Robert Alexander Schumann nasceu a 8 de junho de 1810, em Zwickau, Saxônia, Alemanha. No mesmo ano, Beethoven chegava aos quarenta anos, Schubert contava treze, Mendelssohn, apenas um; nascia Chopin. Liszt nasceria no ano seguinte.
O pai do compositor, Friedrich August Schumann ganhava a vida como livreiro. Mas suas atividades preferidas eram devorar os livros de sua livraria, traduzir os poemas de Byron e escrever novelas góticas. Sua mãe, Johanna Christina Schumann , era quem, de fato, dirigia a livraria. Schumann, o caçula, tinha quatro irmãos: Eduardo, Carlos, Júlio e Emília.
Sobre a educação de Robert, sabe-se que, aos seis anos ingressou na escola primária e que aos dez anos foi transferido para o Liceu de Zwickau, onde permaneceu até 1828. No curso secundário, apreciava, sobretudo, o grego e o latim. Os autores antigos, de Homero a Tácito, passando pôr Platão e Sófocles, ele os conhecia profundamente. Contudo, mais decisivos para a sua formação foram o hábito de ler (os livros da livraria), e os contatos com os intelectuais que se reuniam com seu pai - na livraria...
Leitor insaciável, Robert devorou os poetas e novelistas românticos, mas sua preferência recaía sobre o mais modesto e obscuro poeta alemão, Jean-Paul Richter, que exerceu profunda influência sobre Schumann. Jean-Paul foi um dos percursores da tensão entre os opostos que caracterizou o Romantismo. Todos os jovens poetas o idolatravam e Schumann o venerava: "Se todos lessem Jean-Paul, seríamos melhores (...)"; " Schubert será sempre o meu único porque tem tudo em comum com o meu único Jean-Paul". Neste período Schumann escreveu muito, sempre sob a influência de Jean-Paul: poemas, cartas, novelas se sucediam, criando-lhe uma angustiante necessidade de opção: ser poeta ou músico?
O despertar de seu talento musical ocorreu cedo. Aos sete anos seu pai providenciou para que o menino estudasse com Johann Kuntzsch, autodidata que lecionava no liceu e tocava órgão na igreja de Santa Maria. Não era um grande músico, mas serviu para estimular o futuro compositor. Meses mais tarde, Robert já escrevia pequenas danças.
Aos nove anos, o pai levou-o a um recital do grande pianista Moscheles.O acontecimento causou-lhe profunda e duradoura impressão.
Aos doze anos formou um pequeno conjunto com seus amigos de escola (dois violinos, duas flautas, duas trompas e um clarinete) para tocar na escola e nas casas de família.
Quando tinha quinze anos, Kuntzch reconheceu nada mais ter a lhe ensinar. Em vista disso, seu pai pediu ao compositor Weber para aceitá-lo como aluno. Mas,ocupado com sua ópera Oberon, não pôde atender o pedido. Pouco depois da negativa de Weber, uma tragédia se abateu sobre a família: em 1826, sua irmã Emília, mentalmente enferma, suicidou-se num acesso de loucura. O pai, cuja saúde não caminhava bem, não teve forças para suportar o choque e faleceu no mesmo ano. De um só golpe, o jovem Schumann perdia sua irmã, que amava ternamente, e seu pai, seu mais fiel amigo. Profundamente abatido, entregou-se à melancolia, à passividade, a pressentimentos mórbidos.
Mas ele precisava continuar seus estudos e desenvolver musicalmente.Quanto ao primeiro ponto, sua mãe decidiu que ele deveria cursar direito. Assim, em 1828, Schumann ingressou na Faculdade de Direito de Leipzig. Quanto à música, o compositor tornou-se aluno de Friedrich Wieck, um famoso professor de piano, e pai de Clara, uma talentosa menina de nove anos, virtuose do piano.Em Schumann, logo após conhecê-lo, depositou grandes esperanças.
Em pouco tempo de estudos, o progresso realizado com Wieck e a forte impressão que lhe causou um recital de Paganini (1830) mergulharam o jovem em uma nova dúvida: ser artista ou advogado? " Minha vida tem sido uma luta entre a poesia e a prosa, ou, se quiseres, entre a música e o direito. Agora estou em uma encruzilhada e a questão ‘para onde ir’me assusta".Essas palavras foram endereçadas à mãe, deixando-a muito preocupada com a possibilidade de o filho abandonar a faculdade. Consultado pela mãe, Wieck disse-lhe:
"Comprometo-me, minha senhora, a fazer de seu filho Robert, em menos de três anos, graças ao talento e à imaginação que ele tem, um dos maiores pianistas vivos, mais espiritual e ardoroso que Mocheles, mais magnífico que Hummel."
Diante estas palavras, sua mãe permitiu que ele optasse pela música. Nos meses seguintes, surgiram as primeiras obras primas de Schumann: Variações sobre o Nome Abbeg, Papillons. No estudo de piano, seu progresso era enorme; seria um virtuose. No entanto, um drama profundo o aguardava.
Para desenvolver sua técnica pianística, Schumann teve a infeliz idéia de imobilizar o dedo médio da mão direita com o uso de uma ligadura, a fim de tornar independente o dedo anular. Foi um desastre: na primavera de 1832, o dedo imobilizado se tornou paralítico para sempre. De médico em médico, de charlatão em charlatão, o compositor, dois anos depois, ainda procurava solucionar o problema. De nada adiantaram seus esforços. A história da música, no entanto, saiu ganhando: morrendo o intérprete, só lhe restava a via da criação.
Desfeito o seu sonho de ser pianista, Schumann voltou-se para a composição e à crítica musical. Em 1834 escreveu sua obra prima para o piano Carnaval , Opus 9 e os Estudos Sinfônicos ,Opus 13. Como crítico musical, fundou um jornal ,A Nova Gazeta Musical, cujo primeiro número foi publicado em 1834. Seus redatores (Schumann - diretor e mais assíduo colaborador - Wieck, Schuncke, Lyser, Hiller, Mendelssohn, Wagner) formavam a Associação dos Amigos de David .Escrevendo sob pseudônimos, os Davidsbündler (Companheiros de David) investiam contra os reacionários "filisteus", que barravam novos talentos musicais, como Chopin e Mendelssohn. As múltiplas facetas do compositor apareciam na revista sob os nome de Florestan, o impetuoso, e Eusebius, o tranqüilo.
Durante dez anos, Schumann dedicou parte importante de seu tempo à tarefa ambiciosa de dirigir a atenção do público para a verdadeira obra de arte, lutando contra o esclerosamento e o pedantismo da crítica vigente.
Schumann conheceu Clara Wieck muito antes de se apaixonar pôr ela. Em 1828, quando Clara tinha apenas nove anos e já era uma notável pianista, Schumann teve o primeiro contato com sua família. Em 1830, quando optou pela música, Schumann foi morar na casa dos Wieck e o seu contato com Clara, então com onze anos, tornou-se cotidiano.
Em abril de 1835, contando dezesseis anos, Clara retornava de Paris, após uma de suas inúmeras excursões como pianista. Mais tarde, em carta à própria Clara, o compositor relataria o que sentiu quando foi recebê-la: "Você me pareceu mais crescida, mas estranha.Já não era mais uma criança com a qual eu pudesse rir e brincar; você dizia coisas sensatas e vi brilhar em seus olhos um secreto e profundo raio de amor".O que se seguiu foi uma forte ligação, que cresceu pôr toda a vida.
O amor entre Robert e Clara despontava definitivamente. Ele tinha 25 anos; ela, apenas dezesseis. Todavia, Friedrich Wieck, certamente guiado pelo egoísmo próprio de um pai de uma criança prodígio, opôs-se logo desde o início ao romance entre sua filha e seu melhor aluno.Wieck de forma alguma admitia que sua filha se casasse, tivesse filhos, fosse uma mulher comum. Para ele, Clara era um gênio musical, uma criatura fora dos padrões de normalidade burguesa, que feneceria se tivesse que viver com qualquer um. Por isso, passou ao ataque: mandou Clara para Dresden e proibiu-a de se comunicar com compositor, fosse de que maneira fosse. Programou um maior número de apresentações para a filha, sempre fora de Leipzig. Como se não bastasse, chegou a espalhar calúnias sobre o compositor: bêbado inveterado, homem volúvel com as mulheres, vagabundo incurável, filho de uma família mentalmente insana, e outros ‘elogios’deste tipo.
O conflito durou quatro longos anos, culminando com uma demanda judicial, em que Schumann solicitava às autoridades permissão para o casamento, não obstante a oposição do pai da noiva. Finalmente, o compositor ganhou a causa e, a 12 de setembro de 1840, casou-se com Clara. Apesar de todo o desgaste que o conflito com Wieck lhe causava, Schumann não deixava de lado o trabalho criativo. Destes anos conturbados são suas obras: Cenas Infantis, Arabesques, Novellettes, Carnaval de Viena, Blümenstück, os lieder dos ciclos Myrthen, Liederkreis, Frauenlibe und Leben e Dichterliebe, além de dezenas de outras canções.
Depois de casados, a ligação entre Clara e Robert manteve-se intensa e profunda. Oito filhos e todos os problemas de uma família normal não impediram que os dois trabalhassem
ativamente: ele compondo e ela se apresentando nos principais centros europeus. Devido a sua carreira de concertista, Clara gozava de muito maior renome do que ele. Tratado muitas vezes como "marido de Clara Wieck", isso chegou a lhe causar um certo abalo, mas nunca a ponto de prejudicar seu relacionamento com a esposa.
Como compositor, os anos seguintes da carreira de Schumann foram marcados por seu interesse em dominar outros gêneros que não o pianístico. Estimulado pôr Clara, Liszt e outros amigos, criou várias partituras camerísticas, uma ópera (Genoveva), a música incidental para o Manfredo, de Byron, e para o Fausto, de Goethe, além de três sinfonias , o Concerto para Piano e Orquestra em lá Menor, e o Concerto para Violoncelo e Orquestra, entre outras obras.
Seu ritmo de trabalho, normalmente muito intenso, às vezes tornava-se frenético. Disso resultariam algumas crises nervosas muito sérias, como ocorreu no início de 1843, em julho de 1844 e em 1847. Mas estas crises não seriam senão o prelúdio de algo mais grave: a loucura que marcaria seus últimos anos.
Em 1851, ocupando o cargo de diretor de orquestra em Düsseldorf, Schumann teve graves problemas com os músicos, devido a sua estabilidade emocional. Em 1853, começa a ter alucinações auditivas, ouvindo incessantemente a nota "lá"; a isso juntavam-se a dificuldade de fala e a melancolia.
No início do ano seguinte, as alucinações tornam-se cada vez mais freqüentes e, nos momentos de lucidez, é tomado pelo temor de se tornar completamente louco. A obsedante nota "lá"se transforma em música, música descrita pôr Schumann como "a mais maravilhosa e executada pôr instrumentos que ressoam tão esplendidamente como jamais se ouviu".
Atormentado e insone, na noite de 17 de fevereiro de 1854, levanta-se repentinamente de sua cama para escrever um tema ditado por anjos que via ao seu redor. Mas, aos poucos, essas figuras celestiais se transformam em demônios em forma de hiena e de tigre. E essas novas visões são acompanhadas de uma música tenebrosa e assustadora. Pede então para ser internado num asilo de alienados. Poucos dias depois, a 27 de fevereiro, tenta o suicídio, atirando-se às águas do rio Reno. Salvo por barqueiros, é conduzido ao asilo de Endenich, próximo de Bonn.
Os pesquisadores Eliot Slater, Alfred Meyer e Eric Sams afirmam que a demência de Schumann seria decorrente de uma mal curada sífilis terciária, que o próprio compositor admitiu ter contraído em seus anos de juventude.
De Endenich, Schumann jamais sairia. Proibido de encontrar a esposa, recebe freqüentemente a visita de amigos. Para Clara, envia cartas que testemunham o seu amor até o fim: "Oh! se eu pudesse te rever, falar-te mais uma vez". A 23 de julho de 1856, cessa toda a alimentação. Chamada às pressas, Clara testemunha seus últimos momentos de consciência: "Ele me sorriu e com grande esforço me enlaçou em seus braços.Eu não trocaria esse abraço por todos os tesouros do mundo".
Franz Liszt
Ferenc (ou Franz) Liszt nasceu em Raiding, Hungria, na noite de 21 para 22 de outubro de 1811, ano marcado pela passagem de um cometa...Seu pai, Adam Liszt, era descendente de antiga e nobre família húngara, embora sem fortuna. Apesar de saber tocar piano, violino e flauta, sobrevivia como administrador da propriedade rural do Príncipe Miklós Esterházy, na qual, durante o século XVIII trabalhara Joseph Haydn.
Sua mãe era uma austríaca, Anna Lager, cantora pôr profissão. Um ano após o casamento, nascia Franz, primeiro e único filho do casal; louro e de grandes olhos azuis, uma bela criança.
Muito sensível, já aos seis anos era capaz de reproduzir com perfeição os temas que ouvia seu pai tocar ao piano. Tal proeza levou Adam Liszt a fazer do filho um pianista, encarregando-se, ele próprio de dar-lhe aulas. O aprendizado do pequeno Franz foi surpreendente: aos oito anos começou a compor e aos nove se apresentou pela primeira vez, em uma cidade vizinha, executando um concerto de Ries. Após este sucesso, surgiram novas oportunidades em outras cidades. Franz Liszt iniciara sua carreira de pianista.
Encantados com a criança prodígio, nobres húngaros lhe ofereceram uma bolsa de estudos, que permitiu a Liszt fazer estudos sérios e completos. A família mudou-se para Viena, onde o menino pôde se aperfeiçoar em piano com Czerny, e em composição com Salieri.
Em 1822 apresentou-se pela primeira vez para o público vienense e levou a platéia ao delírio com seu virtuosismo. Sucesso absoluto de público e de crítica: Liszt, aos doze anos, já era um ídolo.
Em 1823 partiu para uma longa série de concertos pela Alemanha e França. Em 1824 estreou em Paris, obtendo, como sempre, sucesso estrondoso. Recusada a sua entrada no Conservatório de Paris, pôr ser estrangeiro, recebeu aulas particulares de composição dos mestres Anton Reicha e Ferdinando Paer. O famoso construtor de pianos Sebastien Érard contratou-o para divulgar seus novos modelos.
As viagens prosseguiam quase sempre sem interrupção, sendo sempre aclamado pelo público. Exausto, sofreu em 1827 uma depressão nervosa e passou pôr uma crise de misticismo, que o levaria, anos mais tarde, a entrar para a Ordem dos Franciscanos, como abade. Com a morte de seu pai, neste mesmo ano, e a necessidade de assumir os encargos de chefe de família, trouxeram-no de volta à realidade, passando então a lecionar música para as damas da alta aristocracia parisiense. Apaixona-se, aos dezessete anos, pôr uma de suas alunas,Caroline de Saint-Cricq, jovem como ele. Foi seu único insucesso amoroso. Apesar de se amarem, o pai da garota, ministro do Rei Carlos X, tinha projetos de casamento muito mas ambiciosos para a filha.
Melancólico e deprimido, o compositor adoeceu e entrou em nova crise de misticismo, ao mesmo tempo que se voltou freneticamente para a leitura de Dante, Voltaire, Vitor Hugo e outros clássicos.
Afastando-se do misticismo, o músico passou a se envolver na agitação política que ocorre na França, participando de reuniões intelectuais, interessando-se pôr uma sociedade igualitária, na qual o músico e o artista em geral teriam posição de destaque. Impelido pôr seus ideais, Liszt fundou, em 1834, juntamente com Chopin e Berlioz, a Gazeta Musical de Paris, órgão de imprensa destinado a defender os direitos do artista e a esclarecer a opinião pública sobre a função da arte na sociedade.
Em 1833 conheceu a condessa Marie d’Agould, que exerceria papel importante em sua vida. Ela, já casada e com três filhos, fizera um casamento de conveniência. Vinte e oito anos - seis anos mais velha que ele - culta, bela, independente e rica, tal era Marie quando Liszt a conheceu. Ele, virtuose consagrado, também culto, uma personalidade atraente. Em 1835, Marie abandonou o marido e os dois amantes foram viver na Suíça.
Afastado temporariamente da carreira de concertista, vivendo tranqüilamente na Suíça ao lado de Marie, Liszt dedicou-se inteiramente à composição. Neste período dedicou-se também à divulgação de obras de outros compositores. Aqui reside um dos grandes méritos de Liszt :admirar o gênio no outro e trabalhar pelo seu reconhecimento pôr parte do público. Trabalhou no Conservatório de Genebra. Seus alunos compunham-se de 28 mulheres e 5 homens.
De sua união com Marie nasceram os três filhos de Liszt: Blandine, Cosima - que se casaria com o regente Von Bülow, abandonando-o, depois, para viver com Wagner - e Daniel. Logo após o nascimento do último filho, as relações entre o casal começaram a se deteriorar e o rompimento tornou-se inevitável, efetivando-se no final de 1839. Marie regressou com os filhos para Paris e Liszt voltou a vida errante de concertista. Nos oito anos seguintes, deu recitais e concertos pôr toda a Europa. Estava no auge da fama, sendo considerado o mais brilhante virtuose do momento. Entrava triunfalmente em cada cidade pôr onde passou, sentado em sua carruagem atrelada a seis cavalos brancos. Era o convidado de honra da alta aristocracia parisiense, que o solicitava como recitalista e professor de piano. Desta forma colocou o músico numa posição de destaque dentro da hierarquia social - uma de suas metas como homem e artista.
Célebre, festejado, admirado, ganhava fortunas. Cortejado pelas mais belas mulheres da Europa, teve inúmeros casos amorosos. A presença feminina, aliás, foi uma constância na vida do compositor. E o "Don Juan da Música", tendo reconquistado a liberdade, entregou-se a ardentes aventuras amorosas. Mas não era feliz. A glória não o satisfazia e, desorientado e solitário, sentia a necessidade de uma relação amorosa sólida e estável. O equilíbrio só foi encontrado em 1847, aos 36 anos, quando conheceu a princesa polonesa Carolyne Sayn-Wittgenstein, seu último grande amor.
Casada, mas vivendo separada do marido, Carolyne, aos 28 anos, era culta e tinha a personalidade forte e independente. Embora não fosse bela, Liszt sentiu-se totalmente seduzido pôr esta figura de mulher aristocrática, inteligente e de grande vitalidade e que partilhava de suas idéias, tanto no plano religioso como no intelectual e artístico. Ao seu lado,Liszt viveu o período mais fértil como compositor.
Em 1848, Liszt transferiu-se para Weimar, onde exerceria as funções de mestre-de-capela e regente da corte. Vivendo no castelo da princesa Carolyne, que aguardava a anulação de seu casamento, dividia seu tempo entre a leitura, a regência e a composição. Transformaria esta cidade num dos principais centros musicais da Europa. Ali desenvolveu intensa atividade pela divulgação das obras de seus contemporâneos. Foi durante este período em Weimar que travou conhecimento com Richard Wagner, estabelecendo-se entre os dois uma sólida amizade. Foi graças a Liszt que Wagner teve suas primeiras óperas encenadas.
No plano doméstico, Liszt viu frustrada a sua tentativa de casamento com Carolyne, pois esta não conseguiu obter do Vaticano a anulação de seu casamento. E quando, em 1864, a princesa enviuvou, ambos já haviam renunciado ao projeto de casamento.
Em 1865, Liszt entra, finalmente para a Ordem dos Franciscanos, em Roma. Mas suas ordens menores não o impedem de levar a vida de sempre: compor, lecionar, tocar e reger, além de despertar paixões em corações femininos. Paris e Londres são as últimas cidades a aplaudi-lo.
Mas estas viagens cansam-no bastante. Já debilitado, contrariando as ordens de seu médico, vai a Bayreuth, em julho de 1886, para assistir à apresentação da ópera Tristão e Isolda de seu amigo Wagner, e presencia o triunfo do compositor. O esforço da viagem causa-lhe profundo esgotamento físico. A 31 de julho de 1886, alguns dias de completar 75 anos, já atacado pela pneumonia, Liszt entra em crise aguda de delírio e expira. Morre como viveu, voltado para a arte: antes de dar o último suspiro, balbucia o nome Tristão - uma das maiores criações do gênero humano.
A OBRA DE LISZT
O nome de Liszt ocupa lugar de destaque dentro da história da música como um inovador que foi. Romântico pôr excelência, rompeu com todos os cânones do Classicismo, estabelecendo novos padrões de estilo. Ao mesmo tempo, sua obra contém já os germes do cromatismo wagneriano, do impressionismo debussysta e de muitas tendências estéticas modernas. Sua meta foi encontrar uma linguagem própria, fazendo uma equilibrada e criativa síntese das principais conquistas de seus contemporâneos.
Liszt revolucionou a música de seu tempo. Quando se pensa no Liszt compositor, é sempre necessário lembrar, antes de tudo, que ele foi um virtuose do piano e que dominava completamente sua técnica. Liszt foi o primeiro músico a explorar todas as potencialidades do instrumento,atingindo dimensões orquestrais. Pode-se afirmar que Liszt se deve a moderna técnica do piano. Criou uma série de recursos técnicos: a utilização das sete oitavas (glissandos, escalas, harpejos, acordes), o que retundou na ampliação do espaço sonoro; a exploração de todos os matizes dos registros graves e dos agudos; o enriquecimento da sonoridade, através da escrita em oitavas. Pôr outro lado, a tendência orquestral de Liszt levou-o, também, a utilizar rápidas sucessões de notas; abundância de trinados em terças e sextas; glissandos em notas simples ou duplas; notas repetidas; pequenas apojaturas, trêmulos, grandes saltos de intervalo.
Além disso, Liszt aperfeiçoou a técnica pianística ao dar maior relevo à mão esquerda que em sua obra tem a mesma importância que a direita, sendo muitas vezes usada em passagens solo,com o emprego constante de mãos alternadas e cruzadas.
Principais obras para o piano:
Anos de Peregrinação, Estudos Trancendentais, Seis Estudos de Concerto, Sonata em Si Menor, Harmonias Poéticas e Religiosas, Seis Consolações, Valsa Mefisto, dois Concertos para Piano e orquestra, etc.
O tratamento que Liszt deu à orquestra não foi menos original que o recebido pelo piano.
Muito rica, como a maioria das instrumentações dos românticos, em Liszt a orquestração nunca é excessivamente pesada. Entre as principais inovações que caracterizam sua arte sinfônica, incluem-se o tratamento especial dado a cada instrumento, explorando-o em todas as possibilidades de timbre - grande ousadia para a época - o relevo dado à percussão, ao introduzir instrumentos com efeitos especiais, como o triângulo como instrumento solista (Concerto N. 1 para Piano e Orquestra); o uso inovador de glissandos na harpa, procedimento do qual os impressionistas tanto abusariam.
Mas, a maior contribuição de Liszt para a música de programa foi a fixação dos princípios estéticos do poema sinfônico como música de caráter mais psicológico do que descritivo.
Principais obras para a Orquestra:
Poemas Sinfônicos, Rapsódias Húngaras, Sinfonia Dante, Sinfonia Fausto
Richard Wagner
Sua música instrumental do tempo de mocidade é insignificante. Reconhecendo seu talento duplo, de músico e poeta, deixou de escrever óperas comuns para dedicar-se ao novo gênero que criara, o Drama Musical. Encontrou na crítica, no público e nas casa de ópera, as mais fortes resistências e envolveu-se em polêmicas, numa situação agravada pelo exílio por motivos políticos.
Poderia facilmente salvar-se, fazendo concessões ao gosto dominante, mas preferiu ficar fiel a si próprio. Como reverso dessa força de vontade, seu caráter era desagradavelmente egoísta e vingativo. Quando finalmente conseguiu vencer, mandou construir para suas últimas obras um teatro em Bayreuth.
Desde suas primeiras óperas (Rienzi, 1839; O Navio Fantasma, 1841; Tannhäuser, 1843 - 1845; Lohengrin, 1845 - 1848) que partem do romantismo de Weber e da tradição sinfônica de Beethoven, afastou-se da concepção italiana, renunciou aos floreios vocais, impôs uma ação musical contínua e intensificou a participação orquestral, além de valorizar a importância do libreto como fundamento do drama lírico. Wagner aboliu toda a estrutura a ópera tradicional, com suas árias, duetos, etc., substituindo-a por uma seqüência dramática de cenas totalmente postas em música (durchkomponiert). Em vez de melodias, criou a melodia permanente, com base na orquestra. Escolheu, como enredos, temas de lendas medievais ou da mitologia germânica, pondo-as a serviço de suas idéias filosóficas, religiosas e políticas.
Proscrito de seu país por sua participação na revolução de 1848 em Dresden, onde era regente da corte, viajou, residiu em Zurique, em Veneza, em Paris, e redigiu suas teorias sobre a arte (A Obra de Arte do Futuro, 1850; Ópera e Drama, 1851), colocando-as paralelamente na tetralogia O Anel dos Nibelungos (1852-1874), Tristão e Isolda (1859) e Os Mestres Cantores de Nuremberg (1862-1867).
Seu encontro com Luís II da Baviera foi decisivo para a construção de um teatro, destinado às apresentações de suas próprias obras, que foi construído em Bayreuth (1872-1876). Nesta época, casa-se com Cosima, filha de Liszt. Parsifal (1877-1882) foi sua última realização dramática.
Adepto de um teatro místico, simbólico, chegou a uma fusão estreita entre texto e música, a unidade temática criada pelo leitmotiv e pela união bem-sucedida entre vozes e instrumentos. O cromatismo de Tristão e Isolda é o ponto de partida da música do século XX, influenciando compositores como R. Strauss, G. Mahler, C. Debussy e A. Schoenberg, que partiu das inovações wagnerianas para desenvolver a música dodecafônica.
Johannes Brahms
Johannes Brahms nasceu a 7 de maio de 1833, em Hamburgo. Seu pai, contrabaixista de uma pequena orquestra de um restaurante elegante de Hamburgo, deu-lhe as primeiras lições de música aos cinco anos de idade. Quando contava sete anos, seu pai providenciou para que o garoto tomasse aulas com Otto Cossel, pianista. Cossel revelou-lhe a música de Bach e, em pouco tempo, Brahms já era capaz de tocar violino, violoncelo e trompa, além de piano, e já podia acompanhar o pai nos bailes e tavernas de Hamburgo.
Quando Brahms contava 10 anos, Cossel aconselhou o pai a enviá-lo ao professor Marxsen, excelente mestre de piano e teoria musical. Marxsen era um professor severo, mas dotado de um espírito aberto, deixando o aluno desenvolver seu talento criativo. Anos mais tarde, Brahms dedicaria ao mestre, em reconhecimento, uma de suas obras primas, o Concerto N. 2 para piano e orquestra, Opus 83.
Em 1853 inicia uma série de recitais, acompanhando o violinista húngaro Eduard Reménye, de quem se tornou grande amigo. Este ano foi decisivo em sua carreira, onde ele pôde conhecer outros centros culturais e personalidades do meio musical: o violinista Joseph Joachim, Liszt e Schumann.
Tornou-se diretor dos concertos na corte do príncipe de Lippe-Detmold, depois regente do coro de Hamburgo (1859), antes de fixar-se em Viena (1862), onde foi diretor do Singverein der Gesellschaft der Musikfreund (1872-1875).
A partir de 1863, Brahms passa a residir em Viena, onde permanece até o final de seus dias. Começa, então, o período mais fértil da carreira do compositor. Ali, Brahms escreve obras de extraordinária importância. Concluída sua Primeira Sinfonia, Brahms ganharia o aplauso do famoso Maestro Von Bülow, que se transformou no mais ardente defensor de sua obra.
Com o passar dos anos, Brahms torna-se cada vez mais introspectivo e taciturno. A solidão lhe era algo indispensável, seu único desejo era ter a tranqüilidade necessária para compor. Jamais se casou, sua vida cotidiana era simples; ele mesmo preparava o café da manhã, fazia as refeições em restaurantes populares e viajava sempre na terceira classe. Em 1878 deixa crescer sua famosa barba. Em 1881 passa uma temporada no balneário de Bad Ischl, procurando melhorar as condições de seu fígado e conclui seu Concerto N.2 para Piano e Orquestra, dedicado ao antigo mestre e amigo Marxsen.
Ao chegar à velhice, Brahms continuava viajando muito, compondo e, artista consagrado, recebendo inúmeras distinções oficiais. Seus últimos dias transcorreram tranqüilos, cercado apenas por poucos amigos fiéis. Seu fígado piora e a verdadeira natureza da enfermidade vem à luz: câncer. No dia 4 de março de 1897, levado pelos amigos, assiste a uma audição de sua Quarta Sinfonia e vê o público aplaudi-lo freneticamente. Foi seu último sucesso em vida. Pouco depois, já cansado e doente, morre no dia 3 de abril do mesmo ano.
Herdeiro de Beethoven, Brahms oferece em sua obra a síntese perfeita do romantismo e do classicismo. Não desprezou o canto popular húngaro, que incorporou a uma poesia tipicamente nórdica e suntuosa. Pianista virtuose, Brahms compôs muito para o seu instrumento ( sonatas, variações, baladas, intermezzos, rapsódias, valsas, danças húngaras).
Muito rica, sua música de câmara compreende sonatas para violino e piano, violoncelo e piano, clarineta e piano, trios, quartetos, quintetos e sextetos. Para a orquestra, compôs Variações para um Tema de Haydn, quatro sinfonias (1876, 1877, 1883, 1885), duas aberturas, dois concertos para piano, um concerto para violino, um concerto para violino e violoncelo. Seus Lieder inscrevem-se na tradição germânica, assim como sua música de inspiração sacra ( Réquiem Alemão, 1857-1868).
Piotr ilitch Tchaikovsky
Tchaikovsky nasceu no dia 7 de maio de 1840, filho do engenheiro Ilya Petrovitch Tchaikovsky e Alexandra Andreivna d'Assier. Da infância do compositor, sabe-se que bem cedo revelou dotes musicais.
Em 1848, a família mudou-se para Moscou, onde o compositor passou a ter aulas de piano com Filipov; em pouco mais de um ano, seu progresso foi notável.
Dois anos depois, a família mudou-se para Alapiev, onde o pai do compositor dirigiu uma usina siderúrgica. Neste ano, seus pais decidiram que ele deveria ser advogado. A adolescência do compositor transcorreu entre os estudos dos cursos preparatórios da Escola de Direito de São Petersburgo (correspondentes ao colegial) e os estudos de piano com seu novo professor, Kundiger.
Em 1859, Tchaikovsky concluiu os estudos jurídicos e passou a trabalhar no Ministério da Justiça. Em 1862 ingressou no recém fundado Conservatório de São Petersburgo, a primeira escola oficial de música na Rússia, onde estudou composição, piano, flauta e noções de órgão. Meses depois toma a decisão de abandonar seu emprego no Ministério da Justiça, dedicando-se inteiramente à música. A partir de então, Tchaikovsky passou por um período de dificuldades e pobreza, dando algumas aulas, acompanhando cantores medíocres ao piano e fazendo cópias de partituras. Em 1865 concluiu seu curso no Conservatório.
Outros tempos estavam para se iniciar em sua vida. O Conservatório de São Petersburgo estava com excesso de alunos, o que levou seu diretor, Anton Rubinstein, a fundar outra escola, em Moscou, no ano de 1866, Nicolai Rubinstein, seu irmão, ficou encarregado de organizar a nova escola e contratar os novos professores, muitos deles ex alunos da escola de São Petersburgo, entre eles Tchaikovsky.
O ano de 1868 foi marcado por seus primeiros contatos com o Grupo dos Cinco, após enviar um protesto à revista Entreato, por esta ter criticado a música de Rimsky-Korsakov. Tchaikovsky era admirador da música de Rimsky-Korsakov, um dos Cinco, e seu protesto sensibilizou os demais membros do grupo, que o convidaram a visitá-los em São Petersburgo. Esse fato, porém, não fez dele um novo integrante do grupo; o compositor não admirava especialmente a música do grupo, e os outro quatro consideravam a música de Tchaikovsky demasiadamente ocidental.
Os anos seguintes da carreira de Tchaikovsky foram marcados pelo crescente sucesso como compositor e regente. Suas obras deste período são: a Fantasia-Abertura Romeu e Julieta (1870), o Quarteto de Cordas N.1 (1871), o Concerto N.1 para Piano e Orquestra (1874), o balé O Lago dos Cisnes (1876), o Concerto para Violino (1878), o Capricho Italiano (1879), a Abertura 1812 (1880).
No plano pessoal, o último terço de sua vida foi marcado pela estranha ligação que manteve com Nadejda von Meck, viúva de Karl-Georg-Otto von Meck, rico proprietário das duas primeiras ferrovias russas. Admiradora da música de Tchaikovsky, tornou-se sua protetora no ano de 1876, fornecendo-lhe uma subvenção que lhe permitia viver sem problemas materiais. A única condição estabelecida foi que os dois jamais deveriam se encontrar, comunicando-se apenas por carta. A relação durou até 1890, só terminando devido a intrigas engendradas pelo violinista Pakhulski, um dos membros do círculo de Nadejda. Ajudado por outros, Pakhulski acabou convencendo-a de que Tchaikovsky era apenas um aproveitador. O compositor ficou muito abalado, não pelos aspectos materiais, já que na época estava no auge da fama e ganhava muito dinheiro, mas pelo significado afetivo. Profundamente chocado, Tchaikovsky refugia-se na música e nas viagens.
A 22 de outubro de 1893, alguns dias após a primeira audição da Sexta Sinfonia (Patética),o compositor, bebendo água não fervida, é contaminado prla epidemia de cólera que atingia São Petersburgo, falecendo no dia 25 do mesmo mês.Tchaikovsky compôs peças para o piano, música de câmara, seis sinfonias, aberturas-fantasia (Romeu e Julieta, 1870), balés ( O Lago dos Cisnes, 1876; A Bela Adormecida, 1890; O Quebra Nozes, 1892), três concertos para piano ( N.1, 1875), um concerto para violino (1877), e Variações sobre um tema Rococó, para violoncelo e orquestra (1876). Além de canções, escreveu dez óperas, entre as quais Eugene Oneguin (1879) e A Dama de Espadas (1890), as duas inspiradas em Púchkin. Influenciado pela música ocidental, Tchaikovsky se situou à margem do nacionalismo russo encarnado pelo Grupo dos Cinco. A orquestração brilhante, a melodia comunicativa e a intensidade dramática marcam toda a sua produção, popular em todo o mundo.