uma separação entre comunicação verbal e ação, e a comunicação verbal nesta fase não é
“simplesmente verbal” como Piaget havia dito. Ele acredita que o pensamento da criança
necessita de ambos os recursos para se desenvolver como se a criança fosse interlocutora da
sua própria ação e esta, quanto mais complexa se torna, não pode prescindir da fala. Para
ele a criança não fala apenas por imitação, mas ao contrário, o ato de falar e descrever suas
ações contribui para a formulação do seu pensamento. A fala da criança, apesar de dirigida
para fora, tem a função de comunicar a ela mesma. É por isso conhecida como fala
egocêntrica e é assim entendida tanto por Piaget como por Vigotski sendo as conclusões
sobre sua função divergente para estes dois pesquisadores.
 Como já foi visto antes, Vigotski percebeu uma peculiaridade, por meio de
experiências, da criança pequena (na idade em que começa a falar) quanto à forma de se
comunicar: “(...) a criança enriquece suas primeiras palavras com gestos muito expressivos,
que compensam sua dificuldade em comunicar-se de forma inteligível através da
linguagem.” (Vigotski, 1998, p. 43). Sua pesquisa mostrou também que linguagem e
percepção estão ligadas e, que a percepção visual é integral (percebidos simultaneamente) e
a fala “requer um processamento seqüencial”. Sendo assim, a criança percebe o todo, mas
na hora de descrever separa os elementos percebidos rotulando-os para então conectá-los
“numa estrutura de sentença, tornando a fala essencialmente analítica” (Vigotski, 1998, p.
43). Vigotski então acredita que o desenvolvimento  do pensamento pressupõe o uso da
linguagem, pois por meio desta a criança organiza a própria percepção. 21
 Se o uso da linguagem influencia diretamente o desenvolvimento do pensamento, o
mesmo pode acontecer com o desenvolvimento musical. O uso da linguagem musical vai
contribuir diretamente para o desenvolvimento musical da criança, tornando-a cada vez
mais capaz de se expressar musicalmente.
2.3 Aprendizado musical e expressividade
A psicomotricidade nos ajuda a perceber a criança e a sua expressividade através do
corpo em movimento. Podemos então pensar que o desenvolvimento das habilidades
musicais e da criação artística na primeira infância, pressupõe uma análise do processo de
ensino-aprendizagem não apenas sobre como a criança manipula os sons e os reproduz,
condicionando a avaliação do aprendizado musical da criança apenas do ponto de vista
sonoro. É preciso considerar a expressividade da criança como um conjunto de movimentos
corporais que representam para esta, tanto a sua percepção e entendimento da música, como
a sua criação e comunicação musical. Isto é, a criança não se expressa por um único
“canal”. Por exemplo: esperamos que a criança que aprende música se expresse
musicalmente, isto é, através dos sons, seja cantado ou tocado. Mas para a criança que
ainda está no processo de desenvolvimento das habilidades motoras, principalmente as
habilidades para tocar um instrumento (técnica), talvez ela ainda não seja capaz de
canalizar toda a sua expressividade através da produção sonora, ficando a sua expressão
criativa dispersa em um conjunto de movimentos corporais (dança, mímica, caretas, etc.). A
avaliação do grau de expressividade da criança, e conseqüentemente do aprendizado
musical, pode não estar apenas no resultado sonoro, mas em um conjunto de gestos e
movimentos que a criança faz ao tentar se expressar musicalmente.
Existem vários estudos e pesquisas sobre a psicologia da música e o
desenvolvimento musical (Fernandes, 1998, p. 30), mas venho aqui fazer uso da Teoria em
Espiral do Desenvolvimento Musical (Swanwick, 1988 apud Fernandes, 1998) para tratar
da questão da expressividade infantil na música.
Keith Swanwick propôs uma teoria do desenvolvimento musical baseada nas idéias
de Piaget. Sua teoria leva em consideração as fases do desenvolvimento infantil e como
esta, parte do pressuposto que o desenvolvimento musical também acontece em etapas e é 22
construído pelo sujeito (Leme, 2006, apud internet). Swanwick visualizou a sua teoria em
forma de espiral, sugerindo um desenvolvimento dinâmico. Ele aponta quatro etapas do
desenvolvimento musical nesta espiral: materiais, expressão, forma e valor. Para cada etapa
ele percebe duas formas da criança se relacionar com a música: o lado direito da espiral diz
respeito ao lado pessoal e interno da criança, isto é, a forma como ela percebe, entende e
expressa a música a partir de referenciais próprios; o lado esquerdo da espiral diz respeito
ao externo, como a criança transfere a assimilação pessoal da música para a acomodação
dos conceitos musicais que podem ser compartilhados por todos (social). Essas etapas estão
baseadas nas fases do desenvolvimento do infantil descritas por Piaget que são
respectivamente: mestria, imitação, jogo-imaginativo e meta-cognição. Fernandes explica
que
a Teoria funciona em duas dimensões. Uma em forma de espiral (fases ou modos) e
outra em forma linear (estágios). A dimensão em espiral baseia-se no equilíbrio dos
lados esquerdo e direito do espiral, que estão alicerçados na relação dialética entre
assimilação e acomodação. (...) Swanwick (1988) utiliza a relação jogo e música,
pois ela traz à tona os objetivos e atividades do dia-a-dia em sala de aula. Essas
atividades devem ser ligadas a cada “elemento do jogo” de Piaget: Mestria,
Imitação, Jogo Imaginativo e Meta-Cognição, que se integram fortemente (1998, p.
38).
Fernandes (1998) aponta a existência de várias teorias do desenvolvimento
aplicadas à educação musical. Mas, como ele demonstra em sua tese, a teoria do
desenvolvimento musical de Swanwick e Tillman
oferece subsídios para guiar o processo de ensino-aprendizagem (e acabar com a
arbitrariedade) em diferentes idades, focalizando atividades curriculares adequadas
aos aspectos específicos do desenvolvimento musical nos diferentes estágios. O
desenvolvimento não se dá unicamente de forma linear, mas propicia que a cada
encontro com a música reativam-se pequenos processos gradativos colocados em
uma seqüência ampla de desenvolvimento. A Teoria possibilita ainda que o aluno
comece em qualquer parte do espiral, desde que seja observada a experiência (1998,
p.39).
Em uma entrevista Swanwick declarou ser um dos principais enganos acerca da sua
teoria considerarem as categorias da espiral como blocos e sem conexão entre elas. Para ele
todas essas categorias (materiais, expressão, forma e valor) já são parte do sujeito. O sujeito 23
constrói em cima do que já possui (Swanwick, Silva e Fernandes, 2004, p. 13).
5
 Ou seja, a
criança desenvolve capacidades que já possui potencialmente. Pois, como já foi comentado
no início deste capítulo, todo ser humano é potencialmente capaz de desenvolver
habilidades artísticas, pois para tal basta que sejamos sensibilizados esteticamente.
Fernandes mostra que Swanwick considera o conhecimento intuitivo como estético e o
conhecimento conceitual como analítico. Na espiral  o intuitivo tende ao conceitual ou
analítico. Sobre isso Fernandes explica que,
como o discurso simbólico, o fazer musical deve-se  estender ao analítico,
selecionando-se partes e reconstituindo os padrões  governantes. Uma experiência
musical consiste parte em fruição intuitiva e parte em ação analítica. O
conhecimento intuitivo, pré-analítico, é um elo de  ligação da imaginação entre
sensação e análise. Trabalhos artísticos sempre envolvem análise (mudanças,
escolhas, seleções e reconstrução), unindo a resposta estética ao discurso articulado,
num mundo de significados coletivos, as tradições. (1998, p. 52).  
Considerando a Teoria em Espiral do Desenvolvimento Musical (Swanwick, 1988,
apud Fernandes, 1998) um referencial para o planejamento e acompanhamento do
aprendizado musical da criança, como podemos por na prática tal teoria considerando que
ela se aplica a diferentes níveis e em diferentes momentos do desenvolvimento global da
criança? Isto é, como trabalhar os elementos musicais e a construção do pensamento
musical analítico em cada fase da criança ou a cada faixa etária. Como Swanwick mesmo
disse, a sua teoria se aplica de forma continuada e todas as categorias já estão
potencialmente com a criança. É preciso trabalhar todos os elementos da música, mas
compreender o processo de desenvolvimento musical como gradativo. O que não torna
cada etapa independente uma da outra, mas sim complementares. E o desenvolvimento
musical é dado a cada sujeito de forma única, não podendo se estabelecer padrões iguais
para todas as crianças. Acontece da mesma forma como a teoria de Piaget. Como Fernandes
mesmo constata,
a teoria piagetiana na verdade não diz respeito a uma tendência universalizante dos
estágios, já que as explicações do desenvolvimento não podem deixar de refletir o
contexto, os efeitos ambientais, os objetos e experiências.  A universalidade é da
seqüência e não das idades, ou seja, o que é universal é a seqüência em um dado
conceito (Fernandes, 1998, p. 34).
                                               
5
 “J.A.: What are some of the most common misunderstandings (sobre a Teoria)? K.S.: The most common
ones are that these are boxes, which don’t relate, that’s one misunderstanding: there´s no connection between
one category and another, and that they are fixed stages, which you leave behind as you go up, when in fact
you take them all you, you build on what you already have.  24
Sendo assim, a Teoria em espiral de Swanwick (Swanwick, 1988, apud Fernandes,
1998), por está de acordo com o próprio desenvolvimento infantil pode ser abordado
também sob a perspectiva da psicomotricidade que pode contribuir justamente com sua
fundamentação prática a partir da intervenção direta no desenvolvimento das capacidades
psicomotoras da criança seja por meio da terapia ou da atividade escolar. Ou seja, trazer da
experiência dos psicomotricistas a habilidade de ajudar a criança no seu próprio processo
de desenvolvimento musical.  Como Cabral descreve,
há na cena psicomotora um verdadeiro diálogo, uma inter-relação estruturante entre
o sujeito, visto em si mesmo e não apenas enquanto sintoma, e o psicomotricista
que busca observar, decodificar e intervir nas produções corporais e lúdicas de
seu paciente (Cabral, 2001, p. 20, grifos do original).
O psicomotricista ajuda o aluno ou paciente a superar as etapas do próprio
desenvolvimento corporal e psíquico. O educador musical da mesma forma pode pensar em
não simplesmente ensinar música, mas em ajudar o aluno a superar as etapas do
desenvolvimento musical sem deixar também de observar o desenvolvimento global, pois
muitos impasses no desenvolvimento musical podem estar ligados a questões mais amplas
do desenvolvimento do sujeito como todo. Desta forma o educador musical pode estar mais
preparado também para lidar com a heterogeneidade de uma sala de aula. Mais preparado
para uma educação musical inclusiva, que respeita o tempo de cada aluno.
Da mesma forma que a psicomotricidade considera a expressividade da criança sob
a perspectiva sensório-motora. O educador musical pode também considerar a
expressividade musical (entendendo que a expressividade é a única forma de termos acesso
ao pensamento da criança) sob esta perspectiva, pois como afirma Sánchez,
a prática psicomotora é dirigida à criança porque nela se encontra a plenitude da
expressividade motora, nela ocorre a união entre estrutura motora, afetiva e as
possibilidades cognitivas. Isso significa que a criança, através da ação (sensóriomotora) (...) explora o mundo do espaço, dos objetos e das pessoas. Dessa forma,
podemos afirmar que a carga emocional que acompanha sua ação está diretamente
relacionada com sua atividade mais profunda, ou seja, com sua história afetiva e
com seu inconsciente. Por essa via, manifesta também tudo o que estava reprimido
em sua consciência, o que viveu com relação ao desprazer e a frustração. Essa
maneira original de ser, de estar no mundo, constitui a noção de  expressividade
motora, que pode ser considerada como um discurso composto de significante e
significado (Sánchez, 2003, p. 73, grifos do original). 25
 A relação entre psicomotricidade e música está tanto na forma de apreensão como
de expressão. Música enquanto arte e psicomotricidade enquanto entendimento da unidade
mente e corpo no desenvolvimento humano. A criança apreende o conhecimento musical e
se expressa musicalmente de forma única, externalizando o seu pensamento e construindo
uma identidade artística frente ao mundo em que vive. 26
CAPÍTULO 3: MÚSICA E PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
3.1 Educação Infantil e psicomotricidade
O estudo da psicomotricidade parece reunir conceitos importantes para a
compreensão do processo de ensino-aprendizagem da criança na primeira infância uma vez
que esta fase necessita de uma atenção especial pelo fato das crianças ainda estarem
construindo a sua identidade e se reconhecendo no ambiente. Segundo Sánchez (2003),
um dos aspectos mais significativos, na concepção da educação infantil nesses
últimos anos, é o de reconhecer a criança como sujeito desde o momento de seu
nascimento. Como ser único, lhe é atribuída uma identidade própria no que diz
respeito à sua maneira de ser, à sua realidade e ao direito de receber uma atenção
adequada a suas necessidades básicas (biológicas, cognitivas, emocionais e sociais)
(Sánchez, 2003, p. 11).
Como Sánchez afirma, atender as necessidades básicas desta faixa etária é de grande
importância, pois não se trata apenas de apresentar novos conhecimentos como acontece no
em outros segmentos, mas de ajudar a criança a superar as etapas do seu próprio
desenvolvimento.
(...) para as crianças não é adequado qualquer tipo de sociedade, qualquer
tipo de família, qualquer tipo de relação, qualquer tipo de escola, etc., mas
aquelas que lhes permitem encontrar respostas as suas necessidades básicas
(López,1995, apud Sánchez, 2003, p. 11).
Apesar da criança chegar à escola de educação infantil e ser reconhecida como uma
pessoa distinta do seu núcleo familiar, esta “pessoinha” ainda não “está constituída sequer
em sua autonomia ou sua independência e, o mais importante, o primeiro passo na
aquisição de sua independência não foi decisão sua” (Sánchez, 2003, p. 12).
Embora dependente do adulto para sobreviver, a criança é um ser capaz de interagir
num meio natural, social e cultural desde bebê. A partir de seu nascimento, o bebê
reage ao entorno, ao mesmo tempo em que provoca reações naqueles que se
encontram por perto, marcando a história daquela família. Os elementos de seu
entorno que compõem o meio natural (o clima, por exemplo), social (os pais, por
exemplo) e cultural (os valores, por exemplo) irão configurar formas de conduta e
modificações recíprocas dos envolvidos (BRASIL/MEC, 2006, p. 14).
Este momento em que a criança esta sendo apresentada a um novo ambiente escolar
e a novas pessoas que a partir de então serão responsáveis por seus cuidados é um momento 27
delicado. A escola e os educadores que vão agora lidar com esta criança devem estar
sensíveis as necessidades dela em todos os sentidos.
Diante dessa circunstância, poderíamos nos perguntar:  de que maneira podemos
atender, acompanhar a criança na etapa da educação infantil para que seja agente
ativo na aquisição do conhecimento de si mesma e para que alcance com prazer a
conquista de sua própria autonomia (Sánchez, 2003, p. 12, grifos do original).
Esta reflexão nos mostra como é importante a forma  de lidar com a criança na
educação infantil, pois é mais do que simples transmissão de conhecimentos, mas uma
participação importante na construção do sujeito que esta criança se torna a cada dia.
Sánchez (2003) acredita que o educador “deve organizar as atividades a partir das
produções da criança, de seus interesses, das atividades e dos jogos pelos quais manifesta
interesse e curiosidade, levando em consideração seu nível de maturidade afetiva e
cognitiva”. Ela ainda acrescenta que o educador nesta fase deve atuar como mediador,
“como acompanhante que ajudará a facilitar sua evolução e seu crescimento a partir de suas
necessidades individuais”. Ela acrescenta que “o educador deverá ter a plasticidade
necessária para ajustar-se a cada um de seus alunos, para levar a cabo uma tarefa de
contenção na qual seja possível que as vivências emocionais e afetivas de cada criança
adquiram significado. E ela conclui que “esse clima de acolhida e de segurança favorecerá
a aquisição do conhecimento de si mesma e a aquisição das aprendizagens” (Sánchez,
2003, p. 13). As publicações do MEC
6
 sobre a educação infantil parecem compartilhar dos
mesmos princípios.
Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda não é adulto, ou é um adulto em
miniatura, a criança é um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em
crescimento e em desenvolvimento. É um ser humano completo porque tem
características necessárias para ser considerado como tal: constituição física, formas
de agir, pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu corpo está
continuamente aumentando em peso e altura. É um ser em desenvolvimento porque
essas características estão em permanente transformação. As mudanças que vão
acontecendo são qualitativas e quantitativas— o recém-nascido é diferente do bebê
que engatinha, que é diferente daquele que já anda, já fala, já tirou as fraldas. O
crescimento e o desenvolvimento da criança pequena ocorrem tanto no plano físico
quanto no psicológico, pois um depende do outro (BRASIL/MEC, 2006, p. 14)
Os parâmetros para qualidade de ensino na educação  infantil também explora a
questão psicológica e social do desenvolvimento infantil.
                                               
6
 Mistério da Educação e Cultura do Brasil. 28
Trata-se de interação social, um processo que se dá a partir e por meio de
indivíduos com modos histórica e culturalmente determinados de agir, pensar e
sentir, sendo inviável dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas interações
e os planos psíquico e fisiológico do desenvolvimento decorrente (VYGOTSKI,
1986 e 1989, apud Brasil/MEC, 2006, p.14). Nessa perspectiva, a interação social
torna-se o espaço de constituição e desenvolvimento da consciência do ser humano
desde que nasce (VYGOTSKI, 1991, apud Brasil/MEC, 2006, p.14).
Esta comparação entre os parâmetros de qualidade de ensino estabelecido pelo MEC
para a educação infantil e a literatura sob psicomotricidade aplicada na escola mostra certa
identidade epistemológica e que, pelo menos na teoria, a educação infantil está bem
estruturada.
3.2  Análise do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RECNEI):
Movimento e Música
A apresentação do RECNEI se dirige ao professor de educação infantil:
(...) o Referencial pretende apontar metas de qualidade que contribuam para que as
crianças tenham um desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de
crescerem como cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos. Visa, também,
contribuir para que possa realizar, nas instituições, o objetivo socializador dessa
etapa educacional, em ambientes que propiciem o acesso e a ampliação, pelas
crianças, dos conhecimentos da realidade social e cultural (BRASIL/MEC, 1998, p.
45, grifo do original).
Mais adiante apresenta seu propósito:
O  Referencial  foi concebido de maneira a servir como um guia de reflexão de
cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os
profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos, respeitando
seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira (BRASIL/MEC, 1998, p.
45grifo do original).
No RECNEI, estão destacadas as áreas de conhecimento a serem desenvolvidas na
educação infantil propostas como eixos de trabalho. São eles: movimento, música, artes
visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e matemática.
A organização do Referencial  possui caráter instrumental e didático, devendo os
professores ter consciência, em sua prática educativa, que a construção de
conhecimentos se processa de maneira integrada e global e que há inter-relações
entre os diferentes eixos sugeridos a serem trabalhados com as crianças. Nessa
perspectiva, o Referencial é um guia de orientação que deverá servir de base para
discussões entre profissionais de um mesmo sistema  de ensino ou no interior da
instituição, na elaboração de projetos educativos singulares e diversos
(BRASIL/MEC, 1998, p. 9, grifos do original). 29
Tanto o desenvolvimento da psicomotricidade quanto da música, já estão prevista
no RECNEI como necessárias à educação infantil. A psicomotricidade intitulada por
movimento é o primeiro eixo de trabalho a ser tratado. Trata principalmente da forma do
educador lidar com as crianças no que diz respeito a sua liberdade para se movimentar. Faz
críticas a certos tipos de atitudes disciplinadoras que não respeitam a necessidade da
criança de se movimentar livremente.
(...) é importante que o trabalho incorpore a expressividade e a mobilidade próprias
às crianças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que todos se mantêm
quietos e calados, mas sim um grupo em que os vários elementos se encontram
envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamentos, as
conversas e as brincadeiras resultantes desse envolvimento não podem ser
entendidos como dispersão ou desordem, e sim como uma manifestação natural das
crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo das manifestações da
motricidade infantil poderá ajudar o professor a organizar melhor a sua prática,
levando em conta as necessidades das crianças (BRASIL/MEC, 1998, p. 19).
Percebe-se que o trecho acima destacado não diz respeito somente à atividade
movimento, mas pode-se adequar a qualquer atividade, mostrando o caráter interdisciplinar
da psicomotricidade. O capítulo  movimento  está bem fundamentado por estudos de
psicomotricidade. Faz referência, por exemplo, a Henri Wallon (1879-1962), psicólogo
francês muito citado nos livros de psicomotricidade.
O movimento para a criança pequena significa muito mais do que mexer partes do
corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se expressa e se comunica por meio dos
gestos e das mímicas faciais e interage utilizando fortemente o apoio do corpo. A
dimensão corporal integra-se ao conjunto da atividade da criança. O ato motor fazse presente em suas funções expressiva, instrumental ou de sustentação às posturas
e aos gestos (BRASIL/MEC, 1998, p.18).
Outra observação importante é a utilização de recursos musicais para o
desenvolvimento das psicomotricidade infantil. Este trecho adiante foi retirado do capítulo
movimento:
Brincadeiras que envolvam o canto e o movimento, simultaneamente, possibilitam a
percepção rítmica, a identificação de segmentos do  corpo e o contato físico. A
cultura popular infantil é uma riquíssima fonte na qual se pode buscar cantigas e
brincadeiras de cunho afetivo nas quais o contato corporal é o seu principal
conteúdo, como no seguinte exemplo: “ Conheço um jacaré que gosta de comer.
Esconda a sua perna, senão o jacaré come sua perna e o seu dedão do pé ”. Os
jogos e brincadeiras que envolvem as modulações de  voz, as melodias e a
percepção rítmica — tão características das canções de ninar, associadas ao ato de
embalar, e aos brincos, brincadeiras ritmadas que combinam gestos e música —
podem fazer parte de seqüências de atividades. Essas brincadeiras, ao propiciar o 30
contato corporal da criança com o adulto, auxiliam  o desenvolvimento de suas
capacidades expressivas. Um exemplo é a variante brasileira de um brinco de
origem portuguesa no qual o adulto segura a criança em pé ou sentada em seu colo
e imita o movimento do serrador enquanto canta: “ Serra, serra, serrador, Serra o
papo do vovô.   Serra um, serra dois,   serra três, serra quatro,   serra cinco, serra
seis, serra sete, serra oito, serra nove, serra dez! ” (BRASIL/MEC, 1998, p. 30-31,
grifo do original).
 Em uma nota explicativa é sugerido que: “nesse tipo de brincadeira, o adulto pode
tocar diferentes partes do corpo da criança (no exemplo dado a perna é a parte do corpo em
evidência), nomeando-a” (BRASIL/MEC, 1998, p. 31, grifos do original). O exemplo acima
mostra como psicomotricidade e música se relacionam intimamente. Da mesma forma que
a música é usada como recurso para o trabalho do movimento, será possível a educação
musical fazer uso de certos recursos da psicomotricidade para aplicar a sua didática?
 O capítulo referente à música tratada no RECNEI, assim como no caso do
movimento, coincide em vários pontos com algumas questões teóricas tratadas neste
trabalho. Segundo o RECNEI:
A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e
comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da  organização e
relacionamento expressivo entre o som e o silêncio (BRASIL/MEC, 1998, p. 45,
grifos meus).
A questão da expressividade também é muito valorizada:
A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim
como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo
à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humana, o
que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e
na educação infantil, particularmente (BRASIL/MEC, 1998, p. 45, grifos meus).
A questão da intuição também é levada em conta:
Mesmo que as formas de organização social e o papel da música nas sociedades
modernas tenham se transformado, algo de seu caráter ritual é preservado, assim
como certa tradição do fazer e ensinar por imitação e “por ouvido”, em que se
misturam intuição (é o caso das crianças indígenas, ou das crianças integrantes de
comunidades musicais, como os filhos de integrantes de Escolas de Samba,
Congadas, Siriris etc)
7
, conhecimento prático e transmissão oral. Essas questões
devem ser consideradas ao se pensar na aprendizagem, pois o contato intuitivo e
espontâneo com a expressão musical desde os primeiros anos de vida é importante
ponto de partida para o processo de musicalização.  Ouvir música, aprender uma
canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos11  etc., são
atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical,
além de atenderem a  necessidades de expressão  que passam pela esfera afetiva,
                                               
7
 Este parêntese constava no original como nota explicativa. 31
estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem
a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais
elaborados. (BRASIL/MEC, 1998, p.48-49, grifo meu).
Percebe-se que a questão da expressão musical está  presente em todo o discurso.
Fica muito claro tanto no capítulo sobre movimento como no de música a necessidade da
criança se expressar e como isto se torna prioridade na educação da criança. Também não
se pode deixar de notar a presença das palavras: emoções, sentimento, afetivo, estético e
cognitivo.
A passagem seguinte mostra as bases teóricas do Referencial para a música e é
indicado como nota explicativa que “deve-se pesquisar o trabalho do educador musical
inglês Keith Swanwick, da americana Marilyn P. Zimmerman, do compositor e pedagogo
francês François Delalande e do americano Howard Gardner, entre outros” (BRASIL/MEC,
1998, p. 49).
Pesquisadores e estudiosos vêm traçando  paralelos entre o desenvolvimento
infantil e o exercício da expressão musical, resultando em propostas que
respeitam o modo de perceber, sentir e pensar, em cada fase, e contribuindo para
que a construção do conhecimento dessa linguagem ocorra de modo significativo. O
trabalho com Música proposto por este documento fundamenta-se nesses estudos,
de modo a garantir à criança a possibilidade de vivenciar e refletir sobre questões
musicais, num exercício sensível e expressivo que também oferece condições para o
desenvolvimento de habilidades, de formulação de hipóteses e de elaboração de
conceitos (BRASIL/MEC, 1998, p. 49, grifo meu).
Mais uma vez é possível perceber a ênfase na questão da expressão, do intuitivo, no
afetivo e até na “exploração sensório-motora”. A passagem seguinte também mostra a
relação recíproca entre psicomotricidade e música sugerindo uma interação entre música,
brincadeira e movimento:
A  expressão musical das crianças nessa fase é caracterizada pela ênfase nos
aspectos  intuitivo e afetivo e pela  exploração (sensório-motora) dos materiais
sonoros. As crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos: cantam
enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos,
dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo “personalidade” e
significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua
produção musical. O brincar permeia a relação que se estabelece com os materiais:
mais do que sons, podem representar personagens, como animais, carros, máquinas,
super-heróis etc. (BRASIL/MEC, 1998, p. 52, grifos meus).
O papel interdisciplinar da música é reforçado apesar de prevenir para que as
questões especificamente musicais não sejam abandonadas:  32
Deve ser considerado o aspecto da integração do trabalho musical às outras áreas, já
que, por um lado, a música mantém contato estreito  e direto com as demais
linguagens expressivas (movimento, expressão cênica, artes visuais etc.), e, por
outro, torna possível a realização de projetos integrados. É preciso cuidar, no
entanto, para que não se deixe de lado o exercício  das questões especificamente
musicais. (BRASIL/MEC, 1998, p. 49).
A arte e suas formas de expressão estão muito próximas da criança por compartilhar
dos mesmos mecanismos expressivos: a sensibilidade, o corpo e a expressividade como
forma de comunicação.
3.3 Reflexão sobre o ensino de música na educação infantil
Como foi visto no capítulo anterior, existem alguns parâmetros básicos para a
educação infantil. Esses parâmetros são a base tanto do ensino de música como da
psicomotricidade, a base do próprio desenvolvimento infantil. Na verdade a questão do
ensinar torna-se discutível, pois como vimos, a criança tem total participação no seu
próprio processo de aprendizagem. O educador passa  a ter a função de encaminhar e
orientar a criança para a busca do conhecimento. Cada criança é única não sendo possível
traçar um caminho exato que a criança deva percorrer para atingir o objetivo de aprender
música. É interessante perceber que existem muitos  aspectos do aprendizado musical a
serem considerados antes mesmo de se perguntar: o que devo ensinar em termos de
música? A pergunta mais adequada é: o que esta criança precisa aprender para se
desenvolver musicalmente? E ainda mais certo seria perguntar: o que esta criança já pode
aprender? Considerando que cada criança tem seu tempo de maturação motora e psíquica, é
importante considerar que certas atividades podem precisar de um tempo certo para
acontecer.
Apesar de o RECNEI ser muito cuidadoso no sentido de propor o trabalho de
música respeitando o desenvolvimento psicomotor infantil e as necessidades características
de cada faixa etária, ainda assim não é possível prever as particularidades do
desenvolvimento de cada criança, ou de cada turma, ou de cada escola, ou mesmo de cada
comunidade. O trabalho de cada educador também se torna único em função da
heterogeneidade de cada ambiente educativo. Não é possível estabelecer regras e métodos
tendo que respeitar aspectos tão subjetivos da criança. Nessa perspectiva o processo de 33
ensino-aprendizagem passa a ser mais uma relação de troca – o que a criança precisa e o
que o educador pode oferecer.
CONCLUSÃO 34
Minha principal intenção com esta pesquisa foi encontrar um suporte teórico
coerente com o desenvolvimento infantil que pudesse trazer mais segurança para a minha
prática como professora de música. A partir de uma  intuição de que a psicomotricidade
poderia me dar este suporte, foi por meio dela que pude ter acesso a questões fundamentais
sobre a forma como a criança aprende e se expressa principalmente na primeira infância.
Conhecer mais profundamente o desenvolvimento mental e a construção do conhecimento,
perceber as limitações do organismo quanto ao processo maturativo ou mesmo entender a
emoção como um processo cognitivo, foi de grande valia pra a minha formação pessoal.
 Talvez estas sejam questões só minhas, uma preocupação apenas pessoal e que não
diz respeito às questões dos demais professores. Mas talvez esta seja uma necessidade
básica na formação do educador, pois para a minha surpresa pude encontrar nas diversas
publicações as respostas para as minhas questões. Pude esclarecer dúvidas ao mesmo tempo
em que pude perceber que, a minha preocupação sobre o que a criança realmente precisa
aprender, e como isso deve ser feito, não era uma preocupação só minha. Tanto a teoria de
Swanwick como o RECNEI mostraram um extremo cuidado e respeito com a criança
pequena. Afinal, a criança é extremamente vulnerável ao ambiente e as pessoas que a
cercam. A criança não tem força nem independência para seguir seu caminho sozinha.
Somos totalmente responsáveis pelo que a criança é e pode vir a ser.
Quanto às questões teóricas da educação musical não resta dúvida de que estamos
bem servidos. O problema continua na prática. Mas a prática é de cada um e somente a
experiência é que vai garantir a eficiência. A prática se faz a cada dia. O educador aprende
também na prática. Mas não pode prescindir dos estudos, das experiências, das pesquisas já
realizadas e que estão sempre disponíveis para acrescentar ao nosso conhecimento
informações valiosas e ajudar a garantir uma melhor educação para todos.
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fonte:http://www.domain.adm.br/dem/licenciatura/monografia/joanagomes.pdf



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